• Percival Puggina
  • 18/11/2016
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E OS INTERVENCIONISTAS INTERVIERAM

 

Enquanto escrevo estas linhas, tenho duas imagens diante dos olhos. A primeira foi tirada no dia 13 de março deste ano e mostra cem mil pessoas reunidas diante do Congresso Nacional clamando contra a corrupção e pelo impeachment de Dilma Rousseff. No mesmo dia, em todo o país, mais seis milhões participavam de atos idênticos. A superlativa manifestação, ordeira e determinada, viabilizou politicamente a cassação do mandato da presidente por crime de responsabilidade. A outra imagem, tomada dia 16 deste mês, capturou o momento em que cerca de 50 pessoas, entre pugilatos e quebradeiras, invadiam o plenário da Câmara dos Deputados. Chamavam a si mesmos de patriotas. Pediam intervenção militar.

Queriam falar com um general, mas foram se explicar ao delegado. Sérgio Moro passaria muito bem sem os vivas que a ele prestaram. Há que reconhecer-lhes a pertinácia. São poucos, mas pertinazes. Compareceram a todos os atos promovidos em favor do impeachment e contra a corrupção. Em meio às impressionantes e espontâneas marchas e concentrações,  poderiam ser contados a dedo. Levavam algum cartaz e pediam intervenção militar. Em todos esses eventos realizados aqui em Porto Alegre estive no carro de som e sei a insistência com que aquela posição era publicamente rejeitada por divergir de nossa mobilização e de nossa causa. Impeachment é uma coisa. Intervenção militar, outra, bem diferente.

Em vão. No próximo ato, indefectivelmente retornavam, esparsos e tenazes. Por outro lado, tornou-se nítido, ao longo dos quase três anos em que as grandes manifestações se repetiram, que o jornalismo militante de certas redações entrava em êxtase ao destacar a presença de intervencionistas nas passeatas. Iam em busca como quem procura agulha no palheiro e se abasteciam ante algum cartaz pedindo intervenção. Serviço de bandeja à causa do governo, destacado no dia seguinte. Davam a essa peça realce que milhares de outras não mereciam. Convinha às esquerdas homogeneizar impeachment e intervenção. Assim, a atabalhoada invasão da Câmara dos Deputados foi, que eu saiba, o primeiro ato solitário promovido pelos intervencionistas. E aconteceu com a dimensão e no modo que assistimos. As Forças Armadas sabem que não é seu papel rasgar a Constituição sob impulso de justificados anseios políticos, mas defendê-la.

O episódio coincide duplamente com as invasões de prédios escolares por adolescentes. Estes, ao se trancafiarem nos respectivos colégios, estampam faixas, nas portas e grades, afirmando um curioso princípio segundo o qual, "a escola é nossa". Sustentam, com isso, que o educandário lhes pertence. Ora, uma coisa é a conduta de adolescentes manipulados, protegidos pelo ECA, invadindo uma escola. E note-se: mesmo nesse caso, para poupar a autoridade da obrigação (jamais cumprida) de retirar a gurizada pelos melhores modos possíveis, os pais deveriam ser convocados a cumprir seu dever paterno recolhendo os rebeldes ao aconchego do lar. Mas não é idêntica a situação dos universitários e dos movimentos sociais em suas invasões, nem dos intervencionistas ao entrarem atropelando tudo e todos no plenário da Câmara. Preferia não ter lido nem ouvido as afirmações de que promoveram uma "ocupação" e de que o "parlamento é a casa do povo". Ficaram muito parecidos, em conteúdo e forma, com os militantes de esquerda. Se têm por donos e não invadiram. Ocuparam...

Por fim, poucos brasileiros, neste momento, discordarão dos intervencionistas quando falam de sua rejeição às tramoias em curso nos bastidores do Congresso. Essa deve ser uma pauta nacional, objeto de pressão popular, por todos os modos ordeiros possíveis. Foi o que abordei em recente artigo (pode ser lido aqui) no qual aponto a existência de uma "Frente Parlamentar do Crime" e a necessidade de que ela, antes da eleição de 2018, esteja integrada à população carcerária brasileira.


