• Percival Puggina
  • 21/06/2017
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CUBA, UMA REVOLUÇÃO DECRÉPITA E RABUGENTA

 

 Em 1959, meus pais vieram morar em Porto Alegre. Aqui estavam as universidades e os melhores colégios públicos que para elas preparavam seus alunos. No topo da lista, o Colégio Estadual Júlio de Castilhos e seus excelentes professores. Por ali passaríamos os sete irmãos, cada um ao seu tempo. Era impossível, na efervescência intelecto-hormonal e no dinamismo da política estudantil dos anos 60, ficar imune aos debates e às disputas entre as distintas e "sólidas" convicções dos adolescentes às voltas com suas espinhas. Foi nesse ambiente que ouvi, pela primeira vez, afirmações que repercutiriam através de sucessivas gerações de brasileiros: nosso país, a exemplo de outros, era subdesenvolvido por causa do imperialismo norte-americano, do capitalismo, da ganância empresarial e da remessa de lucros para o estrangeiro. Desapropriação e nacionalização compunham palavras de ordem e o fogoso Leonel Brizola se encarregava de agitar a moçada com inflamados discursos a respeito.

 Para proporcionar ainda mais calor àquela lareira ideológica, Fidel Castro, montado num tanque, passara por cima dos supostos males causados pela burguesia e - dizia-se - colocava Cuba no limiar do paraíso terrestre. Derrubara uma ditadura e implantava o comunismo na ilha. Cá em Porto Alegre, nos corredores do Julinho, os mais eufóricos desfilavam entoando "Sabãozinho, sabãozinho, de burguês gordinho! Toda vil reação vai virar sabão!". A efervescência tinha, mesmo, incontidas causas hormonais.

Em meados de 2015, o New York Times publicou matéria repercutida pelo O Globo sobre as expropriações e nacionalizações promovidas pela revolução cubana em seus primeiros três anos. Menciona vários contenciosos que se prolongam desde então, envolvendo, entre outros, o governo espanhol, uma entidade representativa dos interesses dos cidadãos espanhóis, os Estados Unidos, bem como empresas e cidadãos norte-americanos e cubanos. Todos tiveram seus haveres confiscados, expropriados e, em muitos casos, surrupiados por agentes públicos. Ao todo, dois milhões de pessoas abandonaram a ilha, deixando para trás seus bens. Muitos, como a nonagenária Carmen Gómez Álvarez-Varcácel, que falou ao NYT por ocasião dessa reportagem, tiveram tomadas as joias de família que levavam no momento em que abandonavam o país. Segundo a justiça revolucionária, tudo era produto de lucro privado e merecia ser expropriado. Quem, sendo contra, escapasse ao paredón, já estava no lucro. Um estudo da Universidade de Creighton fala em perdas de US$ 6 bilhões por parte de cidadãos norte-americanos. As pretensões espanholas chegariam a US$ 20 bilhões.

No discurso da esquerda daqueles anos, e que se reproduz através das gerações, Cuba, tinha, então, o paraíso ao seu dispor. Sem necessidade de despender um centavo sequer, o Estado herdou todo o patrimônio produtivo, tecnológico e não produtivo de empresas privadas e de milhões de cidadãos. Libertou-se a ilha da dita exploração capitalista. O grande vilão ianque foi banido de seu território. Extinguira-se, de uma só vez e por completo, a remessa de lucros. A maldosa burguesia trocara os anéis pelos dedos.Tudo que o discurso exigia estava servido de modo expresso, simultâneo, no mesmo carrinho de chá.

Cuba, no entanto, mergulhou na miséria, no racionamento, na opressão da mais longa ditadura da América, na perseguição a homossexuais, na discriminação racial e na concessão a estrangeiros de direitos que, desde então, recusa ao seu povo. Por outro lado, enquanto, em nome da autonomia dos povos, brigava como Davi com bodoque soviético contra os Estados Unidos, treinava e subsidiava movimentos guerrilheiros centro e sul-americanos, e intervinha militarmente em países africanos a serviço da URSS.

O recente recuo político promovido por Trump nos entendimentos com a alta direção de Castro&Castro Cia. Ltda. leva em conta aspectos que foram desconsiderados por Obama e pelo Papa Francisco, tanto na política interna da ilha quanto nos contenciosos nascidos naqueles primeiros atos da revolução. Não posso ter certeza sobre quanto há de proteínas democráticas na corrente sanguínea de Trump animando essa decisão. Mas não tenho dúvida, porque recebo informações a respeito, que os milhões de cubanos na Flórida conhecem como ninguém a opressão política, a coletiva indigência, a generalizada escassez e a falta de alternativas que sombreia sucessivas gerações de seus parentes sob o jugo de uma revolução velha e velhaca, decrépita e rabugenta. E essa pressão política pesa muito por lá.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


Antonio Augusto d´Avila -   27/06/2017 19:34:57

Não sejamos ingênuos. Fidel Castro foi o grande garoto propaganda do complexo militar industrial dos EEUU. A "ameaça" de Cuba propiciou a modernização das forças armadas da América Latina inteira e não foram poucos bilhões faturados. Por outro lado, o enfrentamento "destemido" dos Castros fez com que os cubanos suportassem toda a miséria e carências e se orgulhassem disso. Trump está atrasado, pensa em voltar aos tempos áureos. Ele vai garantir, no mínimo, mais 30 anos para a clã castrista.

