O ENEM, desde que caiu em mãos petistas em 2003, virou um cavalo de Troia do tipo que chega relinchando, fazendo sujeira no calçamento, recheado de invasores, braços para fora, acenando bandeiras vermelhas. Pensado, originalmente, com o intuito de avaliar a aprendizagem dos alunos de ensino médio, uma vez confiado ao PT a partir de 2003 virou componente de relevo na máquina totalitária que o partido montou no MEC.
É tão útil como instrumento de propaganda, tão alinhado com as estratégias do partido que se pode intuir nele o dedo mágico dos publicitários da legenda e sua inspiração na Agitprop (agitatsiya propaganda) soviética. Imagine o contexto: de um lado, uma prova que habilita os bem colocados, num sistema de cotas e notas, a ingressar na universidade sem custo no tempo presente; de outro, um inteiro temário de questões onde as pautas políticas do partido aparecem como textos de motivação, objeto de interpretação, ou respostas a serem assinaladas como corretas. Se estudantes cubanos, venezuelanos, ou nicaraguenses fossem submetidos a algum certame nacional, ele certamente seria assim.
O cavalo de troia tem o poder de agir nacionalmente e de influenciar a quase totalidade dos estabelecimentos de ensino médio do país, mobilizando algo entre 5 e 7 milhões de estudantes por edição. O atrativo que oferece e a pressão de demanda que determina, leva as escolas a condicionarem seus conteúdos às pautas do ENEM. Desse modo, a burocracia do MEC dá o tom ideológico que devem entoar as salas de aula de todo o país. E depois – imenso paradoxo! – esses cavalheiros que impõem regras a todos, agitam suas bandeirinhas vermelhas em defesa da liberdade de cátedra e da autonomia do professor... Dá-me forças, Senhor!
O ENEM dá continuidade a um conjunto de procedimentos que há muito tempo se espalha como inço renitente. É uma praga, do tipo que se infiltra até em rachadura de piso, e envolve provas em concursos públicos, atividades escolares e acadêmicas, critérios para concessão de verbas à atividades culturais, critérios para seleção de estudantes para cursos de pós graduação. E por aí vai.
Quem se surpreendeu com a inclusão de vocabulário pajubá na prova deste ano possivelmente não conhece a música nem metade da letra tocada pela militância de esquerda agarrada no MEC como carrapato ideológico. Imagine o efeito desse e de tantos outros enxertos da prova sobre milhões de alunos que a elas compareceram levando-as a sério. Nenhuma dessas questões estava ali por acaso, nem por falta de assunto útil, mas para dar mais algumas marteladas no processo de desconstrução da nossa cultura e de seus valores.
Espera-se que o governo Bolsonaro esvazie o cavalo de troia, acabe com o ENEM, e ponha o sistema a trabalhar em coisa séria, sob gestão qualificada, que tenha em vista a promoção humana de nossa juventude numa cultura de valores para uma vida digna.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
Homero Schlichting - 11/11/2018 23:43:12
Provas LOCAIS com regras pedagógicas para evitar o acesso de analfabetos funcionais aos níveis superiores. Legislar de modo a evitar que o ensino básico continue sendo depósito obrigatório de bebês de 6 anos, criancas e jovens. São necessárias mudanças na CF, na Lei de Diretrizes e Bases, noECA, etc etc Estes deverão ser prioridades para o próximo governo se desejar mudar de verdade essa vergonha mundial que é nosso sistema e educacional. Obrigado. Sou Agrônomo, Licenciatura em Pedagogia, Mestrado e Doutorado em Educação.marco longo - 11/11/2018 13:36:02
O ENEM é a comprovação material da doutrinação existente nas nossas universidades. Pensamento hegemônico no sistema de ensino em todos os níveis. Lembro que a sistemática da lavagem cerebral é a mesma que se encontra no ENADEGeraldo - 10/11/2018 00:24:05
Na Unicamp., como tema de literatura, os candidatos vão ter ouvir o disco dos Racionais MCs.Wellington Medeiros - 09/11/2018 13:02:04
