• Percival Puggina
  • 29/01/2017
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DR. DRÁUZIO E A VIOLÊNCIA

 

No último dia 17, o programa Timeline da rádio Gaúcha ouviu o Dr. Dráuzio Varella sobre o surto de violência que assola o país. Mostrando conhecimento do assunto na perspectiva em que o examinou (causas sociológicas), o conhecido médico diagnosticou-a como uma enfermidade que se alastra sob o impulso de inúmeras causas, sendo a periferia das grandes cidades o espaço onde mais rapidamente se expande. Entre os fatores que originam o mal da violência e a aparente surpresa com que nos colhe, ele citou: 1) a desconexão entre o discurso que menciona os muitos milhões tirados da pobreza e as péssimas condições reais de vida naquelas áreas; 2) os milhões de jovens desocupados, que não trabalham e não estudam, ou estudam em péssimas escolas, e são facilmente transformados em recrutas das organizações criminosas; 3) a natalidade descontrolada e socialmente desequilibrada; 4) a permanente expansão da população que nasce com pequenas possibilidade de desenvolvimento individual e social, a produzir verdadeira "fábrica de ladrões".

 Com justo discernimento, o Dr. Dráuzio, observou que ser pobre não é condição necessária para que alguém se torne criminoso, nem é o mundo do crime destino obrigatório de quem vive em condições de carência material. No entanto, diante da nossa triste realidade e das imensas facilidades que o caos social disponibiliza às forças do crime, o entrevistado do Timeline afirmou que a taxa de criminalidade brasileira poderia ser ainda maior.

Creio que foi o David Coimbra quem, lá pelas tantas - citando a Índia como exemplo -, perguntou sobre os motivos pelos quais países com níveis de pobreza ainda mais acentuados ou não padecem dessa enfermidade, ou não são por ela atingidos nas proporções em que o Brasil é afetado. O médico foi incisivo: famílias bem estruturadas, onde ocorra a transmissão de valores, com mães e pais trabalhadores, inexistindo abusos ou violência, podem proporcionar "ovelhas desgarradas". Mas serão sempre em número muito menor do que na situação oposta. Sem carinho, sem imposição de limites, convivendo com pais violentos e sem referências saudáveis a infância se faz vítima potencial, também, do recrutamento pela criminalidade.

É claro que o programa não esgotou a imensa pauta. O entrevistado abordou apenas alguns elementos da caótica situação das "comunidades" tomadas pelos traficantes, ou na fila de espera de que isso aconteça enquanto o Estado vai para um lado e a sociedade marcha para a anomia. Não, o Brasil não se explica nem se entende em 15 minutos. Nem em 15 anos. Nem em 15 livros. No entanto, do diagnóstico à terapia recomendada, o Dr. Dráuzio mencionou temas que considero relevantes, sobre os quais tenho escrito ao longo das últimas décadas sucessivos artigos.

Note-se, ele é ateu e não consigo vê-lo como um conservador. No entanto, falou no binômio família e valores, apontou a conveniência da simultânea presença masculina e feminina, a mãe, ou alguém por ela, o pai, ou alguém por ele, como cuidadores responsáveis, proporcionando afeto, estabelecendo limites e atentos às vivências e convivências das crianças e adolescentes. E chegamos, assim, ao meu ponto: nada disso se consegue com a irresponsável publicidade (o mais apropriado seria falar em propaganda) da "mulher dona do próprio útero"; dos filhos de "produção independente"; da família identificada como "instituição opressora", a ser superada em vistas do pleno exercício da liberdade; do "proibido proibir". Nem com apoio às rupturas da ordem e à impunidade. Nem torcendo pelo bandido contra a polícia. Nem com a libertinagem sexual que procria, mas não cria; que povoa, mas não civiliza...

(Leia o restante do artigo em http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/ultimas-noticias/tag/percival-puggina/)
 


Marco -   02/02/2017 23:49:31

O cristianismo, na origem, é a religião da inclusão, da solidariedade e da vida. bem como todos os outros valores que constituem algumas das noções de família que vigoram ainda hoje. Isso a que os cretinos chamam “família burguesa” é, na verdade, na origem, a família cristã, muito antes do desenvolvimento do capitalismo. O cristianismo se expandiu, ora vejam, como uma das formas de proteção às mulheres e às crianças. Qualquer estudioso sério e dedicado sabe que não é exatamente a pobreza que joga as crianças nas ruas — ou haveria um exercito delas perambulando por aí. Se considerarmos o número de pobres no Brasil, há poucas. O que lança as crianças às várias formas de abandono — inclusive o abandono dos ricos, que existe — é a família desestruturada, que perdeu a noção de valores. Não precisamos matar as nossas crianças. Precisamos isto sim, é cultivar valores, para fazer pais e mães responsáveis.

Genaro Faria -   31/01/2017 05:58:40

O dr. Dráusio Varella tem uma certa cultura, mas mito abaixdo de Mauro Santayanna, bem mais erudito. São aqmarxistas ambos, e têm no currículo uma infância de abandono. Sem um lar. Ambos odeiam a sociedade, que culpam de tudo que padeceram na infância. De fato, trágica. E caregam essa tragédia como se a sociedade fosse a gande culpada. O que os difere é que Mauro era tão comunista que vociferou contra a queda do Muro de Berlim. Já o Dráuzio é menos óbvio. Ele morde e assopra.

Odilon Rocha -   31/01/2017 00:13:59

Caro Professor Será que o Dr. Dráuzio Varella bateu a cabeça ou está com o "mal de Gabeira". Esse aí, parabéns a ele!, parece que realmente se regenerou. Sim, as pessoas tem todo o direito de mudar, ainda que numa percepção tardia, bem tardia, suas convicções. Uma espécie de autoarrependimento proveniente de um digno esforço de humildade. Vale a tentativa. Funciona. E por que tudo essa minha baboseira? Ele, juntamente com o FHC, não defendia a descriminalização da maconha? Ou estou enganado? Mesmo assim não posso deixar de registrar que o que disse está bem dito e colocado. Sendo sincero, meus parabéns!

Leonardo Melanino -   30/01/2017 13:06:27

Criminalidades ou criminosidades já existem desde a Antiguidade. Intimilhações, explorações de labores precoces, pedofilias e assim sucessivamente são formas de violências. Famílias não salvam ninguém. Carinhos excessivos são mimos. Jamais apologizemos as pobrezas, pois elas maleficiam nossas saúdes. Elas devem ser combatidas com combates às avarezas (monetolatrias), às corrupções, às ganâncias e assim sucessivamente, com investimentos em educações, em saúdes e assim sucessivamente, políticas públicas fortes e assim sucessivamente. Superpopulações ou superpovoamentos devem ser combatidos com celibatos, que são abstinências afetossexuais, que são nada mais e nada menos que abstinências não somente de cópulas, mas também de afagos, de amplexos, de cócegas, de euquímanos e de ósculos. Então, os crimes hediondos ou anti-humanos devem ser combatidos com mortipenas.

Jair Sergio de Moraes -   29/01/2017 23:15:09

Infelizmente eu padeço do mau de não admitir que alguma análise boa venha de alguém que não gosto ou não comunga da mesma crença que a minha, reconheço que é uma falha minha, por isso pensei que ele ia defender justamente o que o sr. tão bem especificou como causas do crescimento da criminalidade no final.