• Percival Puggina
  • 12/12/2016
  • Compartilhe:

COXINHAS E PETRALHAS NÃO ESTÃO NO MESMO BARCO

 

 A mensagem me veio em e-mail sobre o momento político e incluía esta convocação à unidade nacional: "Coxinhas e petralhas, uni-vos!". O absurdo propósito tem dois pressupostos:

1º) A denúncia da Odebrecht, que acaba de vazar, abalou o governo Temer tanto quanto estava abalado o governo Dilma por acasião do impeachment.
2º) Coxinhas e petralhas, estariam, agora, no mesmo barco, unidos por simétricos infortúnios.

Se é verdade que a denúncia do ex-diretor da Odebrecht Claudio Melo Filho fez um enorme estrago nos mais altos escalões dos partidos que se uniram pelo impeachment de Dilma Rousseff, é absolutamente falso traçar qualquer analogia entre a conduta pré ou pós impeachment de coxinhas e petralhas. Enquanto estes cumpriam missão partidária, aclamando bandidos como "heróis do povo brasileiro", fazendo uso de violência e depredações, os coxinhas, em momento algum, emitiram som ou gesto em defesa de qualquer corrupto, independentemente do partido a que fosse filiado. Justice for all! Toda tentativa de apresentar os dois grupos como faces distintas de uma mesma moeda é falsa como seria a moeda que o expressasse.

A melhor evidência do que afirmo me veio pela edição de ZH desta segunda-feira, 12 de dezembro, no relato de um leitor transcrito pelo jornalista Tulio Milman em seu "Informe Especial", à página 2. O autor teve o privilégio de comparecer à palestra proferida pelo juiz Sérgio Moro ao público que lotou um auditório da Universidade de Heidelberg. Esclarece o autor que palestrantes estrangeiros costumam atrair umas poucas dezenas de interessados. Para o evento com presença do juiz brasileiro, porém, foi necessário um auditório com capacidade para centenas de pessoas e muitas ficaram de pé.

Interrompo momentaneamente as referências ao relato do leitor de ZH para registrar algo que estou pesquisando enquanto escrevo. Antecedendo o evento, diversas personalidades enviaram mensagens à Universidade de Heidelberg alertando para suposta falta de credibilidade do magistrado que estaria empenhado em destruir o PT e proteger PMDB e PSDB. A KGB petralha estivera em ação internacional.

A Rede Brasil Atual, por exemplo, se encarregou de divulgar isso, no dia 9, afirmando que "Moro vai encontrar ambiente hostil na Alemanha", pois intelectuais brasileiros estavam advertindo a Universidade sobre as reais intenções de seu convidado. Eis, um parágrafo que, de certo modo resume, em péssima redação, o espírito petralha da matéria:

"Já houve uma série de protestos em forma de documentos encaminhados aos anfitriões do encontro, professores, alertando sobre quem eles estavam convidando". "(...) claro, um alerta em termos, eles sabem quem é Moro, mas cartas foram escritas alertando que o juiz não é um paladino contra a corrupção, e sim um paladino contra um partido".

A imprensa brasileira, reportando o evento, destacou a presença de manifestantes portando cartazes com acusações de parcialidade ao magistrado da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba. O leitor de ZH, contudo - voltando a ele - informa que eram uns poucos, cuja idade evidenciava não serem membros do corpo discente da instituição anfitriã. E sublinha que mais da metade do auditório aplaudira Sérgio Moro em pé, ao final de sua consistente e firme apresentação.

Toda a trama mentirosa contida nas matérias da sexta-feira se desfez no sábado. A delação da Odebrecht, a "delação do fim do mundo", foi cuidadosamente articulada na Lava Jato, sob as vistas do correto magistrado de Curitiba. Em outubro, ele já advertira para as turbulências que dela adviriam. E de fato, a primeira a se tornar conhecida acertou em cheio aqueles a quem os petralhas diziam estar sob proteção do juiz.

Então, por obséquio: coxinhas não são defensores de corruptos nem estão articulados com qualquer projeto estilo KGB para destruir a reputação do principal e mais eficaz combatente contra a corrupção em nosso país. Coxinhas não embarcam com petralhas.

________________________________
* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


 


Rossini -   13/12/2016 15:45:47

Se ser coxinha significa ser livre e ser contra toda a Orcrim, tudo certo!

Alessandro Gusmão -   13/12/2016 13:36:40

Só estão descobrindo tudo, inclusive o Temer, graças aos coxinhas nas ruas onde, desde 2013, conseguimos em protestos, o projeto da delação premiada que hoje pega toda a súcia dos corruptos. E não vamos parar aí. Queremos o fim do Foro Privilegiado.

Genaro Faria -   13/12/2016 13:16:48

Venho denunciando, há anos, que o PSDB e o PT, sim, são partidos complementares como as duas peças que formam uma tesoura. Isto, porém, quanto aos chefes partidários, não em relação aos eleitores. Estes, muito ao contrário, sempre se excluíram uns aos outros. Sempre foram, porém, joguetes dessa trapaça: os petistas, como idiotas disciplinados que sonham com uma utopia sem saber que a ideologia marxista é apenas uma máscara de sua essência monstruosa que transforma o regime comunista numa caricatura medonha de suas promessas. Já os eleitores de candidatos que se apresentam pela legenda do PSDB sabem, em sua grande maioria, que só estam votando no menos pior. Estes não são fanáticos nem idiotas, mas cidadãos que ficaram sem opção nesta pantomima sinistra que é o nosso pluripartidarismo.

Verdade Seja Dita -   13/12/2016 09:03:18

O problema é que tem muito coxinha bem fácil de dobrar! É por isso que o PT faz essa info war. Ainda mais com veículos como a ZH que esconderam que o PT também está na delação, como sempre fazem.

Odilon Rocha -   12/12/2016 22:28:06

Nem se pense em misturar! Porcos não gostam de coxinhas. Não estou xingando, A Revolução dos Bichos mostrou bem isso.