• Percival Puggina
  • 26/06/2017
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DELAÇÕES, COLABORAÇÕES PREMIADAS E O ESTRANHO CASO JBS

 

 Por não lhe haver sido disponibilizado o instituto da colaboração premiada, Marcos Valério acabou como grande pato da ação penal referente ao Mensalão. Segundo leio, o publicitário, tardiamente, vem procurando construir um acordo nesse sentido desde meados do ano passado. Foi no âmbito da posterior Lava Jato que esse instrumento processual chegou aos colarinhos brancos e evidenciou sua inequívoca utilidade para desbaratar organizações criminosas que atuam nas vísceras do Estado brasileiro.

 Quando as delações começaram a ser divulgadas, manifestou-se na opinião pública certa rejeição, considerando-as intoleráveis à luz dos ensinamentos morais comuns. Não é reverenciável, de fato, a conduta do dedo-duro, do alcaguete. Por isso, há advogados que se recusam a empregar tal expediente na defesa de seus clientes. No entanto, a Lava Jato jamais alcançaria a abrangência que alcançou não fosse o uso massivo que dele vem fazendo. Para que se tenha ideia do vulto que tomou, em março deste ano somavam-se 140 acordos de colaboração e, como não há reserva de mesa para tais celebrações, subsiste longa fila de espera.

Data de 2013 a Lei de Combate às Organizações Criminosas, que disciplina a matéria em nosso país. O crime organizado, dificilmente é desarticulado de alto a baixo e desfeito em peças que possam ser buscadas pela polícia, sem que alguém, desde dentro, entregue o serviço. A lei dá ao procedimento o nome de "colaboração premiada" e, convenhamos, é muito bem-vinda. Através dela, ironicamente, muitos congressistas membros da Orcrim acabaram fornecendo à justiça a corda com que, um dia, poderão ser "enforcados".

E o caso da JBS? Ou, mais especificamente, o caso do super prêmio concedido à colaboração de seus proprietários, que o STF acabou de sacramentar? Pois apesar da pragmática e burocrática decisão do Supremo, que se ateve aos aspectos formais da decisão do ministro Edson Facchin, seu exotismo dá margem a especulações. Se até o santo tem direito de desconfiar das esmolas excessivas, não podem ser menos legítimas as suspeitas dos pecadores. E bota excessivas nisso! O próprio tribunal não ficou alheio a essa excepcionalidade. É o que se depreende das manifestações de alguns ministros sobre o fato de que uma revisão desse acordo ensejaria uma enxurrada de pedidos semelhantes pelas defesas de outros réus.

Tudo, na verdade, chama a atenção: a presteza da operação; a concessão de absoluta anistia aos crimes praticados pelos Batista Brothers, malgrado a magnitude dos danos causados ao Erário e ao país nos âmbitos fiscal, previdenciário, político e econômico; a acolhida e a divulgação da gravação com Temer como prova maior (ao que se sabe), sem ter sido periciada; a estranha acolhida no âmbito da relatoria da Lava Jato (ministro Edson Fachin) de um acordo de colaboração que nada tem a ver com o caso do qual ele é relator; o evidente estrabismo dos colaboradores que receberam seus mais fabulosos bônus, em espécie, durante os governos petistas, mas desfecharam a integralidade de sua denúncia contra Michel Temer.

Por outro lado, permanece incompreensível ao meu entendimento o tal acerto pelo qual o presidente Temer, com 76 anos de idade, passaria a receber parcelas semanais (!) de R$ 500 mil ao longo de 20 anos, ou seja, até os 96 (!) num negócio com preço de gás. Quem neste país faz acordos por vinte anos? Quem se iria expor a carregar mala de dinheiro, toda semana, até 2037? Que influência pode exercer Temer sobre o CADE ou qualquer órgão público, que não se extinga, no máximo, em 18 meses? Muito, muito estranho!

Esclarecimento final: se repudiei a chapa Dilma/Temer em 2014; se sempre me pareceu que, tendo este último ocupado as posições que ocupou em seu partido e no governo, era impossível atribuir-lhe o desconhecimento dos fatos que aconteciam à sua volta; se, por isso, em nenhum momento me alinhei em sua defesa, não será agora que o farei. Este artigo é, apenas, um desabafo de minhas perplexidades.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


Edison França -   02/07/2017 12:22:52

Infelizmente, professor, depois que o ministro Marco Aurélio teceu Loas à biografia do Aécio, autorizando seu retorno ao Senado, creio que não haverá mais nenhum condenado com essas delações da Friboi. Tá correto que o MP não poderia manter Aécio afastado, não estava correto, quem tem de decidir isso é o Senado, se condenado for. Mas, ficar fazendo elogios a biografia do Aécio, foi demais!!

