• Percival Puggina
  • 22/05/2017
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DEZOITO BREVÍSSIMAS OBSERVAÇÕES SOBRE O EFEITO JBS

 

 O texto que segue contém observações avulsas sobre os acontecimentos desencadeados pelo encontro entre Michel Temer e Joesley Batista. Creio que sintetizam boa parte das inquietações nacionais.

1. Aquilo foi uma armação? Claro que foi. Afirmá-lo não torna Joesley mais culpado do que já é. E por mais que queiramos desanuviar a cena para o bem do país isso não exime Michel Temer de suas responsabilidades pessoais em relação ao fato.

2. O encontro jamais deveria ter acontecido. Lembram da viagem de Ricardo Lewandowsky, então presidente do STF, à cidade do Porto, em julho de 2015, para se encontrar, longe dos olhos da imprensa, com a então presidente Dilma Rousseff? Pois é. Existem reuniões essencialmente reprováveis.

3. A fita foi editada? Haverá uma perícia, tardiamente solicitada pelo ministro Fachin. No entanto, nessa hipótese, quem primeiro deveria ter denunciado isso seria o próprio Temer, para dizer que o diálogo não correspondia ao que foi conversado, que suas frases de aprovação não se referiam aos crimes confessados por seu interlocutor, mas a outros ditos proferidos no encontro.

4. Em momento algum, após a divulgação do áudio, o presidente mencionou que algo pronunciado por ele estivesse ausente da fita levada a público. E mais: quando seu visitante sumiu nas sombras da noite, nenhuma atitude tomou sobre o que dele tinha ouvido.

5. Não vislumbro, portanto, qualquer motivo para abrandar as responsabilidades da mais alta autoridade da República diante do que ouvi naquela gravação, e li na sua degravação.

6. O ministro Fachin atuou de modo apressado, pondo a prudência em risco? Sim, e pode estar na falta de uma perícia da fita, a saída para Michel Temer, na hipótese de que o pleno do STF, julgando o recurso impetrado pela defesa do presidente, suspenda a investigação contra ele. Mas isso não altera o fato em si.

7. O acordo de delação beneficiou os irmãos Batista de um modo escandaloso, que repugna a consciência nacional. A estas alturas, Marcelo Odebrecht deve estar se perguntando: "Onde foi que eu errei?". Não há demasia em imaginar que, no encerramento do acordo da laureada delação, a autoridade pública que o coordenou tenha dado um beijo nas bochechas dos Batista brothers e ido para casa abrir uma bouteille de champagne.

8. No entanto, conforme alertou o Dr. Luiz Marcelo Berger com base na Teoria dos Jogos, os dois salafrários podem vir a ser presos por outros crimes praticados fora do acordo celebrado com a justiça.

9. Toda essa situação beneficia o PT? Sim, tudo que é ruim para o Brasil é bom para o PT, e vice-versa. Por isso, o PT quer rasgar a Constituição e defende a ideia de diretas imediatas. Depois de bater os recordes mundiais de incompetência e corrupção, o partido imagina voltar ao poder para mais do mesmo. Suas lideranças ainda não fizeram ao país todo o mal que pretendem, nem a si mesmos todo o bem que aspiram.

10. O governo Temer emergiu do interior da gestão que dirigia o país desde 2003, compartilhada entre o que havia de pior no PT, no PMDB e no PP. O impeachment de Dilma Rousseff não foi uma campanha oposicionista para "eleger" Michel Temer presidente. Foi uma consequência dos atos por ela praticados e teve como consequência constitucional a posse do vice-presidente eleito e reeleito em chapa com ela.

11. O troféu da ingenuidade vai para quem esperou que um grupo de homens virtuosos saísse do interior daquele governo unido em torno do vice-presidente. Não havia gente assim por lá. Salvar a nação do naufrágio - e isso vem sendo feito - era uma parte da missão. A outra era salvar o próprio pêlo.

