• Percival Puggina
  • 23/06/2016
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"CUSTO BRASIL" E SEUS PAGADORES

 

 Nesta quinta-feira (23/06), enquanto milhões de brasileiros acordavam para mais um dia de trabalho (ou a procura de trabalho), na capital paulista e outras cidades do país, algumas pessoas amanheceram com a Polícia Federal batendo à porta de suas residências. Era uma fase de busca, apreensão, condução coercitiva e prisões da operação Custo Brasil. No centro das atenções estavam dois ex-ministros de Lula e Dilma, dois ex-tesoureiros do PT, destacados advogados e a própria sede do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores.

 Sem emitir juízo prévio sobre qualquer dos investigados, mas examinado o conjunto dessas operações que se desenvolvem na esteira da Lava Jato, é impossível não perceber, no nome da recente operação da Justiça Federal paulista, sua relação com a crise que vive o país: "Custo Brasil". Numa infortunada combinação de incompetência, irresponsabilidade e desonestidade, o Brasil foi se tornando um país oneroso a todos nós. Quem dentre os leitores não tem, no círculo de suas relações, brasileiros que, neste momento, buscam no exterior melhores oportunidades e condições de vida? Resultado do custo Brasil. Nosso país, sempre aberto às mais variadas etnias, hoje perde muitos de seus jovens, muitos de seus talentos, por verem exauridas, aqui, oportunidades e esperanças.

 Tão dolorosa ruptura, tão antinatural desarraigamento tem muito a ver com a rapinagem do Estado e com a abundância de recursos para os quadrilheiros do poder, com a demagogia, com os privilégios da elite do setor público, com os luxos sustentados pelo erário e com os delírios de grandeza e popularidade daqueles que hoje, escondidos na escuridão dos automóveis, se deslocam de garagem para garagem sumidos da luz do sol e das vistas da população. Nossa insegurança, a violência no meio urbano e rural, a miserabilidade da atenção à saúde pública, a decadência de todo o sistema de ensino e o desastroso conjunto das carências sociais, são consequência dessas práticas.

 No entanto, se temos tanto a lamentar, temos, simetricamente, muito a celebrar com a atuação firme do Ministério Público, e em especial, nestes episódios, do Ministério Público Federal. O MPF está fazendo prova do efeito positivo de algo a que nosso país acostumou-se a considerar irrelevante: o papel das instituições. As franquias e abusos que maus governantes proporcionam, que maus políticos aproveitam e ante os quais o Poder Judiciário não pode agir se não for provocado, estão encontrando adversário à altura na autonomia institucional que o Ministério Público recebeu na Constituição de 1988.

Quem dera os pagadores do Custo Brasil despertassem, também, para a necessidade de promover combate cívico aos vícios institucionais que favorecem a apropriação criminosa do Estado! Estou falando do presidencialismo e do voto proporcional para os parlamentos, cuja manutenção muito convém ao jogo e ao mandato dos quadrilheiros. Apesar de darem cada vez menos certo há mais de um século, misteriosamente ambos continuam percebidos como essenciais à democracia.


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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


Jan Mainsworth -   28/06/2016 18:50:02

O mais grave é a covardia. A acomodação da falta de cultura e da formação jogada às traças em instituições arcaicas e doutrinárias.

Vanderlino H Ramage -   27/06/2016 19:42:46

A questão é bem mais ampla, porém cristalina. A crise brasileira é sobretudo uma crise ética portanto de valores. Discordo de quem diz envergonhar-se de ser filiado ao PSDB. O problema não está no PSDB, mas nos seus filiados. Está na nossa omissão. Vejamos, ocorrem mais de cem mil mortes violentas por ano no Brasil, entretanto não se consegue colocar mil pessoas na rua para protestar contra esta matança sem precedentes na história dos povos ditos civilizados, em contra partida a parada GAY é prestigiada, pela família brasileira, com a presença de 3 milhões de pessoas na Av Paulista. "Viva a Diversidade". Enquanto isso a decrepitude da civilização avança e nos torna prisioneiros do "politicamente correto". Infelizmente o ser humano parece que apreendeu muito pouco com com a história. Aliás diz-se que esta se repete duas vezes, a primeira como farsa, a segunda como tragédia. A farsa é a pseudo democracia brasileira, a tragédia é o que virá depois, caso não se mude o azimute!

