• Percival Puggina
  • 26/11/2023
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Desonestidade intelectual

 

Percival Puggina

         Sublinho aqui dois dos vários tipos de pessoas que estão, sempre, querendo nos enganar. O contingente mais numeroso é o dos estelionatários que, por mil artimanhas, procuram iludir pessoas ingênuas com o intuito de estender a mão grande sobre seus bens materiais.  Esses proliferaram no ritmo em que evoluíram os meios tecnológicos de comunicação, aumentando a vulnerabilidade de seus usuários. Menos numeroso, mas ainda mais nocivo, é o grupo dos indivíduos intelectualmente desonestos, que se julga capaz de convencer os demais que o erro é um acerto, que o mal é um bem e que a verdade se expressa através de uma mentira. Você pode imaginar que esta pessoa não lhe está tomando valor algum, mas é exatamente isso que ela está fazendo ao afetar o apreço da sociedade a tudo que realmente tem valor e não é corroído pela ferrugem do tempo.

Apontar em alguém a desonestidade intelectual pressupõe identificar nele a existência de um intelecto usado sem senso moral, para fazer valer suas ideias e consolidar seu poder sobre todos a partir de suas vítimas diretas.

Os espaços de poder são objetivos constantes dessa guerra suja empreendida por indivíduos intelectualmente desonestos. É assustador observá-los e verificar o êxito de sua retórica ambivalente e dos malabarismos que usam para convencer os outros.

Assim como falsários e arrombadores de antigamente tinham à disposição um conjunto de instrumentos de trabalho, os estelionatários de hoje têm sua maleta de truques para iludir os ingênuos que encontram. O intelectual desonesto, por sua vez, se vale das habilidades proporcionadas pelo conhecimento.

Essas pessoas são a versão moderna dos sofistas gregos cujo objetivo era argumentar de modo exitoso durante um contraditório, sem qualquer preocupação com a verdade conhecida. Górgias foi o principal e mais bem sucedido desses mestres. Niilista e relativista, era reverenciado pelo domínio da oratória e dos truques de uma retórica despida de princípios morais.

Para ele, “A arte da persuasão ultrapassa todas as outras, e é de muito a melhor, pois ela faz de todas as coisas suas escravas por submissão espontânea e não por violência”. Seus alunos deram-se muito bem nos espaços de poder de seu tempo, remuneravam-no de modo abundante a ponto de ele poder encomendar – segundo se diz – uma estátua de ouro de si mesmo.

Seus discípulos estão entre nós e talvez nem saibam que o são, pois absorveram de outras fontes as qualidades e os vícios que o caracterizavam.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 


JANDIRA LAINI BRANDAO -   27/11/2023 22:45:39

Excelente a matéria, esclarecedora para esses tempos. Quem tem ouvidos que ouça

Dyna Peres -   27/11/2023 12:50:22

Esses seres proliferaram como bactéria em todos os setores. São maléficos muito bem disfarçados sob o *manto de conhecimento* .

Ângela Maria de Hugo Silva -   27/11/2023 10:51:56

Como é terrível,apesar de ser um grande exercício mental,ter que se esquivar desses espécimes de tão má índole e que hoje se propagam em todas as áreas!!!

Odilon Rocha -   27/11/2023 10:41:09

Caro Professor A mais fiel e perfeita descrição dos profissionais da mentira, da canalhice e falta de pudor, porque moral nunca ouviram falar.

Afonso Pires Faria -   27/11/2023 10:16:32

Perfeito professor. Eles estão entre nós e muitas vezes, não nos damos conta da presença maléfica destes seres.

rogerio pocebon -   27/11/2023 09:00:08

retrata a realidade de uma midia que atua como quarto poder ,com conhecimento adquirido dos nazistas da alemanha que com o fim da guerra ,sobreviveramprincipalmente na america latina,e agora afloram ,como o grande retorno naõ acabdo de hitler.