12. As medidas para sair da crise, reduzir o descrédito do país (ou, em melhor hipótese, melhorar a confiança nele) envolvem providências que, no curto prazo, causam rejeição popular. Com um Congresso marcado pela corrupção, assombrado pelo temor da reação dos eleitores no pleito de 2018, o apoio a tais medidas envolve concessões que reduzem o efeito das reformas. Elas ficarão ainda mais difíceis sob uma presidência fortemente atingida em sua honra pessoal.

13. Não há conveniência política nem suporte constitucional para uma antecipação da eleição presidencial. A Constituição de 1988, exatamente para evitar casuísmos desse tipo, tornou cláusula pétrea a periodicidade das eleições. Antecipar é romper a periodicidade.

16. Está constitucionalmente determinado que a sucessão do presidente, passada a primeira metade do mandato, se proceda por eleição indireta, através do Congresso Nacional. O artigo 224 da lei 13.165, da minirreforma eleitoral de 2015, define diferentemente, mas está em desacordo com a Constituição.

17. Os fatos ainda estão rolando, como pedras, morro abaixo. Impossível, portanto, fazer previsões com segurança. Inclino-me, porém, pela conveniência de afastar o presidente (por renúncia, por cassação da chapa no TSE ou, na pior das hipóteses, por impeachment), preservando a base de apoio para uma eleição indireta no plenário do legislativo nacional.

18. Pode ser que, um dia, em nova tormenta institucional sempre por vir, despertemos para a absoluta irracionalidade do nosso presidencialismo, pivô de crises que cada vez mais vigorosamente flagelam o país.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


José P.Maciel -   28/05/2017 13:37:46

Vivemos uma complicada e nauseante situação,com tantas ocorrências sem qualificação, a não ser a dolorosa falta de interesse público, falta de patriotismo,parece que desejam afundar o país na lama e na carência socio-econômica. .Entretanto,não podemos perder o controle emocional e a falta de critérios , porque temos felizmente ferramentas para enfrentar e vencer esse período lamentável da vida nacional.Temos leis,instituições e ainda homens selecionados capazes de conduzir o Brasil á recuperação gradual.O episódio ,traiçoeiro JBS,eclodiu num momento inoportuno e conseguiu convulcionar o meio político.Um presidente muito polido,falando um português gramatical,havia conquistado uma confiança ainda duvidosa,com um bom ministro da fazenda,se expõe ao ridículo, caindo numa armadilha bovina e compromete seu cargo.No momento parece uma barata tonta,impetrando recursos no STF todos os dias.Há também um mal-estar na justiça e o congresso parece uma casa de doidos,driblando votações.O que que é isso?Sinal dos tempos? Pode ser.mas em nosso país o resultado de anos e anos de demagogia e de um incompreensível conúbio de corruptos e corruptores milionários Sairemos dessa?Sim,é possível e sem anos de chumbo como querem muitos.Sairemos usando as ferramentas que felizmente já temos uma boa parte.Parece inquetionável que o período Temer terminou.Há que substituí-lo,cremos nós que por eleição indireta é a melhor maneira e mais rápida.Escolher quiçá um nome respeitável de um aposentado do STF ou algum partido sem manchas(existe?).Os inúmeros pedidos de impeachment,acusando o presidente de prevaricação são inoportunos pela demora excessiva,como ocorreu no caso da Madame presidenta, dando margem à toda sorte de artimanhas e provocações.Que Deus proteja o Brasil e a nós mesmos.

josé rudi schnorr -   27/05/2017 15:24:25

A despeito de tudo o que foi dito, e considerando o estrago moral e econômico da Nação, acho que devemos continuar com o Temer até 2018 e cumprir a Constituição, votando nos melhores candidatos, livre e democraticamente.

Genaro Faria -   25/05/2017 16:17:57

IMAGEM COMENTADA - AMOR À DESORDEM E MEDO DA ORDEM? Prezado Puggina, seu comentário à nota do Cláudio Humberto diz respeito a uma cláusula pétrea do "politicamente correto": JAMAIS denunciar os autores intelectuais dos crimes cometidos pelos sicários; NUNCA relacionar esses crimes à ideologia que é uma apologia ao crime - o comunismo. Todavia, as evidências de que a chamada sociedade civil organizada é um conjunto de aparelhos ao comando de uma central partidária - o PT, principal partido comunista brasileiro - são tantas e de tal monta que até uma criança de escola primária seria capaz de percebê-lo.

