• Percival Puggina
  • 10/11/2017
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É MAIS FÁCIL ENTENDER O LADRÃO DO QUE O JUIZ

 

 No último dia 2 de novembro, durante um show em Brasília, prenderam um homem com 29 celulares roubados. Carregava os objetos até dentro da cueca. Lavrado o flagrante, foi levado à presença de um juiz para audiência de custódia. O meritíssimo impôs fiança no valor de um salário mínimo e o devolveu às ruas para aguardar julgamento. Não duvido que à noite, ao repassar mentalmente sua atividade, o juiz se tenha considerado bom, justo e magnânimo. "Afinal, eram apenas bens materiais...", talvez tenha pensado. No entanto, desconsiderou: 1º) a segurança da sociedade que lhe paga os subsídios; 2º) as futuras vítimas das ações criminosas daquele meliante; 3º) a sensação de impunidade que, no mundo do crime, se inclui entre as mais eficazes causas da perpetuação desses mesmos atos; 4º) o crescente desrespeito, entre nós, ao direito de propriedade.

 Em vista do grande número e da frequência com que se verificam, são os crimes contra o patrimônio os que mais contribuem para o que deveríamos designar como real percepção da população sobre sua insegurança. Afinal, estamos falando de milhões de eventos anuais.

Os latrocínios são os crimes que mais apavoram a população. Embora, na prática, os 2514 casos ocorridos em 2016 representem apenas 4% dos homicídios, eles são uma ameaça presente em centenas de milhares de ações. Todo crime contra o patrimônio em saída de banco, estacionamento, porta de garagem, estabelecimento comercial aberto ao público é praticado sob a ameaça do gatilho ou da lâmina da faca, exibidos ou insinuados. Eis o grande terror. E a sociedade pressente que eventos dessa natureza podem acontecer a qualquer momento porque o número de ladrões em operação no país assumiu proporções demográficas.

Como chegamos a essa situação? Por um imprudente e ostensivo desrespeito legislativo, político e judicial ao direito de propriedade. Se quisermos restabelecer o respeito à lei, a ordem pública e a segurança da população, é importante recolocá-lo no devido lugar. O direito de propriedade não é uma coisa qualquer. Somente insidiosos motivos ideológicos podem explicar o crescente descaso para com ele dentro das nossas instituições. Ao privar alguém de algo, o ladrão está tomando produto do trabalho, meio de vida, material de estudo, conhecimento adquirido e rompendo gravemente a ordem! Quando a Justiça trata como irrelevantes os crimes contra o patrimônio está, simultaneamente, servindo injustiça aos cidadãos de bem e alimentando com liberdade de ação a cadeia produtiva do crime.

Por maligna que seja a ação do meliante, ele me é mais compreensível do que o juiz. Mais difícil ainda é entender aqueles tantos que, apenas por motivos ideológicos, não sendo uma coisa nem outra, defendem a ambos: o ladrão que vive dos bens alheios e o juiz que o devolve às ruas.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


PERCIVAL PUGGINA -   19/11/2017 20:03:46

De acordo com o Art. 312 do CPP o juiz pode determinar prisão preventiva, em caso de flagrante. Fiança de um salário mínimo não garante coisa alguma. Insisto: é a tolerância para com os crimes contra a propriedade que está produzindo sua multiplicação e tornando a sociedade neurótica. Isso nada tem a ver com ordem pública?

Áureo Ramos de Souza -   18/11/2017 23:55:27

Não posso aqui dizer que o juiz errou pois ele age dentro das lei e quem faz as leis são nossos políticos ladrões e não vão preso e quando vão mesmo contra a lei os colegas de bancada se reúnem extraordinariamente e soltam, é o caso do Rio de Janeiro. O juiz afiançou uma quantia o ladrão estava liso, os celulares ficam na delegacia e o ladrão solto.

carlos r.dos santos -   14/11/2017 18:11:00

concordo com o sr.GILMAR DM em seu comentario,agora reduzir salários desta classe ?o senhor esta brincando.

Genaro Faria -   14/11/2017 13:35:32

É verdade, mestre. A razão dssoestá em que o direito positivivo é artificioso, mas o direito alternativo é uma verdadeira aberratio. Já o criminoso continua o mesmo de sempre.

