"O Brasil democrático, o Brasil que preserva o amor próprio, o Brasil que não aceita ser um covil de ladrões, precisa ir às ruas e na forma da Constituição, desconstituir o petismo".
MÍDIA@MAIS - O país esperando uma resposta, digamos, "empresarial", à crise na Petrobras, e Dilma escolhe um executivo ligado ao PT para suceder Graça. Ato contínuo, as ações da estatal despencam. Não chega a ser estranha a maneira com que este governo reeleito tem administrado (na falta de melhor palavra) a Petrobras? Chega a parecer que o real objetivo é fazer as ações virarem pó...
Percival Puggina - Já li opiniões que, por via analógica, percebem o governo petista empenhado num ataque terrorista... É uma afirmação que retrata o resultado, ainda que não a intenção. Escrevi, recentemente, que para enfrentar o descrédito da Petrobras a presidente foi buscar o presidente de uma instituição de crédito. Esqueceu, porém, que o referido senhor não acredita nem em conta bancária e tem o hábito de pagar tudo em moeda sonante.
M@M - Quais as perspectivas políticas caso Dilma torne-se insustentável como presidente, em resultado do processo do Petrolão e novas denúncias que parecem surgir dia após dia? Tirar Dilma da presidência não serviria também para encaminhar uma nova eleição de Lula?
PP - O país caminha, inexoravelmente, para um processo de impeachment, a respeito do qual já se fala abertamente e para o qual já estão dadas as condições técnico-jurídicas, como muito bem demonstra o parecer do Dr. Ives Gandra. Faltam as condições políticas e sociais. Não podemos esquecer que a Câmara tem um plenário renovado e bem menos governista do que o anterior e que as redes sociais já começam a planejar as mobilizações de rua a partir do dia 15 de março. A imagem de Lula não resiste até 2018.
M@M - O senhor acha que, de uma forma até mesmo irônica, o PMDB pode ter um papel decisivo dentro das circunstâncias (Petrolão, Dilma em baixa, economia recessiva) - logo esse partido que jamais sai do governo, seja ele qual for?
PP - Sim, claro. O PMDB, malgrado sua natureza fisiológica, tem sido um moderador das leviandades petistas ao longo dos últimos anos. Esse partido, rachado, pode dar bons frutos. Eu acredito no impeachment porque acredito no pragmatismo peemedebista. É tudo que queremos? Não. Mas é o que se pode obter no curto prazo para a tarefa principal que consiste em manter o PT o mais longe possível do poder.
M@M - Se pensarmos de FHC para cá, o que temos visto em termos de política partidária no Brasil se resume a esta alternância monótona: petistas acelerando a revolução, digamos assim, e tucanos colocando um freio tímido. Em SP, por exemplo, Geraldo Alckmin é eleito seguidas vezes simplesmente porque a maior parte do eleitorado votaria em qualquer coisa exceto o PT, mas no poder ele se sai com medidas que se parecem com aquelas que um político petista tomaria (política de cotas no funcionalismo público, por exemplo). Afinal, existe diferença ideológica significativa entre tucanos e petistas, se deixarmos as diferenças de método em segundo plano?
PP - A diferença ideológica é muito pequena. O PSDB que conta era a ala esquerda do PMDB, que por sua vez, era a esquerda no período dos governos militares. Na vida real, o PT influenciou muito o governo FHC.
M@M - O senhor acredita que uma reforma política agressiva - com voto misto, distrital, facultativo e um autêntico federalismo - poderia de alguma forma melhorar o quadro político nacional? Há alguma possibilidade de tal reforma acontecer? Ou é possível imaginar que caminhamos para um quadro de anomalia institucional que acabe favorecendo ideias como o separatismo?
PP - Acredito na importância das instituições e nos efeitos benéficos de boas instituições. Mas todos sabemos que as mudanças significativas, como as referidas, costumam bater na trave. Existem sistemas eleitorais, por exemplo, que propiciam o surgimento de estadistas e há outros, como o nosso, que favorecem o corporativismo e a demagogia.