Maurício Alberto Borges Aguiar -   25/05/2017 12:24:22

Comparar o Marcelo Odebrecht que pagava propina para ganhar contratos superfaturados, a serem pagos pelo povo, com o Joesley , que pagou propina com dinheiro ganho em suas operações comerciais e industriais, para que suas operações não fossem prejudicadas, é ridículo. Todos empréstimos que são pegos tem que ser pagos, o país não perde nada. O fato é que o Joesley criou valor, que é o que o Brasil precisa e o Marcelo roubou do povo e teve que demitir milhares de excelentes profissionais por causa de sua irresponsabilidade. Não dá para achar que é a mesma coisa só porque o assunto é propina. E a hora que o foco virar para os gastos municipais do Brasil aí sim todos ficarão impressionados com a roubalheira generalizada que ocorre nesse país.

estado mínimo -   24/05/2017 17:39:22

Justiça e pf se dividem em facções ligadas a grupos políticos. Há, claro, os isentos como creio ser o pessoal do Moro e o próprio. É bom quando entram em atrito e uma facção derruba os membros da outra. O problema é quando estão em paz e mantendo o revezamento político que garante a todos o acesso periódico às tetas do Estado. Toda esta barafunda é resultado das veleidades hegemônicas da tchurma petista, voraz e truculenta. Romperam o equilíbrio ao tentar se perpetuar no poder, o dique encheu até a borda e rompeu... salve-se quem puder. Como salientou o Puggina, neste caso, houve armação e foi o troco da facção petista enquistada nos órgãos de justica. Acertaram em cheio a banda pmdbista e psdbista. Bom para nós, mas infelizmente ajuda um tanto a petralha. Nesse duelo torço para todos se acertarem no peito.

Domingos -   23/05/2017 09:33:45

Prezado Professor. Parabéns pela análise. Permita-me apontar o 19 ponto: Ao afirmar "armação", a pergunta que não quer calar: Quem vai impedir Janot e Fachim de ter arquitetado plano contra a República brasileira para favorecer a oposição. Quem vai investigar e descobrir os agentes dessa tragédia irresponsável e desnecessária.

Malu -   23/05/2017 03:08:24

Tb concordo com isso! Acho que ele estava querendo realmente ajudar o Brasil, deixando seu nome na história! Se eu estiver errada, me desculpe, mas estou cansada de só ver coisa que não presta, que é acusada e acusada é nunca é preso!

Odilon Rocha -   22/05/2017 17:23:30

Perfeito, caro Professor. Um resumo e tanto. Muito obrigado.

Paulo Juarez Valsecchi -   22/05/2017 17:15:34

Prezado Puggina, Minha linha de pensamento é muito parecida com a sua, temos algumas diferenças quanto às reformas que estão sendo discutidas pelo congresso, que são atitudes que apenas dão fôlego ao Público para novamente e reincidentemente fazer o nosso dinheirinho suado pelo trabalho, (quase eterno) drenar para os funcionários públicos cheios de garantias, direitos e tão próximos dos fazedores das regras. Mudar o custo Brasil, baixar o custo do estado, baixar o valor da aposentadoria pública inclusive dos já aposentados, aumentar o tempo de serviço dos servidores públicos, reduzir seu efetivo drasticamente, fazê-los trabalhar, fazê-los serem úteis, diminuir a burocracia, diminuir os impostos, fechar, vender ou dar fogo nas estatais, começando pelos bancos e terminando na Petrobrás e fundos de pensão, parar de sustentar ONGs, acabar com o dinheiro fácil para o Público; tão fácil que é fácil de botar a mão nele. Parar de sustentar MST, Sem teto, Índios, presidiários, parar de dar 60 dias de férias para o judiciário, reduzir a 12 meses o salário do setor público. Depois de tudo isso, se realmente faltar dinheiro para a aposentadoria de quem trabalhou de verdade então que a reforma seja feita. Abraço

