• Percival Puggina
  • 30/09/2015
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ESPÍRITO PÚBLICO À BRASILEIRA

 

 No Brasil, quando se diz que alguém é dotado de espírito público, o que se está afirmando é que essa pessoa tem sensibilidade para os reclamos da opinião pública. No exercício do poder, fará o que o povo quer.

Eis aí o nascedouro de problemas que podem transformar tão sensitivo cidadão num perigo à solta, numa bomba-relógio com caneta e chefe de gabinete. Os motivos são vários, mas destaco dois. O primeiro diz respeito à enorme diversidade contida no conceito de “povo”. Embora seja designado por uma palavra no singular, o povo é absolutamente plural em tudo, inclusive em aspirações e carências. Portanto, sendo sensível aos reclamos do povo, o tal cidadão, dotado de espírito público à moda da terra, pode estar ouvindo e atendendo demandas excessivas e quase sempre contraditórias entre si e com o interesse público. É uma singela realidade pela qual já passamos inúmeras vezes na história. Além de arrasar o país sob o ponto de vista financeiro, ainda deforma a nação sob o ponto de vista da cultura política.

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) nasceu para conter os malefícios desse tipo de “espírito público”, que outra coisa não é que gestão irresponsável dos recursos alheios, muito frequente nas esferas de Estado e, pelo mesmo motivo, nos clubes de futebol. Se dinheiro na mão é vendaval, dinheiro sem dono é furacão. O PT se opôs à LRF, mandou-a às favas quando chegou ao poder e encontrou admiradores em número suficiente para lhe garantir três reeleições sucessivas. Até que a inevitável consequência explodiu na vida de cada um. Transferir dinheiro de todos para alguns ou de uns para outros e vice-versa, vai contra o interesse geral. Produz uma conta amarga, a ser paga no curto, no médio e no longo prazo.

No curto prazo, os impostos sobem, no médio prazo a inflação se eleva e, no longo prazo o endividamento compromete as gerações futuras. Foi assim que Lula começou a quebrar o Brasil e que Dilma achou possível continuar governando. Lembre-se de que quando não tinha mais de onde tirar dinheiro, ela começou a distribuir, em concorridas solenidades, até o que ainda não existia, os royalties do pré-sal. Tudo seria canalizado para a Educação e para a Saúde. As duas áreas vivem o inferno que se conhece e sequer cabe alegar boas intenções.

Sob o ponto de vista da cultura política, esse conceito de “espírito público", estabelece, na sociedade, de modo extensivo, uma dependência em relação ao Estado, convertido no mais cobiçado empregador e no almoxarifado provedor compulsório de todas as necessidades. Pelo viés oposto, o verdadeiro espírito público sabe escolher o mal menor e o bem maior, é animado por um senso real de justiça e por um sentido de história. Sabe distinguir direito de privilégio. Pessoas assim são estadistas e não demagogos vulgares, rastaqueras, como é a maioria dos nossos políticos, animada po esse “espírito público” tão ao gosto dos formadores de opinião e do eleitorado brasileiro.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 


José Adelmo Gonçalves Mendes Júnior -   01/10/2015 19:42:29

O brasileiro foi instruído no sócio-construtivismo Freiriano, com pitadas de Herbert Marcuse e Michel Foucault. Os oprimidos pela mídia burguesa e pela violenta PM demandam mais e mais "DIREITOS" e liberdade. A culpa recai sobre a sociedade careta retrograda que prefere uma missa do que se drogar no rock in RIO. A corrupção em estatais é PARTE do esquema de dominação da Esquerda no Brasil e que há outras "corrupções" intricadas na sociedade brasileira e que devem ser combatidas e discutidas arduamente para que surja alternativas saudáveis Exemplo: Corrupção Educacional (ideologização e se.x.ulização nas escolas, Corrupção Moral (leis e decretos contrários ao direito da família e da vida). O projeto de poder político aliado ao capital privado quer perpetuar-se no poder. Esta é a nova configuração da estratégia socialista pós queda do muro. Estados inchados, altos tributos, sistema parlamentar, jurídico e administrativo aparelhado para defender o projeto do Partidão e o povo vivendo em caos generalizado. Este último, mal instruído, não examina corretamente o cenário e almeja que o mesmo Estado que proporcionou o caos resolva o problema... .. ..

