Percival Puggina
“Senhores, estamos em uma época em que passa como irritante o fiel cumprimento dos mais sagrados e imperiosos deveres da honra política pelos representantes do povo” (Ruy Barbosa, em discurso no Senado, 1911)
Que fique clara, desde logo, minha opinião. A maior parte de nossos senadores decaiu na confiança da sociedade. Os 81 membros da Câmara Alta da República não forneceram sequer as 27 assinaturas necessárias para instalar a CPI da Lava Toga, que já era vista como necessidade nacional no início desta legislatura! O Senado brasileiro, junto com a Câmara dos Deputados, não se mostrou capaz de atender ao audível clamor nacional a favor da prisão após condenação em 2ª instância!
Definitivamente, esse Senado não é mais a “Casa de Ruy Barbosa”.
Por muitas vozes, esse poder de Estado alegou que a Lava Toga “desestabilizaria as instituições republicanas” e por igual motivo travou a tramitação das várias acusações encaminhadas contra ministros do STF. Tratava-se, porém, de um falso zelo institucional. A absurda CPI da Covid-19 foi entregue à maioria oposicionista e a senadores de má reputação, em deliberado esforço para desestabilizar o governo. O Senado preserva, reitero, a regra da eterna impunidade, o melhor guarda-chuva de criminosos que o mundo já viu: cumprimento de pena só iniciar após trânsito em julgado da sentença condenatória. Quem não sabe que o corporativismo da Casa e os problemas pessoais de tantos senadores com a justiça ocupam os primeiros lugares na lista de motivos dessa descomunal omissão?
O Senado silencia quando o STF, sob sua vigilância institucional, prende jornalista, prende deputado, censura meios de comunicação e transforma a Constituição em arma pessoal, de ataque, para uso ao gosto, como sal em batata frita.
A sociedade se vê ao relento! Desprotegida e receosa. Teme o órgão máximo do Poder Judiciário e percebe que não pode contar com o Senado.
Eu sei que há eleições logo ali e que o voto popular é o poder mais alto que se levanta. Verdade? Tal poder nos é surrupiado a cada omissão de nossos representantes, invalidado quando o silêncio dos parlamentos nos leva ao grito das praças e também este, por fim, se dissipa no calculado silêncio dos parlamentos.
Sim, há eleições e, de momento, o jogo político é para profissionais. Pois é aí que a democracia desanda e vira farsa, enganação. É salve-se quem puder para derrotar adversário e preservar mandato. E dane-se a dignidade!
Até outubro do ano que vem, o dinheiro resolverá tudo. Mesmo? Comprará o passado e o futuro? A memória e o esquecimento? O bem não feito e o mal feito?
Antecipo minha convicção de que os senhores senadores não acolherão o pedido de impeachment de dois ministros do STF, se proposto pelo presidente da República. E o rejeitarão de modo furtivo, esquivo como de hábito, sem colocar o nome na tela. Numa atitude que, esta sim, tem nome e é bem coerente com o que observo.
Como reagirão os bons senadores que ainda restam nesse gulag das esperanças nacionais?
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Marco Aurelio B Bianchi - 18/08/2021 13:52:32
Professor Puggina ! Excelente reflexão ! Um abraço do teu admirador, Marco Aurélio BianchiLuiz R. Vilela - 18/08/2021 08:48:00
É aquela velha história contada no Evangelho de São João, quando Jesus propôs que quem nunca tivesse pecado, jogasse a primeira pedra. Ficaram só ele e a mulher que queriam apedrejar, os outros desapareceram. Quem nunca praticou uma ilegalidade, lá pelas bandas da câmara alta, que de o primeiro voto para impedir um ministro do supremo. Novamente o plenário se esvaziou. Quem tem rabo, não senta a beira da estrada, o motivo é óbvio, assim como quem tem telhado de vidro, não joga pedra no telhado alheio. Pois bem, conhecemos a lei, sabemos quem deva aplica-la, mas não conhecemos os resultados da sua aplicação, o que vemos é a omissão total, aos omissos, também é estendida a impunidade. Assim, esperamos pela "última instância", que seria o voto popular, mas o povo também deixa a desejar, esta sempre reelegendo os que tem "culpa no cartório", e esta ai o relator da CPI, para confirmar a situação. Já não sei o que poderá ser feito, imagino que agora é só aguardar o desastre.FERNANDO A O PRIETO - 18/08/2021 05:14:13
Neste deserto de homens e idéias que sejam relevantes, ONDE ESTÃO os órgãos que deveriam representar as classes que REALMENTE trabalham? Por exemplo, onde estão os representantes dos advogados, engenheiros, médicos,...? Form todos cooptados pelos ladrões da política? Sei que pelo menos alguns foram, mas e os outros? Basta de omissão! Divulguemos por todos os meios a nosso alcance, ENQUANTO PODEMOS, listas de pessoas em quem não devemos votar - façamos pelo menos isso!João Jesuino Demilio - 17/08/2021 18:42:41
Terá eleições? Pode-se chamar de eleições algo que não pode ser auditável totalizada numa sala secreta, longe das vistas dos representantes dos partidos? Será que este vergonhoso senado foi honestamente eleito? Tenho profundas dúvidas sobre isso....Luiz Félix de Santana - 17/08/2021 15:01:31
Os SENADORES não estão a favor do POVO. Tem a reeleição GARANTIDA pelas URNAS FAKE. Ganha quem o STF quer.carlos.indalecio@hotmail.com - 17/08/2021 09:59:11
Excelente análise.Fabio Lacerda de Magalhães - 17/08/2021 09:53:36
Só li verdades. Também me questiono: salvo raras excessões, como o Dr. Ives Gandra da Silva Martins, cadê os juristas do nosso Brasil?