• Percival Puggina
  • 08/08/2016
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ELEIÇÕES E ARREPENDIMENTOS

 

"Se eu soubesse, naquele dia o que sei agora, eu não seria este ser que chora..." (Dolores Duran, em Castigo)
 Nossa, como encontro eleitores arrependidos! É um tipo peculiar de remorso, que se liga à decepção causada por algo ou alguém, partido ou candidato, e se converte em sentimento na consciência do eleitor - "Ah, se eu soubesse!". Muitos que me externam esse estado de espírito sinalizam opção por outro equívoco. Largaram o jogo. Rasgaram o tíquete. Desistiram de votar. As reflexões causadas por tais encontros me levaram ao exame da minha consciência como cidadão e a algumas conclusões que parecem ter boa aplicação na compreensão dos fatos político-eleitorais de nosso país.

Até onde a memória alcançou, fui atrás das minhas próprias decepções, elaborando uma longa lista dos votos que dei em eleições parlamentares proporcionais. Dela constam eleitos e não eleitos, candidatos a vereador, deputados estaduais e federais. Curiosamente, com nenhum me frustrei. Todos os que cumprem ou cumpriram mandatos integram um grupo infelizmente bastante restrito, formado por gente da melhor qualidade pessoal. Essa constatação levou-me a investigar suas causas e fui encontrá-la numa conversa de décadas atrás, com o querido amigo, o prof. Cézar Saldanha Souza Júnior. Explicou-me ele que, pelo motivo adiante apontado, o parlamentar precisa ser escolhido como um representante de opinião. Deveria o eleitor, portanto, designar seu voto a alguém com cujos princípios, valores, ideias e ideais sintonizasse. Trata-se como se percebe, de um critério muito exigente: o eleitor precisa conhecer o candidato, certificar-se desse alinhamento e assegurar-se de que, na rua esburacada da política, seu deputado ou vereador não resvalará para a sarjeta. Minha dificuldade sempre consistiu em escolher apenas um dentre vários bons. E muitos não alcançaram sucesso.

Observemos o corruptódromo que se formou entre parcela expressiva do Congresso Nacional. Esse grupo criminoso foi eleito por pessoas que votam de qualquer jeito, em qualquer sujeito, por reprováveis motivos. Muitos, também, foram ungidos por eleitores para os quais deputado (ou vereador) deve ser um "representante de interesses". Estribado em tal critério, o eleitor escolhe alguém para cuidar de si. É sua montaria da vez, o parelheiro escolhido para a eleição. Na vida real, o parlamentar selecionado para cuidar dos interesses desse eleitor e do grupo com o qual ele se identifica vai deliberar apenas ocasionalmente sobre esses específicos temas. Mas decidirá sobre tudo mais o tempo todo! E é aí que o remédio vira veneno. Na maior parte do mandato, o representante do eleitor interesseiro estará cuidando dos próprios interesses, e eles conflitarão com os do eleitor. Estará fazendo para si mesmo e para outros aquilo que o eleitor queria que ele fizesse para si contra os outros: distribuindo benefícios com dinheiro de todos. E vem a decepção, arrastando o arrependimento. Posta a questão em palavras duras: um eleitor que leva aos parlamentos pessoas que zelem por seus interesses pessoais, não raro egoísticos, tem direito de se decepcionar quando seus escolhidos - no município, no Estado e em Brasília - passam a fazer exatamente a mesma coisa por si mesmos? Quem já acompanhou o que acontece nos plenários quando as galerias estão lotadas ululando reivindicações sabe o quanto é raro que ali se reivindique a favor do interesse público.

(A versão integral do artigo só está disponível em Zero Hora, na edição do dia 06/08)

 

 


Ismael de Oliveira Façanha -   10/08/2016 21:17:21

Qualquer sistema eleitoral jamais funcionará bem, pois o voto equivale a uma pule em corrida de cavalos; é uma aposta cega, emocional e interesseira, porque "adivinhar é proibido". Eleições livres, democráticas e parlamentaristas, levaram Hitler e os nazistas ao poder na Alemanha, em 1933...

Sergio Barreto de Sousa -   09/08/2016 21:43:57

Bom artigo! Porém o que podemos esperar no futuro próximo quando as universidades e escolas públicas estão infestadas por professores(as) e pedagogas obedientes a uma ideologia espúria??? Estamos mal!!! E quando teremos exemplos dignos de serem seguidos, para deixarmos de nos arrepender??? A nossa juventude está entregue a esses facínoras travestidos de educadores e nada fizemos a não ser nos lamentar. O resultado é esse: Eleições e arrependimentos. O Congresso Brasileiro nos mostrou, recentemente, um espetáculo grotesco, diria simíesco. Perdoem meu desabafo e minhas palavras ásperas. Vale aqui o ditado: "O semear é facultativo, porém a colheita é obrigatória".