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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


Júlio César Gomes da Silva -   22/11/2016 10:53:02

Caro Puggina. Entendo a decepção de alguns com o seu artigo, mas ele está correto. A ruptura institucional é difícil e cheia de meandros que lhe modificam os motivos pelos quais elas foram tomadas. Se abrupta, como ocorreu em 64, a pedido da Sociedade Civil de então, ou agora, via congresso pela votação do "Impeachment" da Presidenta (presidente anta), também a pedido da Sociedade Civil, como ocorreu. Lembro que já nos estertores da decisão do Senado que cassou a Presidente, mas lhe manteve os direitos políticos em total desacordo com o texto constitucional que embasou aquela decisão. Portanto, caro Puggina, de uma maneira ou de outra, haverá contestações de um lado ou do outro. É mister afirmar que as esquerdas, ao tomarem o poder, não tem estes pudores, pois "os meios justificam os fins", e como tal usarão de todas as ilegalidades, sem pudores, com a consequência final mais trágica que é a supressão da liberdade política da Nação(exemplo mais recente: a bolivariana Venezuela, e o mais duradouro entre nós, a comunista Cuba). Porém, convém ressaltar: a "Liberdade/Democracia" não admite outro Regime Constitucional que não ela própria, e isto é uma decisão da maioria do Povo, que elegeu uma Assembleia Constituinte que emitiu a nossa atual carta constitucional (1988). Como consequência "as favas" pudores desnecessários e românticos, e a qualquer deslize contra a Liberdade/Democracia podemos pedir e utilizar sim as FFAA para pôr as coisas no lugar. É verdade que isto passa também pela avaliação que os chefes militares fazem do momento da intervenção, e quando o fazem sofrem toda a pressão do seu ato. Não faz mal, aliás como já disse o ex técnico "Felipão" da seleção de futebol brasileira: "não quer sofrer pressão da torcida/imprensa/etc, vai trabalhar no Banco do Brasil". As FFAA da Nação não precisam ser "democráticas", não precisam "entende-la", mas devem unicamente "amá-la" e "protege-la" (e juraram isto perante a Bandeira (simbolo que representa a Nação), "com o sacrifício da própria vida").

Nico Chavasco -   20/11/2016 23:41:12

Lamento a posição deste blog, e seu autor, menos em relação a "ocupação " ou "invasão " ( se preferir...) do Congresso por brasileiros de bem , que buscam um país com justiça, ordem e progresso, e livre dessa classe política criminosa, mas, principalmente, a sua posição em relação todos os brasileiros que acreditam que uma intervenção constitucional, prevista no art.142 da CF, é a única forma de libertar o país do crime organizado, responsável por milhares de mortes e levar a Nação, artificialmente, à miséria!! Comparar esses brasileiros aos movimentos sociais de esquerda, criados e mantidos com o objetivo de manutenção de poder, controle social e roubar a Nação é, no mínimo, injustiça! Mas pode ser, também, parte do interesse da mídia controlada pela esquerda financiada pela Nova Ordem Mundial. Infelizmente, ler esse artigo foi uma decepção!!

Odilon Rocha -   20/11/2016 14:38:01

?? Tem gente precisando comprar uma. Imaginem, se o Juiz Moro no afã de querer fazer justiça rápida - um tiro no pé - atravancasse os processos, metendo os pés pelas mãos, o que aconteceria? Vontade de invadir, sim, até dá! Mas uma vez concretizado o ato, as consequências podem surtir o efeito contrário. Suas excelências realmente estão passando dos limites, nos deixando bem nervosos, quanto às suas canalhices. Não nos igualemos a eles! Pressão pacífica dá mais sabor à vitória.

