• Percival Puggina
  • 28/12/2013
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ESSE VULCÃO CHAMADO 2013

De fato, 2013 foi inexcedível na capacidade de nos surpreender. Sua vocação apocalíptica exibiu-se em fenômenos climáticos, imensas tragédias e abruptos falecimentos. Também na política o ano se revelou um vulcão de surpresas que pareciam surgidas do éter. Sem que se soubesse como ou por quê. Foi assim, por exemplo, que o povo saiu às ruas. Não era carnaval, não havia trio elétrico, a seleção não estava em campo. Justin Bieber e Beyoncé andavam longe daqui. No entanto, multidões de jovens, junto com cidadãos de todas as idades, tiraram os fones do ouvido, saíram do Face, meteram pé no asfalto e soltaram a voz ao vento. Tivemos, pela primeira vez em muitas décadas mobilização popular espontânea. Não era massa e muito menos de manobra. Nada semelhante, tão autônomo, tão sem patrocínio, ocorrera antes por aqui. Brasileiros saíram às ruas esticando o cordel de insatisfações até então silenciosas. E elas cobriam todo o vocabulário das mazelas políticas, institucionais e morais do país. Desabituadas ao alvoroço popular, as instituições titubearam, gaguejaram. Transpiraram frio nos decotes e nos brancos colarinhos. Enquanto isso acontecia, o vulcão chamado 2013 rugiu outra vez. Quatro grupos proporcionaram inédito vandalismo de rua, enfurecido e torrentoso. O primeiro grupo, dos falantes, era composto pela parcela irresponsável ou demente do mundo intelectual e acadêmico. Pois que venha a violência!, rosnava, exibindo os dentes. O segundo, o grupo dos paus mandados do poder, cumpria a ordem de espantar da rua as incômodas demandas que o confrontavam. O terceiro, dos saqueadores, bandidos de profissão, aproveitava o caos que se estabelecia. O quarto, da mídia politicamente correta, reagiu com a hostilidade de sempre à ação das instituições policiais. E jamais denunciou o caráter fascista, escancaradamente fascista da violência que os vândalos desencadearam para afugentar das ruas a correta manifestação dos cidadãos. Em julho, a mesma erupção derramou-se sobre a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, que aceitou, no chão, de cócoras, o maior achincalhe de que se tem registro na história dos legislativos brasileiros. Militantes da violência invadiram o parlamento e ali permaneceram enquanto quiseram. Impuseram condições para sair. Comportaram-se, todo tempo, com ódio e insolência cultivados nos aparelhos comunistas, escolares e acadêmicos, onde lhes é servido o necessário à sua deformação cívica e moral: desleixo, drogas, nudismo, sexo grupal. E uma juíza, chamada aos fatos, presidiu a negociação com os fascistas de julho! Em novembro, abriram-se as portas da Papuda para os primeiros réus do Mensalão. Neste Brasil de 2013, algo que seria natural, uma vez transitadas em julgado várias sentenças, acabou enriquecendo a lista dos feitos extraordinários. Alvoroçou-se o partido do governo, desencadeando uma campanha para transformar os réus em mártires e o juízo do STF em linchamento! A história dos fatos vem sendo repaginada, como se Genoíno não tivesse renunciado à presidência do PT por causa do Mensalão. Como se Dirceu não tivesse saído da Casa Civil por causa do Mensalão. Como se seu mandato não tivesse sido cassado pela Câmara dos Deputados (em votação secreta!) por causa do Mensalão. Como se Lula, em rede nacional, não tivesse pedido perdão ao país pelo mesmo motivo. Não, senhores! As primeiras sanções aos réus ocorreram dentro do vosso próprio governo, dentro do PT e dentro do Congresso Nacional, ainda em 2005. Mas o vulcão de 2013 quer regurgitar outra história. De novo? Que 2014 nos venha com melhores ares. ZERO HORA, 29 de dezembro de 2013