• Percival Puggina
  • 21/10/2016
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CUNHA JUNTOU-SE AOS SEUS

 

 Afeito ao debate político, sei que sempre há quem busque convencer e vencer sem ter razão. Os meios para alcançar esse resultado foram estudados por Arthur Schopenhauer, que listou 38 estratagemas úteis a tão torpe objetivo. O último na lista do autor e o mais vil de todos na minha opinião, é aquele em que o debatedor, sentindo-se perdido, deixa de lado o tema e passa a atacar a pessoa de seu adversário. Schopenhauer dá a isso o nome de argumentum ad personam. Recentemente, os adjetivos fascista, coxinha, golpista, direita raivosa, cumpriram esse objetivo. Idêntica intenção motivou a associação, tão insistentemente apontada quanto falsa, de que o impeachment era uma iniciativa de Eduardo Cunha apoiada por gente como ele. O inverso também não é verdadeiro.

O tema era outro e os fatos não foram esses. Em março de 2015, a nação saiu às ruas clamando contra a corrupção e pelo impeachment de Dilma, dando origem às dezenas de requerimentos nesse sentido que se acumularam sobre a mesa de Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados. Durante o ano inteiro, Cunha os reteve, a oposição se conservou irresoluta, e o PT não se defendeu das denúncias, delações e investigações da Lava Jato. Em vez disso, preferiu atacar os manifestantes, acusando-os de terem, pelo velhaco Eduardo Cunha, os mesmos sentimentos de amor sem medida nem juízo que os petistas mantinham e mantêm por Lula e seus comparsas.

Cunha não era líder nem modelo de coisa alguma para os milhões de famílias brasileiras que clamavam às instituições em inolvidáveis e pacíficas concentrações cívicas. Ele era apenas o sujeito que tinha na mão a caneta que podia fazer andar o processo. E note-se: fez o possível e o impossível para esfriar as manifestações. Ao insistir na tese de que o impeachment não era uma iniciativa do povo nas ruas, mas um plano de Eduardo Cunha, o PT cuidava de transferir ao procedimento a improbidade do infame presidente da Casa.

A história haverá de registrar que há apenas sete meses, no domingo 13 de março deste ano, deputados, senadores, ministros do STF, dirigentes de partidos políticos e demais membros da cúpula do Estado brasileiro, acomodaram-se em seus sofás para assistir as manifestações pelo impeachment. Se fossem pouco expressivas, ele estaria cancelado. O que testemunharam, porém, foi o rugido das avenidas e praças do Brasil, a assombrosa mobilização de 6 milhões de cidadãos cobrando deles, em seus sofás, o cumprimento dos respectivos deveres. Ali Dilma perdeu o mandato. Além da motivação por crime de responsabilidade, sobrava motivação política. Eduardo Cunha? Ora, o Cunha! Juntou-se aos seus. Ele foi o estafeta do requerimento e o 38º artifício petista contra a vontade soberana da comunidade nacional.

Nesta semana, foi fornecida e autenticada a prova de que o povo brasileiro vale muito mais do que imagina quem jogou o país na sinistra situação em que se encontra. Só entre os membros da organização criminosa, em qualquer lado do balcão, a prisão de Cunha causou taquicardia e hipertensão arterial. A população? Ah! A população festejou o evento. Vibrou com a iniciativa de Sérgio Moro, naquelas horas em que o solitário ex-presidente da Câmara seguia para Curitiba. E uma lufada de ar mais puro varria os céus da República.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


Jean Valente -   24/10/2016 01:13:39

O tempo do Eduardo Cunha já passou. Mas a nossa ação deve continuar, não devemos esmorecer ou dormir. Temos agora que agir para não nos deixarmos cair em um horrível mundo preparado pelo Psol, chamado Projeto de lei 8048 que tramita na Câmara, em procedimento direto, que não necessita passar pelo Plenário da Câmara para ser aprovado. Tal PL é a continuação do Decreto 8243 de 23/05/14 da Dilma, o que institui a Política Nacional de Participação Social e que foi rejeitado pela Câmara. As criaturas retornaram, agora com ardiloso trâmite, que na prática acaba com a representação legislativa e com.... a propriedade privada, tanto rural quanto urbana. Sim a sua casa poderá ser invadida e só lhe restará chorar.

