• Percival Puggina
  • 02/03/2017
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ESTANCAR SANGRIA

 

 Na conversa gravada com Sérgio Machado, Jucá registrou a necessidade de um acordo para travar a Lava Jato como forma de "estancar a sangria". Esse era o nome que ele dava ao jorro de denúncias, delações, investigações e prisões que, à época, diariamente, inundavam o noticiário. Para os pichelingues do erário, as seis gongadas do cuco eletrônico marcavam a hora dos horrores. A qualquer momento a Polícia Federal poderia bater à porta. Dá para viver assim? Por isso, aqueles cavalheiros de punhos limpos e alma suja ansiavam e anseiam pelo fim da Lava Jato.
Para os feirantes nos negócios do Estado, nada pode ser mais prejudicial do que a atividade desenvolvida em Curitiba. Contra ela se mobilizam altíssimos escalões da República e poderosíssimos agentes econômicos, para os quais uma cifra de milhões é fração. Contra a Lava Jato, a peso de ouro, confabulam alguns dos mais astutos e argutos advogados do país. E o STF? Pois é, já vi tantos ministros deliberarem, como queiram, ora com olho na forma da lei maior e contra seu espírito, ora no espírito da lei maior e contra sua forma, que o somatório das incoerências me levou à absoluta desconfiança. Quem devolve às ruas uma pessoa como o goleiro Bruno, ou manda indenizar presos, está, minimamente, preocupado com o bem da sociedade? Não, o meliante Jucá, que precisa de uns poucos votos para ser senador na despovoada Roraima, talvez dê mais importância aos cidadãos. São duras estas palavras? São, sim, eu sei.

A sangria que precisamos estancar é outra! Faz lembrar um derrame cerebral, um AVC nas instituições. Afeta funções importantes do corpo político deformando ou impedindo sua correta operacionalidade. É por causa dela que só tem base suficiente para governar quem integre ou negocie com a organização criminosa. Essa mesma sangria entrega poder aos espertalhões e afasta os sábios; cria um Estado de parvos e cúmplices; deixa-se roubar em bilhões e despacha os talentos. Não quer gente séria por perto.

Nosso AVC institucional implodiu os partidos políticos no que neles há de mais precioso e singular - seu programa, seus princípios, seus valores. Ou os partidos nascem disso, por causa disso, com vistas a isso, ou nascem assim como se forma uma nuvem de gafanhotos, voando na direção dos postos de poder. Dirigentes partidários, líderes políticos deveriam ser condutores com ideias na cabeça, ideais no coração e mãos operosas. São ingênuas estas palavras? São, sim, eu sei. Mas só o são porque a sangria nos levou a um realismo hipócrita que tornou ingênua, de fato, a mera normalidade.

A normalidade não nos faria sangrar 12,5 milhões de postos de trabalho. A normalidade não nos traria a estas pautas que abastecem as conversas cotidianas. Nela, na normalidade, partidos políticos seriam reconhecidos por suas propostas para o desenvolvimento social, econômico e cultural do país e não pelos prontuários de seus dirigentes. Sem essa sangria que nos levou o Brasil, não haveria entre as legendas brasileiras tanto banco de sangue à disposição dos vampiros da política. São duras? Sim, sei.

Enquanto no mundo civilizado, os países com boas instituições debatem grandes temas nacionais e internacionais, suas perspectivas de desenvolvimento econômico, tecnológico, sua sustentabilidade, sua integração, nós discutimos os humores de Jucá e de Moreira Franco e as delações de Marcelo Odebrecht. Enquanto o mundo civilizado está nas páginas de política internacional, economia, cultura, nós colocamos o país inteiro nas páginas policiais. Enquanto no mundo civilizado, a sociedade faz os debates, nós somos espectadores do Estado e escolhemos alguns personagens para vaiar. Estancar sangria é, também, acabar com isso e criarmos partidos que acreditem mais nas potencialidades da sociedade do que no suposto e fajuto protagonismo do Estado.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Rivo Fischer -   07/03/2017 01:35:02

O dr. Antônio Falavena pergunta como construir partidos. O voto distrital em todos os níveis pode ser a solução. É a eleição das lideranças comunitárias autênticas, no âmbito que é seu. Nenhum partido vai colocar um candidato de sua escolha. a escolha será entre autênticas lideranças dá comunidade. O eleitor, por sua vez, terá toda a autoridade para meter o dedo na cara de quem elegeu, e exigir compostura. Pensem nisso!

Geny Alves Moura -   05/03/2017 03:13:21

Na realidade,o povo está mesmo precisando de um Grande Líder que tome a iniciativa de chama-Los pra frente desse Congresso e faça uma Boa limpeza nesses senhores manchados pela corrupção e que continuam lá a nós representar. Se o povo não ajudar a "LAVA JATO", fica muito difícil para Sr.Juiz Sérgio Moro e sua equipe ficarem nessa luta sozinhos,sem a nossa colaboração . Que DEUS nos ilumine e nos mostre uma direção.

Brenda Fernandes Aprigliano -   04/03/2017 20:28:10

Como ser otimista diante dessa terrível realidade!

