• Percival Puggina
  • 10/06/2017
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ERA O QUE FALTAVA. TRIBUNAIS NÃO SABEM MAIS O QUE SÃO!

 

 Interessante, não é mesmo? Em relação à cassação da chapa Dilma-Temer pode-se formular duas indagações com respostas possivelmente contraditórias, a saber:
 - a chapa deveria ter sido cassada?
 - convinha ao momento político e econômico brasileiro a cassação da chapa?

 Eu responderia à primeira pergunta, com a imensa maioria do povo brasileiro, de modo afirmativo. O assalto aos cofres públicos promovido pelo PT e pelo PMDB contaminou a dupla presidencial e, de cambulhada, os mandatos de parcela expressiva do Congresso Nacional. Estivesse sendo julgado o mandato de um prefeito, de um parlamentar e mesmo de um governador, com muito menos evidências do que as disponíveis neste caso, o tribunal teria resolvido o assunto numa sentada sem blá-blá-blá.

 Já à segunda pergunta eu daria resposta negativa. Estabilidade política é condição indispensável ao desenvolvimento das atividades econômicas, à míngua das quais entra-se em “depressão” social, com queda do nível de emprego e precarização das condições de vida. A cassação da chapa e o afastamento do presidente criariam um novo sobressalto institucional. Prolongado sobressalto, diga-se de passagem, porque caberia recurso ao STF, com direito a todas as juntadas, embargos e pedidos de vista. Confirmada a decisão, haveria a posse de um governo provisório, através do presidente da Câmara (Rodrigo Maia), seguido da articulação política e legislativa para definir as regras da eleição indireta de um novo presidente pelo Congresso Nacional. Este novo mandatário, então, cumpriria um período de poucos meses, suficientes para fins de direito, mas insuficientes para nossas urgências sócio-econômicas.

Parece evidente que este confronto entre a óbvia presença das condições para a cassação da chapa e a conveniência do ato compareceu às sessões de deliberação do TSE e agitou seus bastidores. Gilmar Mendes, empanturrado de autoestima, na completa saciedade de si mesmo, deixou isso muito claro ao longo de suas manifestações, sempre desprezando as provas para assumir um discurso nitidamente político. E note-se, atropelando a coerência ao afirmar que ... “Não devemos brincar de aprendizes de feiticeiro. Não tentem usar o tribunal para resolver crise política. O tribunal não é instrumento. Resolvam seus problemas”. Não foi isso que ele fez?

O tribunal foi instrumentalizado, sim. Quatro ministros serviram votos às conveniências da atividade política. Agiram na esteira das circunstâncias e jamais repetirão as mesmas frases em decisões subsequentes.

Creio que fica, assim, caracterizado um gravíssimo problema institucional. Ele se havia manifestado, recentemente, quando o STF mudou de opinião sobre o afastamento das presidências da Câmara e Senado quando na condição de réus perante a corte. Se Renan Calheiros saísse, seu vice, o petista Jorge Viana, se encarregaria de acabar com a governabilidade do país. Então, coube a Celso de Melo dar jeito de coisa séria àquela patacoada.

Nossos tribunais superiores não sabem mais o que são. Não sabem se atuam no campo do Direito, no topo do poder político como poder moderador da República, ou as duas coisas. Na segunda função, têm servido ao que Gilmar diz não se prestar, precisamente enquanto se presta: a aprendizes de feiticeiro para resolver crise política.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Carlos Edison Fernandes Domingues -   11/06/2017 22:39:23

PUGGINA. Perfeito o teu ensinamento. Estou de acordo com com a segunda solução. Os juizes que julgaram, quase na totalidade, foram escolhidos pela dupla Dilma - Temer . Não tem nenhum escolhido pelo Castelo Branco. Carlos Edison Domingues

Jonny Hawke -   11/06/2017 15:17:38

Já sabia que iria terminar em PIZZA. Não sou a favor do Temer mas ele a essa altura não pode parar a lava jato. Podem tem certeza se trocarem o presidente a primeira coisa que ele irá fazer é sabotar a PF. Não adianta infelizmente o Brasil precisa passar por isso ou as chances de alguém como o Lula ganhar são muito grandes. O povo tem que aprender não apenas votar por carisma ou promessas e sim o que o candidato pode ou não fazer pelo governo. E nem adianta entrar em desespero por que todos nós estamos na roleta russa do desemprego, falta de sáude e insegurança.

José P.Maciel -   11/06/2017 00:34:28

Não queria e não esperava o resultado do TSE.Contudo,pensando no país,nos desempregados,na periclitante economia ,e aceitanto a autoridade do TSE como instituição,acompanho a decisão porque os que votaram contra emitiram algumas idéias razoáveis ,não aceitando a inclusão da odebrect e outras no processo,uma vez que tudo está em estudo pela Lava-jato ,etc.Não queria ver mais a cara do Temer,mas pode ser o mal menor.Espero otimista pelas consequências ,que definirão nos proximos dias se o país vai lucrar com tudo isso,permtindo uma rearticulação do combalido governo.Muito cuidado com as manifestações populares capitaneadas pelo PT e seus líderes,que já deviam estar pelo menos temporariamente na cadeia.

oscar -   10/06/2017 22:49:34

meu Deus! Segundo o autor, para manter a situação política e econômica, devem ser perdoados todos os PECADOS do atual governante. Mas, qual é o limite desses PECADOS? Ou não há limite algum? De outro lado, se no julgamento , estaria como acusada apenas a senhora Dilma, aí sim, haveria clamor, para com os mesmos crimes, pedir no ato a guilhotina. De que justiça falamos?

Genaro Faria -   10/06/2017 13:38:01

Dizem os portugueses que "na casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão". E onde falta pão, vergonha, religião e razão? Raspam as pernas e caem na vida? O que para mim ficou mais evidente é que não há saída. Briga de gafieira: quem está dentro não sai e quem está fora não vai entrar, se não for louco. A "crise" foi concebida e executada para não dar à vítima nenhuma oportunidade de escapar. Seus mentores e executores sabem que a grande maioria é sempre irrelevante para conter uma minoria organizada e determinada, além de fartamente financiada pelo crime e por grandes bancos. E contam com isso para tomar o poder e nele se estabelecer com ânimo definitivo.