Ismael de Oliveira Façanha -   22/10/2016 20:16:50

No póstumo e inacabado "COMO VENCER UM DEBATE SEM PRECISAR TER RAZÃO", o filósofo alemão denuncia as tretas e mutretas utilizáveis pelos debatedores em qualquer assunto, aos quais só a vitória interesse. Gostaria de alertar a quem interessar possa, que o Moro cruzou o Rubicão, ao prender, como é sua mania, Eduardo Cunha, o Mister Impeachment. Sem ele Dilma não teria sido cassada. Os cordéis que manipulam a classe média desde 1964, que demoliram o PT, poderão deter a destruição da classe política pelos puritanos da Salem dos pinherais? Como Dr. Frankenstein vai controlar o monstro?

nelson oscar de souza -   22/10/2016 19:33:06

CARÍSSIMO, PERFEITO O TEU TEXTO. ORA, O CUNHA !... O ARTIGO DE ELIANE CANTANHEDE DE ONTEM, NO ESTDAÃO, LISTA TODOS OS SEUS "BEMFEITOS" (já que a ex e letrada Mestra criou o termo MALFEITOS para a delinquencia sua e de seu partido). É precis arejar este país. abraço, nelson

maria-maria -   22/10/2016 19:30:15

É com satisfação que constato que tua opinião vai ao cerne da questão: só os muito ingênuos -e foram tantos! - festejaram "a coragem, o denodo e o patriotismo" de um crápula interesseiro. Cunha sempre foi um reles chantagista. Ficou dormitando sobre a meia centena de denúncias os crimes da (des)governanta, usando isso como moeda de troca para não ser cassado. Depois, talvez como cartada decisiva, mas não mortal, aceitou a dos juristas tendo, antes, o cuidado de desmontá-la. A peça minuciosa e repleta de provas foi desprezada, fixando-se cunha em um dado marginal, de difícil entendimento pelo povo e mais fácil de ser derrubada pelo JEC. É certo, porém, que levar a termo o processo, determinou sua desgraça, pois o STF, celeremente, usurpou de suas competências e o destituiu da função, o mesmo ínfimo tribunal onde repousa quase uma dezena de crimes perpetrados por Calheiros que, fiel ao pt, continua livre, leve, solto

fabrice -   22/10/2016 19:15:42

O artigo coloca, com muita clareza, fatos e pessoas no seu devido lugar. Muita gente boa andou “protegendo” o Cunha em agradecimento ao empurrão final que ele deu no impeachment, mas se esquecendo de que a coisa só andou quando e por que ele se desentendeu de vez com o Planalto da época, o que apequenou a decisão com o conteúdo do despique. Mas se o Cunha é tudo isso que os inquéritos levantaram, ora referendado pelo recebimento da denúncia, espero que a preventiva dele e o processo em Curitiba sejam o aperitivo ou, no máximo, a entrada do prato principal que ansiosamente aguardamos do chef Moro. Ou o bilionário Lula vai conseguir se asilar (?!) ali no Uruguai. Por que não se manda pra “ilha paradisíaca” ou pra Venezuela? A ficha dele, parece, que não caiu, a esquizofrenia é em tal grau elevada que o desprezível ainda supõe ter alguma influência na política brasileira, quiçá do mundo... Só internando!

Joma Bastos -   22/10/2016 17:01:25

Segundo Eduardo Cunha, possivelmente serão delatados mais de cem deputados, senadores e alguns membros dos supremos tribunais. Será verdade? A ver vamos! A acontecer algo assim, este Brasil se incendiará politicamente.

