• Percival Puggina
  • 27/07/2015
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FAMÍLIA - PERDEU-SE UM TESOURO?

(Publicado originalmente na revista Voto)


 É provável que só com ler o título deste artigo alguém já me esteja admoestando mentalmente: "Olha que Estado é laico!". Como se eu não soubesse! Tal advertência, tantas vezes lida e ouvida, tem por finalidade silenciar qualquer opinião que, objetiva ou subjetivamente, mantenha relação com alguma orientação religiosa cristã. Isso leva ao seguinte disparate: o ateu, o comunista, o materialista, o maria-vai-com-as-outras, o iletrado e o doutor, podem falar sobre quaisquer assunto, especialmente sobre moral e valores. Admitem-se, inclusive, com reverências e como referências, posições das mais diferentes culturas, da txucarramãe à budista. Calem-se, contudo, os que pretendam dizer algo que guarde relação com a tradição judaico-cristã, fundadora, com a filosofia grega e o direito romano, da civilização ocidental.

O tema "família" sempre foi conteúdo importante nas posições filosóficas e ideológicas. Os totalitarismos investem contra a instituição familiar dado seu notável efeito na transmissão dos valores através das gerações. Procuram afastar os filhos dos pais, entregando-os pelo maior tempo possível às orientações do Estado. Incentivam os jovens a delatar os genitores por posições ou atividades contra o Estado. Engels, em "A origem da família, da propriedade e do Estado", vai na esteira aberta por Marx que pretendeu ter diagnosticado a família - mais do que a propriedade - como origem da desigualdade. Fabulou ele que, no microcosmo da família, o pai opressor desempenhava papel análogo ao do capitalista em relação ao proletário. Ali habitava a matriz das desigualdades a ser combatida por aqueles que consideram toda desigualdade como um mal em si mesmo - o que, aliás, é absolutamente falso.

Convém lembrar, de outra parte, que não apenas os coletivismos e os totalitarismos investem contra a instituição familiar. Também os defensores do individualismo exarcebado, anarco-individualistas, a atacam, embora por outra frente. Consideram que a família, por se constituir em um "coletivo" a influenciar fortemente os indivíduos, acaba opondo obstáculos à liberdade de cada um. Portanto, em benefício da liberdade de todos, é preciso reduzir a força desses vínculos internos. É preciso abri-la. E então, surpresa! Estes últimos, que desconsideram a dimensão social da pessoa humana, acabaram sendo mais eficazes na erosão da instituição familiar do que os próprios marxistas. Entende-se. Os marxistas se acasalaram com um sistema econômico inviável e o fracasso econômico acabou desacreditando seu arcabouço filosófico. Restou apenas a mentalidade totalitária como participante do jogo político.

A ideologia de gênero, tão em voga, assedia o mesmo inimigo comum, ou seja, a instituição familiar. Em nome do coletivismo e do igualitarismo, desconhece o sexo com que se nasce para fazer, do gênero, objeto de uma construção. Não havendo sexo, extinguir-se-ia a diferença e se instauraria a igualdade. Convencer as crianças disso, é proclamado indispensável à "desnaturalização dos papéis de gênero e sexualidade". Pelo viés oposto, a ideologia de gênero, em nome do individualismo anárquico, faz dessa "pedagogia" uma educação para a liberdade.

Não é difícil perceber o que vai acontecer com a família à medida em que forem prosperando os ataques ao seu sentido natural, à sua finalidade essencial, e sendo adelgaçados, por vários modos e motivos, os vínculos entre seus membros. Combater a instituição familiar é atentar contra a humanidade e a liberdade. A família é essência do espaço privado, grupo humano em relação ao qual o Estado só deve agir para proteger e onde não deve entrar sem expressa e muito bem justificada determinação judicial. Ela é o porto seguro, escola do amor afetivo e efetivo, do serviço mútuo, do sacrifício pelo bem do outro, do martírio e do êxtase. Onde mais se haverá de prover tudo isso, geração após geração?

