Percival Puggina
Conta-se que uma fábrica de facas reuniu seus executivos para estudar uma forma de se tornar mais competitiva. Era imperioso diminuir o custo de suas facas. No meio da reunião, um dos participantes, cogitando da hipótese de que o custo do cabo afetasse demasiadamente o custo da faca, perguntou: “Quanto custaria nossa faca, se fosse fabricada sem o cabo?”. Alguém da contabilidade fez as contas e concluiu que essa faca sem cabo custaria 80% da faca inteira. Um outro foi além: “E quanto custaria cada faca se a fizéssemos sem lâmina?”. Por curiosa que fosse a ideia de uma faca sem lâmina, a contabilidade fez os custos e informou que ela sairia por 60% de uma faca completa.
Por fim, a pergunta aparentemente mais delirante: “E se fizéssemos a faca sem lâmina e sem cabo, qual seria seu custo?” O chefe da contabilidade, calculadora em punho, informou, irritado, que aquela hipótese de faca, “essa coisa sem cabo e sem lâmina, custaria 40% da faca inteira”.
O diálogo serviu para mostrar a todos que os custos fixos, incluídos impostos e salários, inclusive o deles, chegava a 40% do preço da faca. Mesmo sem fazer nenhuma faca, ainda assim a fábrica tinha um gasto elevado. Se quisessem baixar o preço da faca teriam que reduzir as despesas da administração.
Isto é um aviso para todos nós e para o Brasil. Num processo de crescimento lento, ou recessivo, podem acontecer duas coisas e nenhuma é boa. Na primeira alternativa, os preços sobem porque os custos fixos têm que ser repartidos entre uma quantidade menor de produtos vendidos. Nós já tivemos isso: recessão e inflação. O que é uma loucura. Na segunda hipótese, o governo ou os cidadãos passam a importar de onde os produtos, sem inflação e sem recessão, custam menos. E aí a indústria nacional quebra.
O Estado brasileiro é uma fábrica de facas sem cabo e sem lâmina. Custa caríssimo para existir e sua entrega é desproporcional à sua despesa. O pouco que entrega é caro demais.
Por isso, as pessoas de bom senso insistem na necessidade de reforma administrativa para reduzir o tamanho do Estado e na redução do gasto público como forma de diminuir a carga tributária – sem dúvida o maior estímulo ao consumo e à produção. O baixo crescimento econômico é sinônimo de desemprego ou subemprego; sinônimo, também, de maior índice de pobreza, ou seja, de aumento do gasto público, situação em que uma faca, sem cabo e sem lâmina, na mão do Estado, corta nosso pescoço.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Paulo Antônio Tïetê da Silva - 10/11/2023 16:38:53
Parece absurdo, mas a sorte é dos brasileiros como eu, que já estão na gorjeta, tendo em vista a idade avançada. Temos sorte de não sermos obrigados a viver em um Pais que, pelo rumo atual, se transformará em uma nova Venezuela. Por oportuno, informo que pela idade e poquíssima visão, não tenho condições de escolher imagens, para provar que não sou um robô. Imagino que mais alguns de seus leitores devem ter o mesmo problema.Paulo Antônio Tïetê da Silva - 09/11/2023 18:51:56
Li uma notícia que o Brasil exportou muito mais do que importava. Aparentemente, parece bom. O Problema é que esmiuçando a notícia, é eslarecido que a maior queda nas importções foi de máquinas e equipamentos. Isto demonstra que a indústri nacional está se retraindo, não investindo e, certamente, ficará sucateada; isto é um grave problema. Aparentemente, estamos no mesmo rumo de um certo país da América Latina, que tem a segunda maior reserva de petróleo do mundo, mas não produz alimentos nem papél higiênico. Será que não tendo comida, este tipo de papel é dispensável?🤣Vitoria Silveira Leonardi - 08/11/2023 12:48:17
Indefectível!JOSIAS - 08/11/2023 12:47:44
Excelente reflexão, se de fato não mudar os políticos desta nação bem como trocarmos os magistrados por pessoas sérias e competentes, o Brasil permanecerá eternamente no FUNDO DO POÇO, tal qual os demais paises do terceiro mundo.Iolando Rodrigues Skrosk - 08/11/2023 11:45:23
Essa tem um custo fixo de 40%. Mas outras o numero é muito maior. Belissima aula. Os politicos deveriam ter uma aula a cada semestre com esse mestre.DANÚBIO EDON FRANCO - 07/11/2023 20:06:08
Por certo, a reforma administrativa é uma necessidade, mas quem a fará? Tivemos um governo anterior que se encaminhava para isso, ainda que não se tivesse certeza até onde iria. Agora, a verdade é outra. Arrisco dizer que sei aonde chegaremos - o fundo do poço (espero, para felicidades nossa, estar totalmente errado). Basta ver o que já aconteceu - multiplicaram-se os ministérios e diretorias, cuja finalidade foi acomodar a companheirada e aparelhar o Estado. Mas tem outra finalidade, cujos fins não são nobres: acordo com os partidos políticos, oferecendo-lhes cargos em troca de aprovação de seus esdrúxulos, mas proveitosos, projetos. Uma pequena, mas grave demonstração dessa conduta nociva, nos mostrou a primeira etapa do ENEM, em que o ódio ideológico e por isso burro, norteou a elaboração das questões, fazendo-se acusações infundadas a atividade agro-pecuária , que tem sido um esteio da economia brasileira. Podemos esperar que algo de bom venha dessa gente? Não creio, mas reafirmo, para o bem de todos, espero estar errado.MARCO ANTONIO GEIB - 07/11/2023 11:45:02
Mestre... estamos como diz o gaúcho: "nem mel, nem porongo". Expressão usada quando a erva-mate e o mel subiram de preço. O porongo é o mesmo que cuia e o mel era colocado no mate para as mulheres e crianças. Nós brasileiros, aparvalhados, sem nenhum sentimento de reação, assistimos os aumentos de imposto juros, inflação crescendo por todos os segmentos das economia. Além disso temos a "faca sem cabo e sem lâmina a roçar" nossos pescoços. Tudo fazendo parte do esquema montado pelos esquerdopatas e desgoverno para surrupiar o suado dinheiro público.Eloy Severo - 07/11/2023 10:40:17
Muito boa.Dario Vitório Sebben - 07/11/2023 10:18:39
Claro, simples e direto. O problema é fazer a massa trabalhadora entender e mudar o comportamento de submisso para ativo.RENATO L REGAUER - 06/11/2023 18:17:03
Perfeito!Nelson Mouriz - 06/11/2023 17:45:50
Ótimo retrato. Esse suponho até os ineptos desse governo ou ,todos tem condições de entender se e somente se ainda houver cérebro e alma a seria corpos . Parabéns meu caro ,vou com sua licença compartilhar.