A falência ética destruiu a família e, por conseguinte, as pessoas, as instituições, a sociedade, enfim. Há valores inegociáveis que sustentam a evolução ética individual e coletiva, independente de conjuntura, e relativiza-los configura-se numa ferramenta de banditismo manejada intencionalmente para fazer o país desmoronar, nas últimas quatro décadas. A legião de imorais que capitaneou politicamente este processo apostou com muito vigor na deseducação e da desescolarizacão, de forma que estes elementos passaram a constituir um cimento muito sólido para a construção de seus planos centrais e periféricos de malignidade contra o Brasil. Lamentavelmente, estes facínoras galgaram considerável êxito, uma vez que somos testemunhas vivas de que o país se transformou numa vigorosa linha de produção de "adoradores do óbvio", operada por pseudo-educadores e pseudo-intelectuais que conseguiram instituir o analfabetismo funcional em todas as camadas e níveis sociais, culturais e econômicos de nossa sociedade. Mas como não há mal que dure para sempre, o Gigante Acordou é uma nova era pede passagem. Vamos, Brasil!Jonny Hawke - 09/11/2018 03:42:42
George Castro . 08.11.2018, O ENEM sempre foi construido em base da ideologia, principalmente nesses últimos anos. Você acha justo o ESTADO decidir que deve ir para faculdade ou não? O ENEM está funcionando assim! Por isso, lembra muito a URSS pois somente os amigos dos rei e os militantes fanáticos tinham direito a faculdade. O sistema de educação no Brasil faliu faz tempo, a prova é que veja nosso lugar no raking da educação mundial e isso chega até ser ironia, comparando que segundo o ESTADO somos um dos países que mais se investe em educação.George Castro - 09/11/2018 01:34:53
Visão equivocada, pautada no desconhecimento sobre a prova. Antolhos direitistas , estes sim embebidos de muita ideologia, que não permitem pesquisar como se dá esse processo. A prova do ENEM baseia-se em uma matriz de habilidades a serem avaliadas. Na área de Linguagens, códigos e suas tecnologias há uma habilidade sobre variedade linguística social. A questão abordada tratava disso. Simples assim. Outra coisa, a elaboração das questões é descentralizada, feita por professores de instituições federais de qualquer lugar do Brasil. Sendo assim, não existe um grupo de professores esquerdistas, fumando charuto cubano, vestidos com uma camisa do Che Guevara, ouvindo a internacional, trancados em uma sala do MEC elaborando as questões do ENEM. Isso é delírio. Deixo aqui minha indignação não pelas críticas (mal) tecidas, mas pelo jornalismo sem pesquisa, este sim um desserviço à sociedade.FERNANDO A O PRIETO - 08/11/2018 22:04:26
Muito bom! Que se pode esperar de questões de prova assim? Só coisas que favoreçam o mal... Haverá estímulo a que os candidatos respondam de acordo com as bobagens "politicamente corretas" que sabem que os examinadores querem ler, numa perfeita correspondência com a Novilíngua ("Newspeak") de "1984", usando-se , entre outros,os recursos de "falar como um pato" ("duckspeak"), isto é, emitir ou escrever palavras sem noção de seu real significado, e "duplipensar" ("doublethink"), isto é, acreditar, ou fingir acreditar, ao mesmo tempo, em duas coisas mutuamente contraditórias (por exemplo, é errado discriminar pessoas pela cor da pele, mas, para favorecer pessoas das raças "perseguidas", ou "injustiçadas", isso deve ser feito)... Que Deus ajude a humanidade atual (o problema não é só brasileiro, mas aqui, no momento, está mais acentuado) a superar essa crise...Menelau Santos - 08/11/2018 18:18:58
Professor Puggina, texto ótimo e oportuno. Como salienta sempre o Professor Olavo de Carvalho, a corrupção ainda é um dos nossos menores problemas, ou pelo menos, de mais fácil solução, diante dos danos cerebrais causados aos nossos jovens por esses pseudo-pedagogos petistas.