Jorge Antonio Vieira dos Santos -   22/05/2017 15:55:56

Entre tantas coisas estranhas nesse acordo com os irmãos metralhas da JBS, pelo menos quatro saltam aos olhos: por que o MPF não fez uma "operação controlada" com o Lula e a Dilma, sobre os quais recaem dezenas de relatos de corrupção, fraudes e roubos do cofres públicos? Qual o interesse específico em incriminar Temer? Por que a Globo divulgou, reverberou e abraçou a causa do impeachment de maneira tão rápida, ao contrário do que ocorreu com Dilma nas mesmas circunstâncias? E, por último, por que os pilantras foram agraciados com a liberdade no exterior, desfrutando dos frutos de seus roubos? O que eles deixaram de revelar, quem eles acobertam para obter tamanha e vergonhosa vantagem?

Ismael de Oliveira Façanha -   22/05/2017 15:26:37

Temer ouviu o tal de Batista, incrivelmente dono do maior frigorífico do mundo, bravatear atos de corrupção e nada fez; mas o presidente da República acaso é PROMOTOR, é DELEGADO DE POLÍCIA? Apesar dos ataques da GLOBO ianque e do PT vermelho, MICHEL TEMER e o BRASIL continuarão, e sobreviverão a cassandras e abutres, de um periodismo tão pretensioso quão pífio.

Dalton C. Rocha -   22/05/2017 14:56:03

Enquanto não extinguirem ou privatizarem todos os bancos públicos: BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNB e BASA, estas matrocas corruptas estarão sendo saqueadas, pelos que subornam os donos do poder. Desde que foi criado por Vargas, ainda em 1952, o BNDES só desenvolveu economicamente os que o dirigiam e os empresários corruptores, que receberam suas prebendas. Quem consultar sua memória vai, se lembrar de tantas outras vezes em que BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNB e BASA, fizeram parte de escândalos mil. O Banco do Brasil, tanto aquele de D. João VI até o segundo Banco do Brasil, já sob D. Pedro II teve um escândalo atrás do outro. Até o jornaLIXO marxista "Hora do Povo" diz isto. Ver site http://www.horadopovo.com.br/2016/08Ago/3464-05-08-2016/P8/pag8a.htm . Tanto faz o Escândalo da Casa Souto, em 1864 ou, o Escândalo da JBS hoje. Onde tem um banco público, lá estão e sempre estarão o roubo, a incompetência e o desperdício. Vou repetir: Enquanto não extinguirem ou privatizarem todos os bancos públicos: BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNB e BASA, estas matrocas corruptas estarão sendo saqueadas, pelos que subornam os donos do poder.

Genaro Faria -   22/05/2017 12:16:25

Michel Temer está pagando o preço, na mais angelical das hipóteses, que pagou Pompeia: não basta à mulher de César ser honesta; ela tem que parecer honesta. O encontro furtivo, na calada da noite, com um confesso financiador de políticos por meios criminosos é um escândalo de altíssima voltagem. Com uma popularidade ao nível do rodapé e, agora, uma credibilidade de produto paraguaio, nosso presidente não tem cacife nem para dobrar ao segundo semestre do ano. A república instalada por um golpe de estado continua a cumprir sua sina de viver amaldiçoada por uma "praga de madrinha". Quosque tandem?

Marcelo Bessa Cabral -   22/05/2017 12:13:55

Brilhante!

LUCIA MARIA LEBRE -   22/05/2017 12:03:27

Só discordo de se propugnar por eleições indiretas. Acho que devemos seguir com Temer, até 2018. Mudança agora causa transtorno econômico, incertezas, muda ministro, muda segundo escalão, muda providências, muda programas. Enfim, são só 19 meses. Ainda mais agora que as reformas estavam surtindo resultado. O país aguentou 14 anos de destruição. Pode aguentar 19 meses se já está num caminho de ordem.