Percival Puggina
Já vi muito vigarista atingindo a honra alheia, não porque seja orientado por elevados valores morais, mas por mecanismo de autoproteção ou de compensação. Esse mesmo indivíduo mentirá sempre que conveniente ou necessário. Construirá oportunidades de ganho ilícito, ou delas se aproveitará, quando as circunstâncias o propiciarem.
Estou dizendo isso porque tendemos a crer que a mentira e a conduta farsante sejam rupturas menores com a ordem moral. Na minha convicção são todas janelas de um mesmo compartimento. Dão acesso a um interior essencialmente corrompido.
Com o pouco que se sabe das recentes denúncias que chegam ao conhecimento público na área de compras do Ministério da Saúde, não há, nem haverá, de imediato, condições para se formar um juízo sobre responsabilidades pessoais. A exceção fica por conta daqueles que, com tão pouco esclarecimento, já tem opinião formada e acendem fogueira no tribunal inquisitorial da CPI da Covid.
A propósito, você acredita que aqueles senhores que compõem a pré-fabricada maioria da comissão estão zelosos pela sua saúde, ou pela Saúde Pública? Estão virtuosamente atentos a essa andrajosa e desprezada senhora chamada Verdade, pela qual passam sem dedicar um simples olhar? Estão de fato querendo combater corrupção e seu interesse comum não é meramente político?
Faço estas perguntas porque tenho observado, por exemplo, a estudada indignação do imaculado senador Omar Azis quando dele divergem; tenho dado ouvidos (valha-me Deus!) à falsa erudição e ao ódio destilado pelo recordista senador Renan; tenho reconhecido, no tradicional berreiro da claque, maus modos e sons que me vêm dos tempos de adolescente em assembleias estudantis...
Certezas verdadeiramente científicas têm prazo de validade imprevisível, mas são finitas. A ciência avança. Observo com espanto, então, as severas convicções clamadas por indivíduos cuja “ciência” se deu por satisfeita no oitavo ano do ensino médio.
As denúncias desta semana cobram investigação como o próprio presidente determinou, e já estão em curso. Assim deve ser a prática em um estado de Direito. Mas a honra e a dignidade alheia não têm porta de vaivém, pela qual se entra e se sai como estou vendo acontecer cotidianamente, seja na CPI, seja em suas repercussões na mídia militante.
Conforme escrevi nos dois primeiros parágrafos deste artigo, tal conduta não diz boa coisa do caráter de quem a isso se presta. Quem age assim não faz só isso.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Natanael Silva - 01/07/2021 07:29:25
Belo texto. Fiel retrato do que temos visto e percebido nos poucos momentos dedicados a assistir ao este circo de horrores, chamado CPI.ALCEBIADES DA SILVA SANTOS FEITAL - 29/06/2021 20:08:02
Excelente artigo caro Puggina.Isaias Lopes da Siva - 27/06/2021 09:10:28
Oh quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união,assim diz o salmo 133 da Biblia Sagrada.Estes vermes que atormentam a vida da humanidade com suas mentiras para proveito próprio serão futuramente exterminados pelas forças do Bem.Celso Ladislau Kassick - 26/06/2021 10:11:20
A quadrilha de senadores que comandam este interrogatório facísta, cometem crime de genocídio moral de pessoas que, diferente deles, são probos e honrados!Menelau Santos - 25/06/2021 15:51:49
Palavras certeiras, como sempre, do Professor. Hoje me parece tudo banalizado. Denúncia sem indícios, acusações sem provas, impeachment sem povo, ressentimentos sem ofensas explícitas. Mundo muito esquisito.Luiz R. Vilela - 25/06/2021 11:46:31
Nada como um dia atrás do outro, e uma uma noite entre eles, para que se sonhe que a verdade prevalecerá entre nós. No filme Lawrence da Arábia, existe uma cena, em que os oficiais britânicos reclamam ao embaixador inglês, o fato do governo de sua majestade ter mudado de lado, no meio da guerra entre árabes e turcos, deixando-os em posição contrária ao seu pais. Responde o embaixador com toda a simplicidade possível, de que até entre os ladrões nas cadeias, existe ética, só na política é que não. Este filme já tem mais de 50 anos, mas o comentário do embaixador é de uma verdade irretocável e sempre atual. Porque os ladrões são éticos e os políticos não? Existe algum motivo especial para a política ser da maneira que é, principalmente no Brasil? Agora mesmo, o ministro do STF Gilmar Mendes, acaba de dar a última "enxaguada" na ficha do cidadão Luis Inácio Lula da Silva, tornado-a tão branca quanto as vestes de Nossa Senhora em dia de aparição. Também não é um acinte, fichas sujas desta tal CPI ameaçando pessoas que discordam deles, de mandar prende-los? Não é só ética que falta na política brasileira, a falta de vergonha na cara desta gente, já ultrapassou todos os limites, já virou barbárie.Antonio - 25/06/2021 11:33:25
Parabéns pelo artigo. Seu texto ponderado e punjante merecem reflexão, principalmente por aqueles que se julgam donos da verdade absoluta ou ainda aqueles que na ânsia de alcançar seus objetivos sobrepujam seus semelhantes com assaques maldosos. Deus tenha compaixão dessas pessoas.