• Percival Puggina
  • 19/05/2020
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EM BUSCA DO PODER ETERNO

 

 Em “o Retrato de Dorian Gray”, o personagem criado por Oscar Wilde tem as mudanças físicas que o tempo determina transferidas para o retrato que tanto o encantara, enquanto ele, numa vida de crescente devassidão, permanece eternamente jovem.

Ainda mais sedutora que a eterna juventude é a eternidade do poder. Sobre isso, aliás, escreve Oscar Wilde:

Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. Suas virtudes não lhe são naturais. Seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o ator de um papel que não foi escrito para ele.

Esse resultado, extremamente gratificante, que produz tão radical entrega do “eu” alheio, é um fenômeno comum na comunicação social. Durante séculos da história da imprensa, o ambiente fumegante das salas de redação e o matraquear das máquinas de datilografia, os estúdios de rádio e TV, eram espaços de um poder com titulares eternos, desestabilizado pela atividade caótica, mas profundamente democratizante das redes sociais. Esse espaço é duplamente democratizante porque, de um lado está acessível a quem queira ali atuar e, de outro, reduz a concentração de poder até então exercido por número limitadíssimo de indivíduos.

Tornou-se frenético o mostruário das interpretações. Quaisquer fatos se expressam em mil formatos e suscitam mil boatos. Há um conflito aberto entre a mídia formal e as redes sociais. Aquela se apresenta como sendo o jornalismo sério e declara as redes sociais como ambiente prioritário das fake news.

Nem tanto ao mar, nem tanto à praia. A grande mídia simplesmente não noticia boa parte do que não serve aos seus objetivos. Ela pode ser, ou se tornar, tão politicamente orientada quanto costumam ser muitas redes sociais. Alinhou-se de tal modo à esquerda brasileira que esta tem preferido terceirizar sua ação política. Usa e abusa das fake análises. Parece óbvio que veículos de grande público adotam cautelas para evitar o terrível desconforto de divulgar notícias falsas (as conhecidas “barrigas”) que demandam constrangidos pedidos de desculpas. Não se diga o mesmo, porém, sobre as análises incongruentes com os fatos, montadas sobre premissas falsas.

Vejo com entusiasmo libertador a atividade das redes sociais. É um território de comunicação povoado por analistas brilhantes. Mas há também, nesse mundo caótico, o veneno das fake news, que só servem para desacreditá-las. É preciso combater essa maldição que permite à mídia militante dar vazão a seu antagonismo. Diariamente recebo dezenas de notícias falsas, informações erradas, textos atribuídos a autores que não os escreveram, imagens adulteradas.

A mentira, assim como a falsificação e outros modos de enganar o próximo, é uma forma gravíssima de corrupção. É corrupção de algo precioso, de um bem tão valioso quanto a esperança. A mentira é a corrupção da verdade. As deformidades no retrato de Dorian Gray podem servir como advertência a quem abusa de um poder que crê eterno.

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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


MARCO LONGO -   24/05/2020 14:55:42

Vamos ler Lucas Capítulos 19 e 20 e concluiremos que as condutas de hoje são diferentes apenas nas disponibilidades tecnológicas

Menelau Santos -   20/05/2020 12:36:10

Humberto Eco disse que as "redes sociais deram voz a legião de imbecis". Talvez, mas também permitiram descobrir a intenção malévola contida em seu livro "O nome da Rosa", de difamar a Igreja Católica. Jesus já recomendava não eliminar o joio porque com isso poderíamos eliminar o trigo também. Sempre vemos campanhas partidárias para tolher nossa liberdade na Internet, para certamente voltarmos àquela situação de monopolização da informação do passado tão bem delineada pelo Professor neste artigo.

Luiz R. Vilela -   20/05/2020 12:15:08

"Quem não chora, não mama", dizia a marchinha carnavalesca. Quem não fala mal, não recebe verba para falar bem. Todo veículo de informação é uma empresa privada, que precisa pagar seus empregados e render lucros ao patrão. Em tempos de disputas por "mercados", nada como manter uma fonte de renda fiel, segura e rentável, como a representada pelo dinheiro público. As empresas jornalísticas, estão apenas no "esperneio" por conta das verbas cortadas para a publicidade do poder público, dai esta carga de informações negativas contra o atual governo federal. Abram-se as arcas do tesouro a eles, e vejam como tudo vai mudar. Nada neste mundo ou na natureza humana é puramente ideológico, tudo passa pela questão financeira, até mesmo o mais radical regime comunista, não é mais do que uma questão de capital, ou seja dinheiro. Os privados desejam que as riquezas lhes pertençam, já os comunistas, querem que todo o dinheiro seja do estado, e eles, lógico, os donos do estado. Então, tudo gira em torno do dinheiro, inclusive a tal "informação social", que nada mais são que empresas em busca do lucro e da sobrevivência, num mercado bastante disputado. O dinheiro, sozinho pode até não trazer toda a felicidade, mas ajuda bastante. Uma outra coisa que já se faz sentir, é que vivemos em tempos de mudanças, e tudo o que foi até aqui, certamente será mudado, todas as estruturas ainda baseadas em princípios mais antigos, ou se modernizam ou desaparecem, e o conceito de jornalismo ora existente, começa a dar sinais de esgotamento, dai então esta tentativa de enquadramento dos políticos, para que seja mantida a sobre vida. Lula contribuiu enormemente para que o setor se mantivesse no atraso que esta, agora não sabem o que fazer para sobreviver, neste mundo em constante transformação. A internete esta sendo um divisor de aguas em tudo. Existia o "antes". Agora já vivemos o "depois", e quem não "obrar", terá que inexoravelmente, desocupar a "moita".