Alguém dirá que o parágrafo acima é ficcional. Que não se pode tomar a exceção por regra. Admitamos. Admitamos que o descrito é exceção e que a regra, agora, é outra. Perdeu-se, então, um tesouro.

* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões, e a Tomada do Brasil (no prelo).

 


Gustavo Pereira dos Santos -   29/07/2015 08:20:19

Prezado Sergio Alcantara da histórica Canguçu, peço que envie uma mensagem para gusravopsluz@yahoo.com.br. com a palavra TESTE. Obrigado.

Sérgio Alcântara, Canguçu RS -   28/07/2015 16:55:37

Atualmente, vivemos sob o jugo da forma autoritária de pensar e agir no eixo filosófico, ideológico e político representado por esses "queridinhos" do petismo, que descrevo cronologicamente abaixo: Maquiavel - Rousseau (o iluminista bom selvagem) - Marx - Lenin e/ou Gramsci - Freire (aqui no Brasil) O resultado não poderia ser diferente do brilhantemente exposto pelo Professor Puggina.

Danilo -   28/07/2015 03:24:36

A família não é opressora, ao contrário... é libertadora. Afinal, se não somos todos totalitários, com um pensamento uniforme, moldado única e exclusivamente pelas instituições do Estado, é porque (a grande maioria) tivemos uma família, pai, mãe e avós que fizeram o possível para nos ensinar e transmitir seus valores individuais, tornando-nos indivíduos singulares, como eles também foram. Dizendo de outra forma... temos liberdade para educar nossos filhos, de contestarmos a versão oficial da imprensa e estado, caso estejamos conscientes e atentos. E é por isso que não perdoarão a família jamais. Os comunistas e totalitários de todo tipo (comunista e totalitárioestatólatra é uma redundância) sabem que a família é um empecilho natural a seus objetivos de concentração de poder. Não pode haver diversidade de opinião, não pode ter crianças criadas fora da linha oficial... logo não pode haver família. É a última linha de defesa do indivíduo, o último lugar onde ele pode preservar sua individualidade, e passar adiante para aqueles que ama de uma forma natural. A família não é uma instituição para opressão, com um sentido meramente patrimonial... é simplesmente a natureza de nossa espécie aliada à racionalidade. Quem tem responsabilidade pelas crianças que nascem? logicamente os pais... logo cabe aos pais se responsabilizarem pela sua criação e educação, e cabe a existência de um arcabouço jurídico que envolva e regulamente a relação marido-mulher-filhos. Não é possível nascer uma criança senão da união de um homem e uma mulher, e é por isso que a instituição família tradicional tem essa composição. Não é algo arbitrário. Sabendo disso, tentam minar suas bases, descaracterizando-a, por diversas vias. Como dizem por aí, hoje em dia qualquer orgia é considerado família, porque o conceito fugiu de seu sentido original. A modernidade tem redefinindo o significado do termo, deturpando-o. Gregos e Romanos, de Sócrates a varios outros... tinham relacionamentos homossexuais. E sabiam ao mesmo tempo que isso era algo totalmente diferente de suas famílias. Família originalmente era pra regular a reprodução, e responsabilizar os pais pelos filhos, dando origem à instituição jurídica original. Hoje este conceito tem se esvaziado. É um contra-senso admirável.

Genaro Faria -   28/07/2015 03:07:48

Antes da "Mãe do PAC" , muito antes dela, havia a Mãe do Ano. As contempladas eram mães de família normalmente numerosas, às vezes acrescidas de filhos adotivos, e o prêmio era um estímulo à constituição de famílias assim. E aquelas que o recebiam eram sempre pessoas piedosas e de inquestionáveis qualidades morais. Pois bem, quando a animadora de programas infantis exibidos à tarde pela "babá eletrônica" era a Xuxa, o país foi afrontado com uma aberração da TV Globo. Xuxa declarou que faria uma "produção independente" com um jovem esbelto e "bem resolvido" na vida. E cumpriu a promessa. Pois não foi que a Globo a elegeu "a mãe do ano"? Hoje a "produção" já é moça e a "babá" não mais anima nem festinha de aniversário de criança. Por aí se vê que o ataque à instituição da família é coisa antiga. E patrocinada pelos veículos de comunicação de massa, que estão apinhados de marxistas e anarquistas.

