• Percival Puggina
  • 05/08/2020
  • Compartilhe:

COVID-19, A DOENÇA QUE VIROU SINTOMA.

 

 No Brasil, em quase tudo, a diversidade de intuitos políticos perturba a difusão da informação. Há profissionais trabalhando para que os fatos sejam conhecidos, outros para que passem despercebidos, outros para que sejam permanentemente lembrados e outros, ainda, para que sejam registrados como lhes convenha. Vejam, por exemplo, o caso da Covid-19 ao tempo do ministro Luiz Henrique Mandetta. No começo da pandemia, ele era pressionado em sucessivas entrevistas coletivas para se contrapor ao presidente que cobrava por políticas que conduzissem a uma redução bem mais branda das atividades econômicas. Ele sorria e resistia àquela evidente pressão.

 Em longas tardes de quarentena, a nação recebia comprimidos diários de terror com os números que chegavam da Europa. Rodadas de informação e orientação iam sendo entregues aos fidelizados consumidores brasileiros desse conteúdo. Aos poucos, como se sabe, o ministro entrou em rota de colisão com o presidente da República. Bastou isso, com o vírus desembarcando em São Paulo, para o ministro se tornar o novo “queridinho” do jornalismo militante do país. Em pouco tempo surgiram pesquisas para afirmar que, cotejado com Bolsonaro, o ministro agradava a muito mais gente. Acompanhado por um séquito de técnicos, durante longas horas diárias, ele teve franqueada plateia em todos os grandes canais de News. Era o ministro da “ciência, disciplina, planejamento e foco”. Falava em cadeia nacional. Deixou o ministério no dia 16 de abril aplaudido pela grande imprensa e entrou imediatamente na lista dos presidenciáveis de 2022.

 Nos grandes veículos, ninguém fala na desinformação semeada naqueles dias, nem nos danos causados. Densas nuvens de esquecimento caem sobre a recomendação para que fossem adiadas cirurgias eletivas e consultas, levando as pessoas a um “distanciamento horizontal” dos hospitais, clínicas, laboratórios, postos de saúde e consultórios médicos (1). Hospitais ficaram vazios e os profissionais desocupados. As pessoas se esconderam em casa, mas a integralidade de sua saúde ficou ao desabrigo. Ninguém fala da orientação para enfermos com sintomas de covid-19 só buscarem a rede de hospitais quando tivessem febre de 38 graus ou mais e sentissem falta de ar, sabidamente estágio em que a doença já adquiriu gravidade (2). Ninguém fala na desatenção ao tratamento precoce, este sim, de reconhecidos bons resultados e ainda hoje relegado por disputas ideológicas em torno dos medicamentos para essa finalidade. Ninguém fala, por fim, do imenso dano social e econômico causado pelo achatamento de uma tal de curva durante as muitas semanas em ela foi apenas uma reta horizontal. Ninguém queria ouvir a divergência...

 A covid-19 é uma doença, mas seu desenvolvimento no Brasil é, também, sintoma de enfermidades inerentes à desonestidade intelectual que caracteriza o modo como se faz política por estas bandas.

(1) https://brasil.elpais.com/brasil/2020-03-27/cancelamento-em-massa-de-exames-e-de-cirurgias-ate-para-cancer-abre-debate-sobre-medida-contra-coronavirus.html
(2) https://brasil.elpais.com/brasil/2020-02-27/quando-procurar-ajuda-medica-por-sintomas-do-coronavirus.html

