Percival Puggina
Nas raras ocasiões em que ouvimos um parlamentar afirmar e sustentar algo com argumentos consistentes e benéficos à nação, usamos a expressão – “Esse me representa!”. O meritório conceito jamais se destina a quem esteja defendendo privilégios, favores especiais a quaisquer grupos, aumento do gasto público, cerceamento de nossas liberdades, demagogias populistas e dissimulação de posições. São vozes, raras vozes que olham a nação e os cidadãos.
Por que se tornaram tão raros? Por que, ao ouvi-los, nos sobrevém o desejo de aplaudi-los, se estão simplesmente fazendo o que deveríamos esperar de todos e de cada um? E se tantos, a ponto de se tornarem majoritários, não correspondem às nossas expectativas, como se elegem e reelegem? Pois aí está a armadilha, a razão de nossa atual impotência, caro leitor. Vamos desmontá-la?
Esses políticos representam grupos de interesse que, uma vez atendidos, se dão por satisfeitos. Daí os privilégios, os favores, as demagogias, o populismo e a gastança dos nossos recursos. Seus eleitores, sem perceber, ajudam a montar a armadilha para si e para os demais. Desconhecem haver neles, como em todos nós, duas dimensões – uma individual e uma social. A individual trata do interesse próprio. A social vê o cidadão (o sujeito da pátria, o membro da nação, o agente da história).
Nosso sistema de eleição proporcional para os parlamentos permite que dezenas de milhões de cidadãos fiquem sem representante porque votaram em candidatos não eleitos, ou porque uma semana depois não lembram em quem votaram, ou porque não têm comunicação com o eleito. E vice versa: parlamentares não conhecem seus eleitores. Todo um sistema de comunicação indispensável à democracia fica inoperante! O deputado conseguiu a verba, destinou a emenda parlamentar, foi bom despachante de questões individuais, cuidou de seus cabos eleitorais? Missão cumprida, o resto do tempo é para cuidar de grana e reeleição.
Quando vai às bases, esse político padrão conversa apenas com companheiros. A nação e a cidadania estão ausentes, fora da pauta. Há um desinteresse completo e inconsequente sobre questões que levam a sociedade às ruas, tais como prisão após condenação em segunda instância, fim da impunidade, impeachment de ministros do STF, ativismo judicial, direito de trabalhar, direito de defesa, extinção de privilégios e remunerações abusivas, liberdade de expressão, reformas institucionais e fiscais, pluralismo nas universidades. É a armadilha em silenciosa operação. Vamos desmontá-la?
O voto distrital, ao contrário do que se alega, acaba com isso! Como cada distrito elege apenas um deputado, ele será o deputado de todos, do mesmo modo como o prefeito é prefeito de quem votou e de quem não votou nele. Será cobrado por todos. E ao retornar às bases seu incontornável destino é estar entre seus representados dando explicações das quais não tem para onde fugir.
Sua vida, suas posições, ações, omissões e votos dados em plenário transcorrem sob as vistas de todos. No meio do mandato, um recall pode mandá-lo de volta para casa por mau desempenho. Com o voto distrital, a armadilha se inverte: quem é caça, vira caçador. Impossível? Quase, mas totalmente impossível se as pessoas fizerem disso um não assunto, como são hoje, entre os congressistas, os temas de nosso maior interesse. Boa informação e não votar em ladrões e picaretas em 2022 já é bom começo.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Jorge Fenerich - 14/03/2022 11:45:17
A muitos anos venho dizendo que "Politico é o exercício pleno da mais pura hipocrisia" por isso também sempre fui e sou a favor do sistema Distrital puro.Alcemar de Godoi - 14/03/2022 10:11:40
Muito bom essa análise. Hoje o que mais temos no parlamento são verdadeiros picaretasMenelau Santos - 12/03/2022 09:49:46
Gosto dos textos do Prof. Puggina porque explica o sistema das picaretagens com clareza.João Jesuino Demilio - 10/03/2022 19:40:20
Caro Percival...Sempre defendi que todo poder emana do povo e NÃO PODE PERDER ESTE PODER NUNCA! Portanto o VOTO DISTRITAL PURO REVOGATÓRIO ou com recall é a solução. Além da proibição de coligação, federação , confederação ou qualquer artimanha para enganar o cidadão. Também uma imediata cláusula de barreira de 7,5 % dos votos válidos. Somente financiamento privado de campanha sendo que o cidadão ou empresa só pode financiar UM ÚNICO POLÍTICO. E este sendo eleito este político, quem o financiou não presta serviço na jurisdição do mesmo. Ah!!! também acabar com SUPLENTES. Suplente é o imediatamente abaixo eleito, independente do partido.José Carlos dos Santos Santos - 10/03/2022 17:50:46
Parabéns muito informativo ????Armando Andrade - 10/03/2022 09:29:14
Muito boa a pincelada. A verdade que ontem até imaginei uma nova "Constituição Varredura", onde "defenestrar" gente que não é como a gente, que se locupletam como "numa profissão", que se juntam ou se malocam, que criam oligarquias e sobejamento indecente como o nosso dinheiro sendo usado como "propaganda". Uma vergonha esse tipo de poder que não nos representa. O destino deu ao locutor de 88 o seu destino: "sucumbiu no helicóptero nas águas da Praia de Botafogo RJ com sua mulher, onde Netuno o deve trazer na masmorra". Não sei, talvez com as esquerdas alvoroçadas, corrupções tolhidas nestes últimos anos, estão ouriçadas. O Putin e o líder chinês vendo a hora. Triste país " Brava gente brasileira, Longe vá, temor servil, Ou ficar a Pátria livre, Ou morrer pelo Brasil.Joel Robinson - 09/03/2022 18:51:35
Quando o regime é a PARTIDOCRACIA como se fosse uma entidade paga pelo povo, o resto é conversa fiada. Agora teremos as tais igrejas a comer uma fatia do poder liderado por idiota e seus lobotomizados. Antes eram os petralhas esquerdopatas agora é a direitalha. Só nos resta a vinda de um E. T. ou de robô co IA....Eliana Jardim - 09/03/2022 12:54:08
Há quanto tempo se espera o voto distrital? Não há