• Percival Puggina
  • 10/03/2017
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ESTÁ TUDO ERRADO E JÁ QUEBROU. MAS NÃO MEXE!

 

 Difícil entender a conduta de muitos brasileiros. A parcela mais significativa do eleitorado é, historicamente, sensível às mais demagógicas promessas populistas. A biografia de muitos que entraram para nossa história como líderes benquistos e o catálogo de suas principais realizações não resiste ao crivo da relação benefício-custo e ao escrutínio de suas consequências. O Brasil anda devagar e o futuro é um horizonte que se afasta. De Getúlio para cá, incluindo o próprio, o populismo nos presenteou pela urna Juscelino, Jânio, Collor, Lula e Dilma. Não era outro o ânimo dos vices Jango e Sarney. Escaparam-se, em tempos recentes, o saudoso Itamar Franco e FHC em sua primeira eleição como cavalo do comissário de um governo bem sucedido. Já não se diga o mesmo dele em 1998, pois a reeleição enviou às favas os critérios do primeiro mandato.

 Recordista mundial em número de sindicatos, o Brasil cria 250 novas organizações desse tipo por ano. Segundo a revista Veja, em outubro do ano passado, havia 16.293 deles, prontos para servir de sinecura a dirigentes e de complicador às relações de trabalho. O motivo pelo qual os temos em tal quantidade (125 vezes mais do que os Estados Unidos e 180 vezes mais do que a Argentina) é o mesmo pelo qual são tantos os nossos partidos políticos. Há muito dinheiro fácil para uns e outros.

 "Nenhum direito a menos!", lia-se em faixa de passeata ocorrida há dois dias em Porto Alegre. "Queremos mais direitos e não menos!" proclamava outra, no mesmo evento. Ora, quem disse que muitos direitos são vantajosos ao trabalhador? Fosse assim, Portugal e Espanha estariam recebendo trabalhadores alemães e ingleses. No entanto, o que acontece é o contrário. Recursos humanos de países super-regulamentados migram para países onde as relações são mais livres. Aqueles têm as economias mais travadas e pagam salários mais baixos; estes são mais ágeis, prósperos e pagam salários mais altos. Li outro dia que na Venezuela, onde a lei proíbe a demissão de quem ganha salário mínimo, os trabalhadores, por motivos óbvios, têm medo de ser promovidos.

 Então, o Brasil preserva instituições irracionais, verdadeiras usinas de crises que promovem cíclica instabilidade da vida social e econômica. Cultua leis incompatíveis com o tempo presente como se fossem preciosidades jurídicas e esplêndidas realizações da generosidade política. Mas ai de quem propuser alteração em estatutos anacrônicos como os da previdência social e das relações de trabalho! Mas e o Brasil, deputado? Ora, o Brasil! Empregado tem nome e CPF. A empregabilidade não rende votos e o desempregado não tem sindicato.

A infeliz combinação de populismo, corrupção e leis erradas produziu a recessão, gerou 12,5 milhões de desempregados e derrubou a renda real dos brasileiros. Essa queda, porém, foi muito assimétrica, proporcionalmente maior para que ganha menos, chegando a 100% para o universo dos desempregados. Isso está muito errado!
Sim, mas não mexe, parecem dizer as próprias vítimas do perverso populismo e os eternos incendiários do circo alheio. Assim, o mero futuro já é uma utopia.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Jonny Hawke -   14/03/2017 05:22:15

Somos um povo educados para o populismo, isso vem lá de Getúlio, passando por todo mundo inclusive a ditadura militar. Além de termos muitos sindicatos que só servem a si mesmo (e o trabalhador que se exploda) o populismo é nosso câncer, a verdade é que o próximo presidente ganha fácil prometendo "auxílio aos desempregados" do que "gerando empregos". Que esperança temos num país assim?

Áureo Ramos de Souza -   13/03/2017 23:59:01

Nunca fui sindicalista e me lembro que o ex sindicalista, ex prefeito de Recife do PT João Paulo ia na industriammetalurgica a qual eu era o gerente e nunca lhes dei atenção, já no Colígio e Curso Especial os sindicalistas na época bravavam por 40% e o proprietário Tácio Maciel me chamou para conversar com o presidente sindical pois eu era o líder no colégio e eu propus a ele um mil cruzados (na época) e ele reduzisse para 5% o aumento e dise eu a ele com este valor e de outros colégios você pode trocar de carro. Ele se levantou sem dizer nada e se foi. Também ODEIO partido político e fui funcionário da Camara dos Vereadores durente 22 anos como diretor do Dpto. de Emissão de Empenho (cargo Comissionado) ganhava muito bem e me aposentei. Fazia meus serviços sem dá pitaco em políticas e fui colocado por um polípitico lá, mais era um home de bem, tento é que perdeu.