M@M - A crise do Petrolão comprova de forma definitiva que o Estado patrimonialista e a agenda socialista resultarão num eterno festival de fracassos, corrupção e atraso. Num quadro assim, a quebra do paradigma estatizante socialista e sua substituição por uma agenda liberal-conservadora poderia obter sucesso?
PP - Esse é o sonho de todo brasileiro bem formado, que conhece história, que tem apreço pelo Ocidente e sua cultura. Mas quanto à pergunta, a resposta é negativa. Não creio que se estabeleça uma relação de causa e efeito como a apontada na questão. O governo deve cair de podre, mas o trabalho gramsciano feito pela esquerda brasileira ainda persistirá produzindo efeitos nas decisões políticas.
M@M - Muito se fala em reforma política e tributária, mas o que o senhor pensa sobre a necessidade de uma "revolução" na formação cultural nacional, substituindo o forte viés esquerdista revolucionário que domina as escolas e impõe filtros ideológicos sobre a juventude? Sem o excessivo predomínio de posições esquerdistas na formação cultural, não seria possível o surgimento de uma geração de jovens que entendessem o verdadeiro valor da liberdade individual e com isso oxigenar a vida política e social nacional?
PP - É o que tantos defendem e o trabalho ao qual, em meu restrito campo de atuação, venho me dedicando. Trata-se de trocar componentes nas engrenagens culturais para produzir opções e condutas diferentes junto à sociedade brasileira. De momento, nossos mecanismos de ação e reação ainda estão sob fortíssima influência de uma leitura marxista da realidade e dos fatos. O trabalho de substituição é gradual e lento. Receio que não chegarei a ver os resultados disso que tantos intelectuais vêm procurando fazer.
M@M - Por favor, sinta-se à vontade para fazer outras considerações que achar necessárias.
PP - Deixo aqui a convocação a todos os leitores do MIDIA@MAIS para que se engajem nas mobilizações de 15 de março e nas que a elas se seguirem. O Brasil democrático, o Brasil que preserva o amor próprio, o Brasil que não aceita ser um covil de ladrões, precisa ir às ruas e na forma da Constituição, desconstituir o petismo.
Genesis Duarte - 16/02/2015 23:30:09
Nenhuma guerra é boa, assim como nenhuma paz é ruim, o remédio pode ser amargo , mas o que importa é seu resultado, precisamos deixar de ser covardes e lutar por nosso pais, o comunismo esta ai, guerrilheiros do MST e outros já estão se preparando, temos os cubanos, haitianos, africanos, que podem estar do lado "deles" , ainda á tempo!Ranieri - 14/02/2015 13:13:02
Provecto s.r Puggina, Há argumentos jurídicos de sobejos, elencados pelo experto e culto Dr. Ives Gandra. Não obstante, disse Rubem Alves: “ Aprenda a grande lição da democracia: ‘ é preferível cocô de rato à bosta de elefante ’ ”.susana - 12/02/2015 22:56:35
Sr. Puggina, fiquei muito triste ao ler a entrevista. Triste porque infelizmente é verdade. O resquício de brasilidade que há em mim, ou melhor, a lembrança de brasilidade que há em mim, melancolicamente admite que nossa democracia está em um momento de fracasso quase total. O impeachment da presidente é uma idéia difícil de aceitar, a menos que sejamos levados pela leviandade ou por uma convicção antecipada, de quem está além do pensamento comum. Escrevo isto porque um impeachment tem o seu preço tanto quanto a manutenção de um governo que desmorona sobre si mesmo tem. É angustiante, também, considerarmos que a aposta em um governo formado por outras pessoas seja melhor ou tenha e comprove melhores intenções. A desilusão com a política e com os políticos impedem que se creia que há quem ofereça uma alternativa melhor. Parece que o remédio vai ser entregar a chave da casa, uma vez que o credor está na porta com o oficial de justiça. E partir para o inesperado com a certeza de que o futuro pode nos surpreender. Positivamente. Um remédio amargo pode não ser bom a princípio, mas quando experimentamos a cura, ou pelo menos um patamar de sobrevida mais confortável, tornamo-nos gratos pela seriedade do administrador. E do administrador também.