Percival Puggina
As características mais comuns das ditaduras, ou seja, de países não democráticos, são: o controle das opiniões, a censura e o desprezo ou desdém às manifestações populares. A simples ocorrência periódica de eleições não caracteriza uma democracia! Eleições acontecem em países muito mencionados nos últimos meses – Cuba, Venezuela e na Nicarágua. Mas são feitas daquele jeito que você sabe.
Com isso, estou afirmando que patrulhamento das opiniões, imposição de multas, aplicação de censura em diferentes graus, indo da ameaça à ação, do fechamento de perfis, páginas e canais à proibição de conteúdos, são atos antidemocráticos.
No começo deste ano, antes de que qualquer menção a urnas com impressoras passasse a suscitar reações vulcânicas, ocorriam pesquisas periódicas sobre confiabilidade desses aparelhos. Feitas a cada dois meses, as pesquisas mostravam resultados com pequenas variações. Mais de uma vez escrevi sobre elas. A de maio, feita pelo Datafolha, informava que 42% confiavam muito, 31% confiavam pouco, 24% não confiavam e 2% não sabiam. De modo espertalhão, para enganar bobos, os veículos da velha imprensa somavam “confiar muito” com “confiar pouco” e afirmavam que 73% aprovavam as urnas do jeitinho que eram. E o dado ia para o título da matéria reproduzida no site do TSE.
No entanto, se você disser a um funcionário que tem pouca confiança nele, o sujeito começará a procurar novo emprego porque esse é um seriíssimo sinal de desconfiança. A conclusão correta que se extrai daquelas pesquisas é que 55% dos eleitores não confiavam nas urnas, resultado da soma dos que não confiavam com os que confiavam pouco.
Com menos ameaças, intransigência e presunção, e com mais sensibilidade, prudência e empatia, não estaríamos vivendo as anomalias da hora atual. Contavam-se os votos em algumas urnas e estavam dirimidas as dúvidas. A pior consequência, porém, talvez seja o medo de que a experiência autoritária a que estamos submetidos se prolongue nos anos vindouros. É também este sentimento que leva as pessoas às ruas em todo o país.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Daniel Gonçalves Duarte - 09/11/2022 14:18:35
No momento eu sinto medo.PERCIVAL PUGGINA - 06/11/2022 18:37:10
Prezado Carlos Eduardo. Muito obrigado por tua contribuição a esse tema. Li a matéria que indicaste e ri muito, porque me parecia estar ouvindo algo sobre o livro do psiquiatra Dr. Lyle Rossiter, “The liberal Mind”, publicado no Brasil como “A mente esquerdista”, apenas invertendo a perspectiva para atacar a direita. É a mesma linha de raciocínio, e as mesmas expressões, com 16 anos de atraso em relação ao trabalho original do Dr. Lyle. Arre! Nossa esquerda não consegue ser original em nada.Carlos Eduardo - 06/11/2022 17:06:39
Caro Puggina, tenho acompanhado suas análises esclarecedoras. Recentemente encontrei uma materia (https://www.em.com.br/app/noticia/pensar/2022/10/21/interna_pensar,1409943/castro-rocha-brasil-e-laboratorio-de-criacao-de-realidade-paralela.shtml), e fiquei seriamente a pensar: será que me transformei em um criminoso? Em que realidade estamos vivendo? Se puder, futuramente, deixar-nos sua valiosa visão sobre o tema abordado na matéria, ficaria muito agradecido.