Afonso Pires Faria -   12/03/2017 14:02:54

Brilhante matéria. O problema é que quem o lê fica cada vez mais revoltado e quem deveria ser esclarecido sobre este assunto não se informa senão através dos sindicatos. Quando será que eles vão entender a diferença entre direitos e privilegio?

Rubens Silvio de Almeida -   12/03/2017 12:36:52

Quanto à reforma da Previdência, a falta de informações deixa os beneficiários com um pé atrás. Há muita controvérsia, pois, em toda crise, o bode sempre foi ela. Ademais, diz-se que é deficitária. Entretanto, ninguém, por conveniência e má fé política, não separa Previdência (contributiva) de Assistência Social. Explique-se com a exibição das receitas da Previdência contra suas despesas, abrindo-se as contas e submetendo-as a auditoria externa independente. Somente depois, tudo didaticamente explicado, saberemos se é deficitária ou superavitária. Sem tais medidas, como de outras vezes, essa reforma não passa de empulhação. No mais, parabéns pela costumeira excelência de seus artigos. Bom dia!

marco antonio -   12/03/2017 01:23:20

Falta lembrar que lei aprovada no governo Lula proíbe o TCU de fiscalizar os recursos destinados aos sindicatos.

Joma Bastos -   11/03/2017 23:26:34

O Desemprego no Brasil é muito maior que 12,5 milhões de desempregados. Cerca de 14 milhões de famílias no Brasil recebem o auxílio BF, atingindo cerca de 50 milhões de pessoas, o que representa 1 em cada 4 brasileiros. Um quarto da população do Brasil recebe este auxílio que é destinado a pessoas com renda familiar per capta inferior a R$77 por mês. É uma grande contradição ter 25% da população brasileira recebendo o BF e ter estatisticamente apenas 12,5 M de desempregados, correto? Portugal e Espanha têm muitos emigrantes porque não têm emprego para todos, desemprego este causado pelo fraco desempenho econômico e não pela existência de sindicatos. Nestes dois países, ao contrário deste Brasil, o desconto e filiação aos sindicatos não é obrigatório. A carteira de trabalho - algo desnecessário e sem fundamento - existente no Brasil, foi criada para controlar o currículo dos empregados e no entanto ainda continua obrigatória. Há que preocupar-nos com o nosso Brasil corroído pelo PT - a maior organização criminosa que praticou crimes políticos contra a nossa jovem democracia - e não com os demais países. Há que cancelar o registo do PT e mandar definitivamente o Lula para a prisão. Nós temos potencial e capacidade para nos erguermos social e economicamente, sem nos compararmos constantemente com outras nações.

Jose Nei de Lima -   11/03/2017 16:30:19

Olá meu caro amigo parece que manifestações vai sensibilizar a nossa Classe Politica, procurar ver o que seus estão fazendo para justificar Altos Salários, ver o Vereador, Prefeito, Governador e seus Deputados e principalmente o Presidente, fazer manifestações em uma Democracia é salutar e não atrapalhar o Direito de Ir e Vir de ninguém, pois já temos Eleição de quatro em quatro anos, vamos ser inteligentes com os nossos Direito e Deveres aí teremos uma grande Nação, um grande abraço que Deus vos abençoe.

Genaro Faria -   11/03/2017 16:08:12

É a velha e perversa combinação entre o excesso de esperteza, por parte de uma minoria, e de abundante cretinice por parte da imensa maioria que se acha muito esperta por acreditar que é possível mudar a realidade por meio de decretos. E construir o futuro com essa pura demagogia. O que passou para a história foi política ontem e é politica hoje o que será história amanhã. Mas para os revolucionários, que acreditam ser capazes até de modificar o passado fazendo uma "releitura da história", não como aprender qualquer coisa. São os "cretinos fundamentais" de que falava o saudoso Nelson Rodrigues. Não admira que a própria Constituição Federal seja um lorota de vigaristas.

maria-maria -   11/03/2017 14:43:49

Interessante foi assistir ao grande reformador, em vez de abolir a perniciosa lei que rouba um dia de trabalho do assalariado para engorde do caixa do sindicalismo, determinar que os funcionários públicos também participem da medida espúria.

Ismael de Oliveira Façanha -   11/03/2017 02:57:53

Um ministro do Trabalho, creio que de Collor, Antônio Rogério Magri, saiu-se uma vez com um neologismo que marcou os anos 90: "O salário do trabalhador é imexível". Vivo fosse, diria hoje: a Previdência e a CLT são "imexíveis". Não será, com certeza, um presidente por acaso e ao acaso, como Temer, quem terá a musculatura política para mexer nesses dois vespeiros.

Paulo Prates -   10/03/2017 23:17:18

Para a massa de manobras da esquerda populista “nenhum direito a menos” significa economia mais forte e geração de mais empregos.