Joma Bastos -   04/03/2017 19:00:02

Excelente artigo! FORO PRIVILEGIADO = CRIME INSTITUCIONALIZADO. Há que SEPULTAR o FORO PRIVILEGIADO, de contrário nada serve estarmos a discutir o que esses políticos corruptos estão a fazer ou pensam vir a fazer. Já sabemos de antemão que esses políticos trabalham em conjunto para trapacear e fraudar todos os sistemas anti-corrupção. Também NÃO HÁ QUE PERMITIR que CIDADÃOS CRIMINALMENTE CONDENADOS, TENHAM ASSENTO EM QUALQUER TIPO DE GOVERNAÇÃO, desde o cargo de um simples vereador até ao cargo de um presidente da república. Há que ACABAR COM O STF NOS MOLDES EM QUE ESTE TRABALHA, isto é, o STF tem que cingir-se à sua atividade original, que é a de ser UM TRIBUNAL CONSTITUCIONAL e também um TRIBUNAL ADMINISTRATIVO SUPERIOR com a finalidade de julgar as ações administrativas dirigidas contra as autoridades públicas ou entre autoridades públicas. Tudo o mais há que deixar por conta dos Tribunais Federais de primeira instância até ao STJ. E o STJ tem que formada somente por juízes de carreira, lá colocados sem qualquer interferência direta ou indireta da classe política. Ótimo final de semana!

Paulo Prates -   04/03/2017 17:49:41

Já saímos do fundo do poço, melhoramos bastante desde que o PT foi apeado do poder. Isto graças as instituições fortes do Poder Judiciário (Sérgio Moro e equipe), do MP e PF, mas sobretudo graças as manifestações populares nas ruas e redes sociais. Contudo a pressão popular deve continuar apoiando a Lava Jato, do contrário tudo irá pelo ralo, pois os corruptos poderosos estão fazendo de tudo para melar essa operação. Portanto todos dia 26 de março. Eu vou!

ANTONIO FALLAVENA -   04/03/2017 15:43:44

Amigo Puggina Acabo de escrever comentário na Tribuna da da Internet, com temas muito parecidos. Apenas para contribuir com o debate, pergunto: como construir-se partidos? Os atuais, gestados na legislação vigente, são empresas. E para criar partidos necessitamos de pessoas! E para que sejam melhores do que os existentes, precisamos de pessoas melhores e que queiram/aceitem participar. Mas pessoas melhores não gostam, não querem se meter, tem medo de fazer política. É um grande problema. Quem tem consciência e conhecimento quer assumir mais problemas? Além do trabalho, da dedicação, do esforço e outras tantas coisas, terão de misturar. Botar o bloco na rua – carnaval, ir a uma decisão de campeonato e depois aparecer nas comemorações, tomar coca-cola de graça e outras trivialidades, é fácil juntar “gente”. Mas se expor na política, debater, ler, estudar e tudo mais que é exigido, “não conta comigo”. É o que mais ouvimos! Não existe estado corrupto, governo corrupto e representantes corruptos, sem que exista uma sociedade/povo corrupto. E a nossa, pela maioria, está na corrupção! Amigo, por menos que se goste, se não separarmos o joio do trigo, nosso pão sempre será duro, bolorento e com cheiro ruim. O Brasil é um país maravilhoso mas com um povo que teima em continuar errando, em tudo. Abraço e saúde. Antonio Fallavena

elsonhoffmann -   04/03/2017 15:39:21

Juca´já está fazendo pré-temporada para ir a curitiba

JOEL PAULO BIONDO -   04/03/2017 14:12:40

Sempre lúcido, preciso e sábio. E justamente por tais predicados é que o autor me põe em estado de angústia e descrença em relação ao nosso país.

Genaro Faria -   04/03/2017 02:43:06

O que mais me assusta, prezado Puggina, é lembrar que o Partido Nazista e seu líder encolheram e quase foram extintos depois que Hitler foi preso e a República de Weimar trouxe de volta a economia aos eixos. Então, em 1929, a crise deflagrada pelo estouro da bolsa de Nova Iorque quebrou a Alemanha. E o nazismo dominou o cenário político. E o Brasil nem saiu do buraco cavado pelo PT.

Verdade Seja Dita -   03/03/2017 17:11:55

A Lava Jato está fadada a acabar ou se corromper. Não adianta nada se o povo não está nem um pouco revoltado (apenas os militantes tele-guiados da esquerda) aliás estão tentando agora "terceirizar a solução do problema" para os militares que diferente dos de 1964 a maioria não é "verde oliva" e sim "melancia". É difícil mudar um país onde o políticos representam bem a cara desse povo: um bando de aproveitadores, que só dão se receberem agrados e só vão se ficar puxando o saco de alguém. Somos um bando de cooperativistas é por isso que o estado dificilmente nós deixará em paz, pois quanto mais dependermos dele, mais migalhas vamos receber. Assim como em Cuba ou na Venezuela tem gente que não dá bola em receber migalhas, desde que não precise trabalhar por elas.