Sérgio Alcântara, Canguçu RS -   27/07/2015 23:47:55

Como professor e cidadão, sempre tive "uma pulga atrás da orelha" em relação a tal escola de turno integral, apregoada desde os tempos de Leonel Brizola, que agora estão querendo implementar, sem nenhuma forma concreta de discussão com a sociedade. Para mim, inda mais do jeito que os estabelecimentos (em especial os públicos) de ensino estão (e vão continuar) sucateados, tanto na estrutura física como organizacional, trata-se apenas de mais uma investida anti-família e pró-totalitarismo estatal. Com o conhecimento de alguém que vive diariamente a realidade nua e crua da escola pública brasileira, suas reais demandas e sua inegável sujeição aos caprichos de seus atuais mentores e mantenedores, não é difícil, para mim, fazer uma previsão do que pode "rolar" nesse processo de "educação total". Sobre isto, gostaria que a bandeira em defesa dos valores tradicionais da família fosse uma das principais empunhadas nas promissoras manifestações do próximo dia 16.

Gustavo Pereira dos Santos -   27/07/2015 23:39:53

Tenho 65 anos e não sei meu sexo. Vou perguntar pro Marx e pro Marcuse. Ih! estão mortos. Sobrou o Jean Willys a Maria do Rosário e o Moisés Mendes para tirar a minha dúvida cruel.

Ricardo Moriya Soares -   27/07/2015 23:19:19

Plagiarei momentaneamente Niall Ferguson, o grande polemista da história moderna, que brilhantemente definiu Marx como um dos seres humanos mais desprezíveis dos últimos 500 anos; um subproduto de uma geração mimada e irrelevante - cujo apelo pseudo-científico somente vingou no coração do terceiro mundo. O Ocidente pariu o mundo contemporâneo graças à vitalidade do cristianismo como força motriz, juntamente com o tênue equilíbrio de forças entre potências europeias, que buscando mercados e alianças variadas, estimularam o nascimento do capitalismo moderno, da competição ultranacional. A família tradicional sempre foi a matriz inquebrantável que tornou este equilíbrio entre estados possível; ela emigrou para lugares inexplorados, forneceu soldados e sacerdotes aos mais diversos príncipes (bons ou péssimos monarcas), e labutou a terra incansavelmente, com fé e esperança em dias melhores. Toda a plataforma comunista, desde antes dos delírios de Marx, se baseava na premissa de que a célula familiar tradicional (pai, mãe e filhos) precisava ser destruída por completo - criando assim perfeitos proletários, desde a mais tenra idade (a imagem de crianças cambojianas dedurando e executando seus pais me vem à cabeça!). Já existe uma nação que alcançou o último estágio previsto por Marx, e se chama Coréia do Norte. Neste país prisão, a máxima utopia proletária foi atingida: todos são iguais na mais absoluta miséria, com a exceção do Grande Líder Timoneiro e seus burocratas orwellianos. Os mesmos campos de extermínio, paisagem comum nesse inferno operário (que estranhamente tem a palavra 'república democrática' no meio de seu nome - assim como a antiga Alemanha Oriental!) são, por tabela, o objetivo estabelecido pelo PCdoB para a reeducação da classe média brasileira até 2030... E se algum estudante lobotomizado duvidar de minhas palavras, que leia por completo a plataforma real do Partido Comunista - ela é uma só, tanto aqui no Brasil quanto na Dinamarca!