_______________________________
* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 


Mila -   10/08/2020 18:34:57

Aqui nos US, desde que a histeria começou, poucas pessoas têm morrido de câncer, ataque do coração, ou mesmo gripe (que matou 60 mil entre outubro/2018-abril/2019). As certidões de óbito têm como causa o Vírus Chinês. Até mortos em acidentes são reportados assim. A mídia esconde o fato que o número de casos aumentou simplesmente porque estão testando mais gente! Mas o que assusta mesmo é a tranquilidade com que os americanos estão aceitando a intrusão do governo em suas vidas. Afinal de contas, quem é o governo para decidir que meu emprego não é essencial? É essencial, e muito. Infelizmente, estamos presenciando a Constituição americana ser rasgada com absoluta calma. (A Constituição daqui—e é única nisso!—existe para restringir o governo, não o cidadão. Esses poderes são muito específicos e limitados. Não é por nada que o Preâmbulo da Constituição começa com “We, the People” e não “We, the Government”!) P.S. Percy, me perdoa os erros de gramática, pois estou fora do Brasil há mais de 20 anos. E como tão delicadamente me explicou o Edson Camargo (MSM) num email cheio de classe há um par de anos, meu “PORTUGUÊS [sic] é, objetivamente, uma merda.” P.P.S. objetivamente, é claro! :-)

MARCO LONGO -   10/08/2020 17:35:09

Parabéns! poucos também se lembram ou há receio em lembrar que nosso Supremo atribuiu a Estados e Municípios a autoridade para conduzir as ações contra a pandemia. Ninguém lembra que a tão referida ciência pelo então ministro só nos dava certeza de que o melhor a fazer na pandemia era "detecção precoce e intervenção precoce". Exatamente o contrário do que recomendava o ministro na ocasião.

Velado Alpha -   10/08/2020 13:58:35

Amigos. Quiem disse que o Covide-19 era uma Gripizinha e que passava logo; Quem está indicando remédio sem base cientifica e sem apoio dos cientista de todo o Mundo ? Vamos Pensar sem paixões..Vamos reconhecer qual é o melhor Jornal do País....Enfim, vamos PENSAR . Até breve.

Raymundo Canario -   08/08/2020 17:48:26

Genocídio do STF, descentralizando o poder para combate ao COVID. Genocídio do grupo vermelho que fez o estudo científico do Amazonas, uma falcatrua que matou 11 Brasileiros fora todos os demais milhares de cidadãos que não tiveram tratamento precoce com base neste estudo... Os mesmos que agora imputam a culpa ao presidente...

Carlos Edison Fernandes Domingues -   06/08/2020 12:24:37

PUGGINA. Retratas a triste realidade de uma cultura, da elite política, que explora a boa fé e a ignorância de uma parcela das sociedade brasileira. Carlos Edison Domingues

FERNANDO A O PRIETO -   06/08/2020 08:40:02

Muito bom, como de costume! É bom encontrar alguma opinião sensata! Pouco se fala a respeito de outras consequências, por exemplo: muita gente mentalmente perturbada, no mundo inteiro, teve seus problemas agravados com esse "terrorismo midiático" do qual ficou refém, e hoje mal consegue sair à rua; outros se suicidaram, a violência doméstica aumentou... Foi esse o resultado da "ciência, ciência, ciência" que de VERDADEIRAMENTE científica nada tinha!

José Rui Sandim Benites -   05/08/2020 22:02:27

Sempre li os comentários do arquiteto e jornalista Percival Puggina. Desde suas colunas nos jornais, com análise inteligente, com perspicácia dos fatos do nosso cotidiano. E, como uma leitura que envolve para chegar em uma conclusão, sempre fenomenal. E no sentido do assunto do texto acima, sem dúvida, que as desinformações campeava, e ainda continua a campear, com mais dúvidas do que certezas. Primeiro o pico ou o platô estaria em final de março, depois continua o pico ou platô nos meses subsequentes, as máscaras era apenas para os profissionais da saúde, agora é elemento imprescindível no nosso vestuário. Não há alguém que busque um equilíbrio, no sentido de preservar a saúde e a atividade econômica (que também a miséria mata, mas de forma invisível). Os médicos e enfermeiros são heróis, e são maioria. Mas não falam dos heróis que saem de manhã para trabalhar, pegam duas ou mais conduções e, voltam à noite, para trazer comida para suas casas, pagando uma carga tributária de mais de 40% do PIB e recebendo o salário mínimo de R$ 1.045,00. E agora impedidos de trabalharem ou perdendo seus empregos. Enquanto, alguns dos altos cargos da Republica, ganham mais de R$ 40.000,00 de salário(subsídios), por 8 horas de trabalho por dia, com folga de sábado, domingo e feriados. E dizem que são socialistas. Ora, socialista foi Jesus Cristo, São Francisco de Assis, Madre Tereza de Calcutá, estes viviam como pobres. Agora aqueles que vivem dos tributos dos pobres, e tem vida de rico, E dizem estar defendendo a vida os pobre. Por favor, menos hipocrisia. Infelizmente, os incautos acreditam na grande mídia, que está serviço de quem?