Nilton Cesar Pereira dos Santos -   26/06/2017 15:05:59

Excelente texto entre tantos deste Sr:Puggina Visão de águia. Endocando o decorrer destas linhas penso eu. "O maior muro construido não é o físico do presidente TRUMP, mas sim o psicológico e intelectual contruido na ilha cubana e em todos os países adepto dos regimes socialistas comunistas."

claudio gimenes -   24/06/2017 19:43:50

nem tanto ao mar nem tanto a terra entregar estatais como hidro eletricas companias mineradaoras esploradoras de niobio petrobras redes ferroviarias rodovias com pedagio esorbitasntes e muitos outros casos tudo a preço de banana onde matade vai para os bolsos da corupiçao ai pode ne isto e Brasil

Odilon Rocha -   23/06/2017 15:27:46

E eu ai da não tinha lido o artigo abaixo! Eu não disse? Internação dessa gente já! Abraço a todos! http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/o-pt-e-o-partido-povo-venezuelano-uma-singela-adaptacao-da-coluna-de-gleisi-hoffmann/

Odilon Rocha -   23/06/2017 15:19:19

Caro Professor Interessante como esquerdistas (eu já disse que é uma doença, mas ninguém acredita!) gostam de "reverenciar" troféus enferrujados. A hipocrisia é tão grande quanto o silêncio obsequioso que guardam, que nem sei se lembram daquele "majestoso empreendimento social" como troféu (?). Eu ensisto,...internação dessa gente já!

Dalton Catunda Rocha -   23/06/2017 14:05:41

Cuba não tem nenhuma significante atividade econômica, científica, comercial, mineral, etc. Afora grandes negociatas, como a DOAÇÃO de centenas de milhões de dólares do BNDES, país algum precisa de Cuba, para nada. Após as grandes negociatas, o maior negócio de Cuba é a produção de açúcar, que perde em tamanho, para nosso Estado de Alagoas. Todo o PIB de Cuba não chega a um quarto do PIB da cidade de Santiago, no Chile. Dei-me um aliado de Cuba e eu lhe darei um país pobre e uma cleptocracia. Exemplos: Bolívia, Brasil, Venezuela, etc. "O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema — o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós." > http://conservadores.com.br/o-anticomunismo-de-fernando-pessoa/

Guilherme Socias Villela -   22/06/2017 14:53:56

Como sempre, ótimo texto. Visitei Cuba havia menos de cinco anos. Observei que existem três Cubas: a dos restaurados prédios públicos - dizem que com recursos da UNESCO; a praia de Varadero - um paraíso para turistas ricos; e a pobreza da populaçao que é notória nos depredados prédios confiscados por sua revolução. .

Genaro Faria -   21/06/2017 21:32:36

Cuba é a vitrine socialista que dentre outras "extravagâncias" é a única ilha do mundo que não tem barcos de pescadores. Ou já estaria tão despovoada quanto aquela que habitavam Robinson Crusoé e o índio Sexta-Feira - todos teriam mudado para a Flórida. Mas para as lentes panglossianas com que os comunistas vêm a realidade dos países que dominam, cercar sua própria população com muros e fossos, soldados com fuzis e cercas eletrificadas para que ninguém saia vivo de lá "è cristiano". Não ser cristão é proteger seus cidadãos da invasão islâmica e do narcotráfico. Até Hegel repetiria que "a lucidez converteu-se em loucura e a bênção, em praga".

Jonny Hawke -   21/06/2017 20:05:37

No tempo de escola (nos anos 90) meus professores falavam maravilhas de Cuba e da URSS e me lembro que e o meus amigos ficávamos repetindo como papagaios o que eles diziam pra minha professora de história e ela disse: muito fácil culpas os americanos e fechar os olhos para ditaduras socialistas que já mataram milhões. Ela foi a única professora "anti esquerda" que eu tive pois os demais eram todos esquerdistas. Muito do que ela falou pra mim demorou pra acontecer mas agora está acontecendo e me lembro que ela sempre dizia que iria chegar um hora que os políticos "iriam brigar entre eles e cagar em cima o povo". Bom faz dois anos que já estamos vivendo assim. Quem não vê é militante fanático ou acha que não deve discutir política. Cuba foi uma ótima ideia até que Fidel viu que tinha que dividir o bolo com quem não queria fazer nada além de ficar vivendo nas tetas do estado. Resultado: para ele e seus amigos o luxo. Para seu povo o lixo. Brasil está ficando assim, só falta oficializar.