Jorge Ernesto Macedo Geisel -   01/07/2017 15:07:45

Para entender a esbórnia é necessário, antes de tudo, ter vocação nata para o surrealismo...

maismimi -   28/06/2017 16:26:45

A gravação da dilma e o lulalá foi considerada como ilegal, porque foi feita depois da emissão do despacho e o normal é ter a gravação até a chegada da decisão nas operadoras de telefonia. Nunca uma gravação desta foi considerada ilegal, exceto da do "tchau querida".Este garavação é prova válida????O friboy é que foi cometer o crime e não o presidente.

maismimi -   28/06/2017 16:23:21

O mais estranho foi o vazamento da delação pelo Lauro Jardin da Globo. Quem vazou? Foi PGR? Foi o STF? Ou foram os JBS ?Dissem para seguir o dinheiro, bem o JBS lucro milhões com a queda da bolsa e a valorização do dolar. O Janot ficou como herói. O PT se esbaldou com o escândalo.

Odilon Rocha -   26/06/2017 23:40:10

Caro Professor A sua e a nossa perplexidade fazem todo sentido. Fico aqui imaginando as articulações e prevenções que devam estar sendo tomadas e tratadas para prender quem há muito já deveria estar. Incrível. O Procurador Dallagnol tem toda razão, a qual apoio, em dizer que corrupção é crime hediondo. Arrasar um Nação com premeditação é o quê?

Jonny Hawke -   26/06/2017 20:30:02

Esses calhordas ganharam tanto dinheiro que nem a justiça dos EUA está conseguindo colocar as mãos neles (vide o exército de advogados). O Brasil é o país onde a injustiça é inocente e a verdade é decadente.

Renê -   26/06/2017 17:35:40

Creio que só será óbvio que Temer é bandido quando comprovarem que Temer é bandido. Não é defesa de Temer é defesa do devido processo legal.

Carlos Rocha -   26/06/2017 16:27:52

O mais estranho, é que a TOTALIDADE DA IMPRENSA está apoiando o uso de provas conseguidas de maneira ilícitas, apoiando um relator que foi ajudado pela JBS a chegar ao STF e homologa benefícios maravilhosos a quem o ajudou e sequer está interessada em investigar o fato do Joesley ter tido, 15 dias antes de delatar, aulas de delaçâo com UM PROCURADOR E UMA DELEGADA DA PF!!!

Dalton C. Rocha -   26/06/2017 13:44:48

Sob Lula e Dilma, o BNDES e a Caixa Econômica Federal deram dezenas de bilhões de reais, para figuras como Eike Batista, José Carlos Bunlai e os "irmãos metralhas" da JBS. Na verdade, o verdadeiro problema não está em Lula ter mandado darem dezenas de bilhões de reais, para figuras como Eike Batista, José Carlos Bunlai e os "irmãos metralhas" da JBS. O verdadeiro problema está, em existirem bancos públicos tais como BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Enquanto existirem bancos públicos, não faltarão corruptores, para meterem a mão, no dinheiro deles. Há no Brasil cinco bancos públicos: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, BNB e BASA. Privatizem todos os bancos públicos! Todo o resto é só escândalo e conversa fiada. O verdadeiro problema do Brasil não é Temer. Como também não era Dilma, não era Lula, nem FHC, nem Collor, nem Sarney, nem Jango ou Jânio. O verdadeiro problema do Brasil é, o patrimonialismo. A eterna mania nossa de confundir patrimônio público, com patrimônio privado. Afora isto, estamos sempre apostando em fracassos e vergonhas. Em 1888, nós fomos o último país das Américas a acabar com a escravidão e seguimos hoje, tendo coisas abjetas, tais como o monopólio estatal do petróleo e o imposto sindical. O petróleo é dos árabes. E a Petrobrás é da CUT. Dei-me um país, que tenha monopólio estatal do petróleo e, eu lhe darei um país pobre e uma cleptocracia. Qual deveria ser o hino do PT? Aquela música que diz: “Onde está o dinheiro? O gato comeu, o gato comeu. E ninguém viu. O gato fugiu, o gato fugiu. O seu paradeiro está no estrangeiro.” Quem quiser, que veja a música completa neste site: https://www.youtube.com/watch?v=92rr8EcDc90

Gustavo Pereira dos Santos -   26/06/2017 12:49:45

Sim, tem caroço nesse angu. É óbvio que o Temer é bandido, mas torço para que seja preso em JANEIRO DE 2019. Ass: um dos 14 milhões de desempregados.