Dalva -   05/08/2020 22:00:48

Extraordinário! Parabéns e obrigada por dividir conosco seus conhecimentos.

Menelau Santos -   05/08/2020 20:56:12

Professor, seu texto é um timeline perfeito. De todas as coisas ruins que se possa enxergar nessa pandemia, tento pelo menos achar uma positiva: que as atitudes de muitos diante dela mostraram seu caráter. Pego pelo menos um exemplo; já pensou um país progredindo e nadando de braçadas como vinha, o que não aconteceria com um João Dória? Certamente teria muitas chances de se tornar um presidente do país. E já pensou, se como governador fez o estrago que fez, imagina como presidente!

João Carlos Marchezan -   05/08/2020 18:18:54

Gostaria de uma análise sua sobre a pandemia na Suécia. No Google se acha apenas matérias de mais de um mês, quando ela liderava mortes por milhão. Gráficos que encontro dizem ué não se morre mais por lá e que sua colocação, por milhão, migra para cima e, de primeiro, já estaria em sétimo. Lá não houve o que prega a OMS e, parece, estar se configurando boa opção a médio prazo. Me falta acesso a informações para uma boa conclusão. Fala pra nós...

Alberto Tibúrcio -   05/08/2020 17:03:07

Estou percebendo muitos pacientes procurando agora as emergências dos hospitais e UPAs com suas doenças crônicas descompensadas. Muitos referindo que não estavam conseguindo acompanhamento médico por conta do isolamento social

Waldemiro Barbosa de Andrade -   05/08/2020 13:07:12

Parabéns!

Fabiano Wasem -   05/08/2020 12:05:04

Sim Percival, a doença aqui encontrou uma grande brecha, a da apatia deste povo, que, em grande parte, não consegue mais perceber que perderam a liberdade de pensar e agir em prol de si mesmos. São sapos dentro da panela em fervura. Desejo que assim como vc, muitos de nós tenhamos força pra lutar pela liberdade!

Luiz R. Vilela -   05/08/2020 12:05:03

Já dizia o falecido Ibrahim Sued, enquanto os cães ladram, a caravana passa". A "escandalosa" forma como foi tratada a tal pandemia do covid 19, foi na verdade a tábua de salvação que a imprensa brasileira precisava para continuar faturando. Quase não se fala em outro assunto, só da coronavírus, programas policiais até deixaram a criminalidade um pouco de lado, agora é só pandemia. Virou um pandemônio. Mas a doença segue triunfal a sua trajetória, todas as medidas tomadas até agora, parecem terem sido desastradas, até porque a doença não regrediu, pelo contrario, evoluiu. Uma coisa que também da no que pensar, são profissionais da saúde que não se entendem. Uns mandam usar certos medicamentos, enquanto outros, dizem que estes, servem para nada, não causam efeitos benéficos, podendo inclusive ser prejudiciais, enfim uma barafunda que ninguém sabe com quem esta a razão, levando a população a ficar descrente. Nisto tudo, o governo federal que deveria ser o coordenador do combate a epidemia, ficou só com a despesa, governadores e prefeitos, por obra do supremo, passaram a ser protagonistas e agora querem tirar o corpo fora. A China, parece querer reviver os tempos "gloriosos" do Império Romano, e parece que já escolheu o Brasil, para ser o seu "Egito", ou seja, o fornecedor de grãos para a metrópole. Se o Brasil não acabar logo com este covid 19, é ele que acabará com o Brasil.