José Lima -   25/06/2016 23:38:56

Começando cair à máscara do governo do PT, vamos arrumar o Brasil com muitas reformas em todos ministérios acorda povo chega de roubos, um grande abraço meu amigo.

urgel borges -   25/06/2016 22:44:36

E os OUTROS professor???Sou velho,com orgulho...Não sou petralha, pelo contrário,sou filiado ao PSDB...Do q hoje me envergonho. O senhor é um grande filósofo,mas me parece com um foco muito DIRIGIDO... Os problemas do Brasil são bem maiores ...Pelo q se vê anteriores aos petrelhas e coxinhas. Mas , continuo lendo seus comentários.

maria-maria -   25/06/2016 20:09:01

O quadro político deteriorou-se de tal modo que uma eventual, mas necessária defenestração da linha sucessória se inviabiliza, pois todos os "aspirantes" à presidência, sem uma única exceção, estão comprometidos com a corrupção desenfreada reinante nos três pRoderes. Pode, então, ocorrer que, em eleição antecipada, sem tempo para o surgimento de novas lideranças, figuras oportunistas, já conhecidas, sejam guindadas à presidência, iniciando mais etapa do mesmo descalabro que hoje nos martiriza neste presidencialismo criminoso.

Genaro Faria -   25/06/2016 19:16:19

IMAGEM COMENTADA Na frente da mangueira da Lava Jato, o PT - Partido do Trambique, está dissolvendo a demagogia e a falácia que o sustentaram à custa do propinoduto bilionário dos ricos e das migalhas aos "excluídos" distribuídas com o bolso alheio. E passa a "beber a maior parte do veneno da maldade que produziu" (Sêneca).

Rosangela -   25/06/2016 18:47:52

Nós estamos na era da indignação, denúncias e punições. Logo depois virá a geração que terá uma tremenda mão de obra para organizar tudo e, somente nossos netos e bisnetos é que poderão desfrutar da verdadeira ética e reais possibilidades de evoluir. Será que estou sendo muito simplista? Será que estou delirando? Será que é uma utopia?

Silas Velozo -   25/06/2016 16:06:42

Bem dito & escrito mais uma vez, Puggina. Ainda há um trajeto longo a ser refeito tb nas mentes tupiniquins, q consideram o estado como mãe, não um gerenciador. Abç

Luiz Felipe Salomão -   24/06/2016 16:00:30

Caro Professor, boa tarde! E por falar em ‘despertar’, o povo Britânico demonstrou um elevado nível de maturidade ao promover a vitória do BREXIT no pleito ontem realizado. Por oportuno, farmácias e casas do ramo alertam aos Globalistas e Iluministas em geral que os analgésicos estão em preço de ocasião. Saudações.

Odilon Rocha -   24/06/2016 15:19:00

Parece que não sou só eu que pensa sobre a grandes possibilidade de fraude no uso das "bem ditas" eletrônicas. http://googleweblight.com/?lite_url=http://rodrigoconstantino.com/artigos/reino-unido-faz-plebiscito-sem-urna-eletronica-e-primeiro-ministro-renuncia-apos-resultado/&lc=pt-BR&s=1&m=188&host=www.google.com.br&ts=1466781082&sig=AKOVD67aREbFGXGkTtdlxqGjSBok40E_aA

Odilon Rocha -   24/06/2016 02:13:13

Caro Professor Além da extinção da imunidade parlamentar, que, no duro, está mais para 'impunidade parlamentar', insisto na extinção das urnas eletrônicas, totalmente manipuláveis. Qualquer profissional muito bem graduado em TI sabe disso. Se democracias e países de primeiro mundo não usam, pelos motivos que eles muito bem sabem, por quê insistimos? Só esses dois assuntos resolvidos e as coisas já começariam a ficar bem diferentes. Sim, eu sei, claro, juntamente com o parlamentarismo e voto distrital. Aí, sim, as coisas começariam a deslanchar.

Genaro Faria -   23/06/2016 17:44:58

Caríssimo Puggina, além do presidencialismo e do voto proporcional, deveríamos nos livrar do foro privilegiado. Essa imoralidade vem causando um atraso inaceitável à faxina que está colocando os criminosos organizados em forma de partido político no seu devido lugar: a cadeia.