Odilon Rocha -   22/10/2016 13:45:41

Mas, caro Professor, o time, e que time!, não está completo. Aliás, em breve, talvez não se veja por aí um time em que o número de reservas é bem maior que o principal.

Artus James Lampert Dressler -   22/10/2016 13:23:20

E mais: Com o recurso interposto pela DILMA junto ao STF, para anular seu processo de impeachment, o MINISTRO TEORI solicitou informações ao SENADO; EU, no lugar do TEORI, com as informações a serem recebidas, onde seguramente constará o fatiamento do 52, como se mortadela fosse, não perderia a oportunidade. Refiro-me a que oficial e concretamente o caso tendo ingressado na SUPREMA CORTE, eu não só indeferia o recurso como “desfaria o fatiamento”; isto é, cassava os direitos políticos dela. EU LEVO FÉ NO TEORI !!! A República agradecerá o burro recurso do POSTE 1 (POSTE 2 é o HADDAD) encerrando a era lulopetista da empulhação “postificada”, mas para devolver a integridade ao 52 da CARTA ESTUPRADA; servira para mais uma lição aos seus pensamentos desconexos : “NÃO CUTUCAR LEÃO COM VARA CURTA”. Eis o texto e a brutalidade grosseira do estupro e da interpretação dantesca: Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, KKKKKKKKKK vergonhoso e grotesco fatiamento feito aqui KKKKKKKK cooooooooooooommmm inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis. Sobre o estupro do 52 o Ministro GILMAR MENDES declarou em público: ”... foi um comportamento vergonhoso”; -. Transpirou que a maioria do STF, se a ele for interposto recurso, será dado de volta a integridade ao conteúdo do 52. Depois da prisão da guarda do CALHEIROS, deve vir chumbo muito grosso. AGUARDEMOS

Jonny Hawke -   22/10/2016 11:09:27

Veja o Brasil por exemplo 70% dos empregos brasileiros são gerados pelas pequena e médias empresas. Daí vem o político populista e diz pro povo que eles são a elite. Detalhe: o mesmo político ganha seus R$ 35.000 mensais e fora os auxílios e propinas e quando fica doente ou precisa de um check up vai no Albert Eistein gozar dos privilégios dos nossos impostos. Ele tem segurança, fazendas, mansão, jatinho (que é obvio que consegue tudo isso não apenas com a merreca de 35 miletas) E ainda vem dizer que está no mesmo nível do povo? Se com todas essas mordomias ele não é da elite, então não sei quem é! O sistemas populistas estão se distanciando tanto do capitalismo, comunismo ou socialismo, eles tem mais em comum com o feudalismo, cujo o senhor feudal chama-se Estado.

Marcio Manoel -   22/10/2016 09:07:52

Bom dia Percival! Neste artigo, vc cita os estratagemas de Schopenhauer. Seria possível publicar os mesmos, para nosso conhecimento? Agradeço e um abraço. Marcio Manoel.

Gustavo Pereira dos Santos -   22/10/2016 08:05:11

A primavera gaúcha é ventosa. Belas lufadas, bons ventos. By the way, a equipe do Temer tá indo bem. Se conseguirem aprovar a PEC 241, a Reforma da Previdencia e a Reforma Trabalhista, Temer passará para a história como um bom presidente tampão, like ITAMAR FRANCO.

Genaro Faria -   21/10/2016 23:35:39

Divorciados da realidade e, portanto, do povo, como sempre, os petistas e outros companheiros comunistas de diversas denominações, como Psol, Rede, PCdoB, não tiveram como sentir alívio ou prazer com a prisão de Eduardo Cunha. Logo se tocaram que Lula vai se juntar ao velho comparsa sob a custódia da Polícia Federal. Rui Falcão, com aquela cara de agente funerário de filme de terror, aproveitou a ocasião para atacar os "excessos" cometidos pela justiça federal. E eu pergunto: como não rir dessa gente?