Não Importa -   20/11/2016 11:20:49

Não vou perder tempo comentando... ja havia excluido a epoca e a veja de meus links... hoje seu blog esta sendo excluido... Ordem e Progresso sempre ! Em 2018 eu e mais e cada vez mais BRASILEIROS votaremos em BOLSONARO... Queiram ou não a DIREITA acordou... Fui..

Percival Puggina -   19/11/2016 22:12:14

Os estudantes que invadem escolas dizem ter um título de propriedade sobre seus educandários. Podemos concordar com isso? Não. Os sem-terra alegam possuir um direito natural às terras que invadem e defendem o uso da violência como meio de pressão. Podemos concordar com isso? Não. CUT, MST e outros denominam "direito de manifestação" incendiar pneus fechando estradas. Existe esse direito? Não. A permissividade da mídia e das autoridades esquerdistas nos poderes de Estado para com as rupturas da ordem deve pautar nossa conduta? Não. Podemos agir como eles só porque não lhes acontece nada? Não. Os intervencionistas, que querem combater a corrupção (como eu) pretendem fazê-lo mediante ruptura institucional (que a gente sabe como começa e não tem a menor ideia sobre como termina pois, a partir de 1985, a redemocratização desfez todos os atos saneadores do regime anterior e mandou uma enorme conta para a sociedade em indenizações). Podemos concordar com isso? Não. Alegam que o Congresso é a casa do povo. E a casa do povo serve para isso? Não. Se os comunistas a invadirem, devemos reconhecer-lhes esse direito, dado que também "são povo"? Não. Nenhum grupo social é ou encarna "o povo". Essa pretensão é tipicamente totalitária como se percebe observando os grupos de esquerda que sempre se apresentam como sendo "o povo". Intervenção é algo que só os intervencionistas querem, contra a majoritária vontade nacional e a posição das FFAA. Estou enganado? Não. Se estiver, então levem milhões às ruas. A defesa da ruptura institucional por um pequeno grupo é coerente em forma e conteúdo com essa invasão da Câmara por um pequeno grupo. Lamento muito os desagrados que este artigo causou a alguns leitores e amigos. Mas não me deixo conduzir por aplausos ou vaias, seja ao escolher temas, seja ao me posicionar diante dos fatos.

Danuza Speltz -   19/11/2016 17:41:34

Caro Percival Estou profundamente decepcionada com o seu comentário a respeito dos Intervencionistas, sigo o Sr. nas redes e compartilho seus textos por até hoje ser sua admiradora, mas não concordo de maneira nenhuma com o seu texto/opinião a respeito. Sou intervencionista com MUITO ORGULHO e não sabia desta sua opinião a respeito, o seu comentário sobre as passeatas que houveram em POA, onde o Sr. diz que nós não éramos bem vindos foi decepcionante, eu não sabia desta sua opinião. Lamento muito, sei que não faz diferença para o Sr. uma pessoa a mais ou a menos lendo/compartilhando e assistindo seus vídeos, mas comparar os intervencionistas aos estudantes baderneiros e aos movimentos " sociais " que de sociais não tem nada é ofensivo. E o parlamento é do povo sim, fomos nós que INFELIZMENTE os colocamos lá. De que adiantou o impeachment !! Apenas foi trocado o nome, mas continua tudo a mesma coisa. Um dia o povo acordará e sairá desta inércia, e eles serão retirados de lá. Lembre : o poder emana do povo..um dia o povo acordará....

Joma Bastos -   19/11/2016 17:26:54

Infelizmente, este artigo é o espelho da passividade de uma grande porcentagem do povo brasileiro. São pensamentos negligentes como este, que levaram esta grande Nação ao descalabro social, econômico e político em que nos encontramos. E assim vivemos no 4º país mais corrupto do mundo, em que parte dos parlamentares estão indiciados pelos mais diversos crimes, em que no governo temos ministros suspeitos de diversos crimes, em que por todo o Brasil temos políticos a enriqueceram com o dinheiro surripiado ao povo. Lamento sinceramente dizer isto, mas o senhor Percival Puggina foi muito infeliz no seu texto ao não referir que os poucos manifestantes, denominados de invasores, não sejam considerados de patriotas aos defenderem as medidas contra a corrupção que estão sendo alteradas manhosamente por alguns parlamentares. O parlamento representa e é a casa do povo brasileiro, não é a casa de parlamentares que querem ardilosamente legalizar a corrupção! A intervenção militar constitucional(não se confunda com tomada do poder injustificada/ditadura) se justifica, quando a população é negligenciada pela governação de qualquer país, no nosso caso pela intensa corrupção política/social e pela alta taxa de homicídios e assaltos que tomou conta do nosso Brasil. Que tenha um final de semana feliz!