Sérgio Alcântara, Canguçu RS -   01/10/2015 13:02:26

O que o colega Ricardo Moriya Soares nos relata em seu comentário é uma situação absurda, mas o mais puro reflexo da degradante realidade institucional, moral e político-cultural em que nosso país está imerso no presente momento. No caso relatado, embora o magistrado tivesse poder legal para dar voz de prisão ao seu subordinado por desacato e insubordinação, que autoridade moral teria para fazê-lo, mediante o disparate que acabara de cometer em nome dos ditames do autoritarismo e da autocracia ideológica pela qual, provavelmente durante os anos em que foi acadêmico, se deixou seduzir? Situação análoga vem acontecendo em relação ao magistério brasileiro, especialmente com os professores que atuam no Ensino Básico. Sou dos poucos que ainda se atrevem questionar à tão propalada "pedagogia do oprimido", sua concepção autoritária e a consequente (e verdadeira) opressão que ela produz, tanto diretamente no lado de dentro da sala de aula como, de maneira providencial e decisória, nas deliberações dos órgãos e instâncias responsáveis pelo planejamento e gestão do ensino.

Gustavo Pereira dos Santos -   01/10/2015 12:34:52

Por falar em PORCO e ANTA, lembrei daquela zaga do time de futebol de varzea de São Tomé das Letras. O atacante Povo avançai com a bola, um derruba e outro arrebenta. Dr. Morya esqueceu de contar que o juiz gramscista deu um cartão pessoal para os meliantes, onde se lia: "Assaltem todos, exceto a minha residencia."

Sérgio Alcântara, Canguçu RS -   30/09/2015 21:55:05

E superar essa "cultura" político-administrativa e sua inerente concepção de papel do Estado é tarefa que, além de demandar tempo e esforço, compete tanto a quem ocupa cargos públicos eletivos como à sociedade civil em geral. Não podemos esperar que tal providência seja tomada apenas como iniciativa de governo ou de qualquer político que atualmente ocupe uma cadeira no Congresso. Como bem sabemos, atualmente, até mesmo entre os partidos e parlamentares que se auto-intitulam de direita, prevalece a visão de "espírito público" que o Professor Puggina bem colocou neste artigo.

Genaro Faria -   30/09/2015 18:40:04

Antes coubessem à irresponsabilidade, ao oportunismo, ao fisiologismo e à desonestidade que campeiam no verdejante latifúndio da república, as mazelas que nos afrontam sem dó e nos fazem descrer nas virtudes da democracia, por falta de caráter dos nossos homens públicos. Digo isso porque entendo que o diabo é mais feio do está nos parecendo. Os vícios da política nacional, acima apontados, lhe propiciam, com a falta de caráter e de princípios de nossos políticos, um terreno fértil para suas pérfidas maquinações e traquinagens, são apenas os meios dos quais se aproveita a facção criminosa no poder - fantasiada de partido político - para atingir seus objetivos. Não externo uma opinião pessoal. Simplesmente observo o que se passa nos países governados pelos sócios do Foro de São Paulo, instituição que os coordena no âmbito da América Latina e do Caribe. Impossível não concluir, mediante essa observação, que o que está ocorrendo aqui obedece a um propósito, a um projeto de poder que tem os mesmos fundamentos e idêntica finalidade, cujo modelo é o regime cubano.

Ricardo Moriya Soares -   30/09/2015 17:26:04

O termo "Espírito Público" me parece uma chanchada tragicômica que define bem o Brasil de 2015. Vou buscar um exemplo do tal "espírito público" aqui mesmo no meu bairro... Há algumas semanas, a delegacia que atende toda a região foi literalmente assaltada em plena luz do dia. Os meliantes não tiveram nem o cuidado de cobrir seus rostos (por pura crença no maior dogma nacional do Século 21, a impunidade geral!) enquanto roubavam armas e celulares dos policiais que lá estavam. Em suma, em menos de duas horas foram todos presos por uma força conjunta da PM e da Policia Civil... em menos de sete (07) dias, os mesmos meliantes estavam soltinhos da silva. O próprio delegado (não citarei nomes!) me confidenciou que foi procurar o magistrado responsável pelo disparate acima mencionado. O Sr. Meritíssimo de pouco mais de 38 anos lhe disse abertamente que os soltara por "questões basicamente humanas", que envolviam o péssimo estado de nossos presídios, a tal da pobreza como fator gerador das inúmeras desigualdades, a concentração de riqueza nas mãos de poucos, a cor da pele dos elementos, e finalmente, os famosos direitos humanos. O delegado ficou tão enojado que simplesmente mandou o juiz tomar naquele lugar (e outros impropérios envolvendo o restante da família deste homem de espírito público!), e quando o mesmo lhe ameaçou dar voz de prisão, o homem da lei não titubeou e o desafiou a prende-lo naquele instante... ficou apenas no blefe e ponto! Que momento vivemos, com delegacias sendo roubadas e com a cumplicidade de notórios homens de espírito público, que não tardam em propagandear o elevadíssimo espírito marxista!