Joma Bastos -   13/11/2017 19:37:31

Caro Puggina, mais difícil que entender um ladrão ou um Juiz, é deixarmos que neste Estado-ladrão pró-comunista, o legislativo, o executivo e o supremo judiciário mandem e desmandem, criando leis e mais leis, favorecendo e fomentando toda a espécie de violência que vive assolando este país. Penso que o Juiz unicamente aplicou a legislação atual ou cumpriu algum acordo existente com o Ministério Público para aquele tipo de infração, nada mais. Muitas vezes existem acordos entre o Ministério Público e os juízes, de modo que haja determinadas decisões judiciais para determinados tipos de infração. É o descalabro do nosso judiciário que se reflete numa profunda insegurança pública. ASSIM CAMINHA O BRASIL DA IMPUNIDADE, RESULTADO DE UMA PROFUNDA INJUSTIÇA. O nosso sistema jurídico, é ardilosamente e minuciosamente planejado pelos nossos legisladores corrompidos e votado por parlamentares corrompidos e ou incompetentes, para que os corruptos políticos, os rentistas e os grandes doadores de campanha saiam impunes. Enquanto isso, geralmente os pequenos ladrões passam muitos meses nas cadeias à espera de julgamento junto com homicidas e traficantes, cadeias essas que são templos de aprendizagem para traficante, assaltante e assassino. OS CRIMES DE CORRUPÇÃO ATIVA, FAVORECIMENTO PESSOAL E ABUSO DO PODER, REGRA GERAL RESULTAM EM NADA. São os muitíssimos, variados e evidentes casos de injustiça, praticados por aqueles que se sentam nas mais variadas cadeiras do poder supremo poder político e judiciário, que não são nem podem ser investigados, em resultados da ajuda criminosa concedida pelos seus cúmplices do Congresso.

Emilio Cuppari -   13/11/2017 16:47:26

Precisa fazer alguma coisa. Não somente de pão vive o homem, não somente de bonitas palavras vive uma nação. Enquanto não se reage tudo vai continuar igual. As leis não são feitas por Deus, são feitas pelos homens. Podem ser mudadas. Este povo bondoso deve reagir de alguma forma e não permanecer parado .

Odilon Rocha -   12/11/2017 22:17:26

Caro Professor O que esperar de mais de quatenta anos de lavagem cerebral marxista no mundo acadêmico? Fora disso, só se explica por “sério compromisso”.

Gilmar DM -   12/11/2017 00:40:10

Além da cabeça da maioria dos juízes estar impregnada da ideologia esquerdista à que foram inoculados nas faculdades de direito, tenho certeza que por levarem uma vida nababesca com altíssimos salários e fartas mordomias, muitos se sentem culpados e se solidarizam com os marginais! Uma solução seria reduzir os salários dos magistrados para viverem mais a realidade.

Fernando Prieto -   11/11/2017 20:51:34

"Afinal, eram apenas bens materiais..." É bem verdade que, em nossos dias, muitos não dão importância ao que consideram "coisas pequenas" (por exemplo, furtar coisas de pouco valor material, não se esforçar por desempenhar bem uma atividade necessária alegando não gostar dela, não cumprir horários de obrigação, não seguir padrões aceitáveis socialmente de vestuário e de respeito aos outros tendo recursos para fazê-lo...). Isto é apenas mais um sinal de perda de valores. "...aquele que se descuida das coisas pequenas pouco a pouco cairá" (Livro do Eclesiástico, 19,1 ). Assim, mesmo que o direito de propriedade fosse realmente algo de pequeno valor (e não é), esta atitude de desprezá-lo não seria correta. Obrigado por lembrar-nos disso neste artigo.

Ismael de Oliveiira Façanha -   11/11/2017 18:35:34

Como diria algum Maluff da vida, roubou, não matou, tudo bem!

Marco -   11/11/2017 14:49:39

Hoje em dia o judiciário assusta mais que alguns bandidos

Humberto Silveira -   11/11/2017 14:01:38

São " Sentenças e " Despachos ", cumprindo a " Legislação " que estão dizimando a Sociedade Ordeira, com cunho ideológico e no meu entender, sem possibilidade de reversão, pois o Legislativo comprovadamente corrupto, não mudará e será em sua grande maioria reeleito.

Francisco -   11/11/2017 13:46:05

Sociedade doente, e Estado Fraco! Não veremos mais um Brasil sadio mestre. Um grande abraço.

Alfredo Foerster -   11/11/2017 13:27:28

Meu caro e nobre Puggina, o juiz referido em teu artigo, ele meramente aplicou a Lei , a que estava ao alcance dele para este tipo de situação. Mudada a lei , ele vai aplicá-la de maneira diversa. O juiz pode estar a" se rasgar de raiva " por ter de agir assim como profissional, mas ele deve seguir os rigorosos caminhos apontados pelo CP e CPP. S d ~ s de Alfredo Foerster.

Rogerio Carnio -   11/11/2017 13:17:41

Lula dizendo ser normal roubar celular para viver https://www.youtube.com/watch?v=gHYe75kdQ8U