Genaro Faria -   09/08/2016 07:23:16

JK governou o país com uma base parlamentar de fazer inveja ao PT do mensalão. Para infelicidade dele, porém, a UDN tocava uma banda de música de fazer o PSDB parecer um coral ensaiando uma cantiga de ninar para o Dia das Mães no maternal. O PSD de JK tinha dezenove governadores quando ele tomou posse na presidência da república. Ao deixá-la com todos os feitos até hoje cantados em prosa e verso, só um governador do PSD se elegeu. Adivinhe de onde? Acertou - do Piaui.

Genaro Faria -   09/08/2016 05:33:49

Acabo de chegar de uma reunião num resrtaurante onde só o garçon era mais humilde do que eu. E na cabeceira estava sentado um dos vice-presidentes mundiais do banco Santander. E o que ele nos revelou? Nada do que nós já não soubéssemos. Os investidores internacionais estão prontos para investir no Brasil. Ou melhor, a disputar nosso mercado tão maltratado desde que o PT chegou ao poder.De fato, o cenário não poderia ser mais propício: doze milhões de excluidos pelas políticas públicas do PT - no olho da rua; crescimento econômico polar - abaixo de zero; um estado mais falido e desarvorado do que um marquês fugindo da guilhotina na Revolução Francesa. Falta o quê? - perguntou um ávido empresário ao meu lado. Quem não sabe como funciona o mundo dos negócios há de se admirar. O Brasil é um dos países mais cobiçados do mundo pelos investidores, mesmo depois que perdemos a credibilidade das agências de risco internacionais - o que implica a proibição legal dos fundos de investimento, que administram poupanças populares - manterem suas inversões de capital aqui. O que afugenta esses investidores é a insegurança jurídica e a instabilidade política. Tão comuns, a propósito, nos países do chamado terceiro mundo. Em poucas palavras, eles temem pelo ambiente político indefinido pelo qual estamos passando. Essa circunstância não tem sido uma exceção. Ao contrário, ela tem se consolidado como regra. A novidade é que, agora, o Brasil se dividiu como nunca se viu. Difamar lá fora nossas instituições legitimou-se como um direito dos que defende a "democracia" cubana contra o "fascismo" brasileiro. Enquanto isso, mihões da famílias sofrem com o desemprego e com a falência das pequenas empresas que as sustentavam. Sofrimento que transcende a falta de dinheiro para pagar o condomímio, a conta de luz, a escola e até o supermercado. Fere nossa alma.

Odilon Rocha -   09/08/2016 00:58:44

Mas é bem isso daí , caro Professor! Esse, aliás, é o cerne do problema. Se não, o problema. O político deveria assinar uma carta de intenções pública e registrada, para ter valor legal. Sei que é meio utópico... . Começou a derrapar, já no primeiro ano de mandato,...processo,....rua! Claro, desde que não haja a tal imunidade. Ele não é funcionário público? Que vá se reunir com seus eleitores frustrados, dando as suas devidas explicações esfarrapadas,...se der tempo de abrir a boca: Fora privilegiado! (trocadilho mesmo)

Carlos Edison Fernandes Domingues -   08/08/2016 19:40:23

PUGGINA. Desconheço o número de cadeiras à disposição nas galerias da Assembléia Legislativa, mas o barulho dos ocupantes deste espaço, vezes muitas, me faz ter vergonha do desempenho do Legislativo. Carlos Edison Domingues

Genaro Faria -   08/08/2016 17:24:55

Benedito Valadares, velha raposa do PSD dos velhos tempos, resumiu numa frase curta: "Bem comum, bem nenhum". Foi assim que a lâmpada da democracia - governo do povo para o povo - se apagou. E o regime passou a ser um somatório de interesses mesquinhos, não raro, escusos. Construir escolas, hospitais, estender no subsolo uma rede sanitária - qual! - é fazer o bem comum que voto não rende nenhum. Político bom é o que promete emprego para o eleitor, de preferência, uma sinecura, bolsa família e outros agrados que tais tão ao gosto do eleitor. Sem contar que ele precisa aparecer bem nas pesquisas - "perder" voto é aleijão. Deixar o cavalo passar arriado. Eis aqui a mentalidade dominante que faz de nossa sempre jovem democracia - que por esse andar vai continuar impúbere por mais cem anos aos trancos e barrancos - uma caricatura. E eternizar a promessa de uma reforma política pelos seus únicos beneficiários. Quando chegaremos à conclusão de Giordano Bruno, frade dominicano condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana? "Que ingenuidade a minha propor a reforma do poder aos donos do poder!" Durante o plebiscito de 1993 eu fiz inúmeras palestras e participei de incontáveis debates a favor da monarquia constitucional federativa e do parlamentarismo. Do outro lado da mesa, invariavelmente, havia um petista e um brizolista para chamar o plebiscito de "golpe" e defender a república e o presidencialismo. Em causa própria, e imoral, Brizola e Lula defendiam a forma de governo que lhes serviria de trampolim para o poder graças ao eleitor desavisado - a grande maioria - que acabou, no entanto, sufragando o desconhecido Fernando Collor. Que contou com o apoio financeiro dos grandes empresários e o amor à primeira vista, irresistível, da grande mídia. Parafraseanbdo um famoso economista argentino sobre seu país - o Brasil é subdesenvolvido por vontade própria.