MARCO ANTONIO LONGO -   19/11/2016 16:41:59

Prof Puggina. Creio que, por clareza, seria necessário inserir no artigo a reação dos militares ao evento relatado. Carecem os manifestantes mostrarem-se mais consequentes. Por outro lado, muitos mais os entendem quando buscam, inconscientemente, os valores que os militares vivenciam e não a presença deles em qualquer intervenção.

Odilon Rocha -   19/11/2016 15:22:16

Caro Professor É o que todos anseiam, ansiosamente! (proposital) Abraço

Dalton Catunda Rocha -   19/11/2016 14:36:42

O Regime Militar prestou grandes serviços ao Brasil: tranquilidade política, imensos investimentos em infraestrutura, etc. Tudo correu bem, até o final do governo Médici. Só que sob Geisel, os árabes aumentaram os preços do petróleo de US$3 o barril, em 1972, para mais de US$12 o barril, em 1974. E passou de US$34 o barril, de 1979 em diante. O Brasil que tinha dívida externa líquida de US$6 bilhões, em janeiro de 1974, passou a dever mais de US$90 bilhões, em janeiro de 1983. A inflação estava em cerca de 10% ao mês, de 1982 em diante e o desemprego era alto. A partir daí a queda do Regime Militar tornou-se inevitável. A isto se deve lembrar do caráter incompetente do mulherengo e último general-presidente João Figueiredo, que semanas antes de sair do governo, deu uma entrevista à televisão, pedindo que o povo o esquecesse. Como disse o filho de Médici, Roberto Nogueira Médici: “Figueiredo devia ter comandado uma retirada ordenada, mas ele comandou uma rendição incondicional. ” O risco de intervenção militar é zero. Acima de tudo, pela falta de vontade dos militares de a fazer. E ninguém deve comemorar mais este fato, que estes baderneiros.

Artus James Lampert Dressler -   19/11/2016 14:10:06

SERGIO MORO convocou lula para a próxima segunda, quarta e sexta feira quando ouvirá "colaboradores com a justiça", afinal ele pretende , o LULA, que SERGIO MORO seja preso, SEM RUMO ELE ATIRA PARA TODOS OS LADOS. SERGIO MORO PRECISA DE FORÇA, a ESPOSA dele tem um blog: "EU MORO COM ELE" e espera sua força para conter o cachaceiro.

Genaro Faria -   19/11/2016 12:01:00

É nos momentos cruciais que podemos discernir melhor as pessoas que merecem distinção. Em tais momentos é que sobressaem as virtudes da coragem, da serenidade e de um sincero compromisso com a verdade em quem se guia por princípios e não por conveniências. Esse artigo é um primor de competência profissional na análise do acontecimentos. Como sempre, meus parabéns, professor Puggina. Todo tipo de extremismo, religioso, ideológico ou sentimental, sempre, sempre, sempre é anômalo, excepcional. É graças a isso que a imensa maioria das pessoas é conservadora. E estáveis são as democracias que a representam. Infelizmente, a mídia de nossos dias, "politicamente correta" e fundamentalmente desonesta, há anos vem promovendo as minorias anômalas, mas estridentes, em detrimento da maioria, politicamente desinformada e de boa fé. Felizmente, porém, como não se pode enganar todos o tempo todo, chegou a hora do troco.

Catarina dias Mendes -   19/11/2016 01:01:38

Comunista!