Percival Puggina
Já vivi períodos de democracia. Já provei tempos de esperança, desesperança, autoritarismo, ditadura. Cruzei por crises e bolhas. Nunca, porém, exceto quando viajo a Cuba, me senti sob tensões inerentes a um regime totalitário.
É importante perceber as diferenças. Nos governos autoritários e nas ditaduras, a opressão é atributo do presidente, do líder máximo, daquele que enfeixa a autoridade ou o poder absoluto. As demais instituições do Estado o seguem ou servem. A imprensa é objeto de censura, inibida ou proibida de criticar o governo.
O que estamos vivendo é diferente. Acusado de ser um “ditador”, o presidente legítimo da República sofre severa e majoritária oposição do Congresso e a ela se submete. Recebe antagonismo frontal, cumpre ordens mesmo se esdrúxulas e acumula interferências do STF em seu governo. É cotidianamente atacado, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, pela quase totalidade dos grandes meios de comunicação do país. Expressa sua indignação, muitas vezes de modo grosseiro, mas jamais prendeu um jornalista, censurou um veículo ou recolheu uma edição seja lá do que for.
Como se vê, fica difícil diante desse quadro reconhecer a narrativa lançada ao mundo pela mídia e pelos partidos de esquerda a respeito dos momentos opressivos que estamos a enfrentar em nosso país. Nesse concurso de narrativas, em cuja plateia sentamos como cidadãos consumidores de informação, resulta impossível desconhecer a falta de sintonia entre as mentiras contadas e a realidade vivida.
Sim, há opressão. Sim há medo no ar. Sim, a democracia, constrangida, está em licença. Sim, as idéias consagradas nas urnas de 2018 são recusadas por instituições da República. Sim, a vontade popular é objeto de desprezo, a voz das ruas renegada e quando se expressa não é ouvida. Sim, a Constituição é ruim, mas muito pior é o que fazem com ela! Sim, há censura, mas por ações concretas do STF. Sim, temos jornalistas presos, não pelo governo, mas pelo Supremo. Sim, há também uma censura privada, nas plataformas das redes sociais, em parte por conta própria, em parte por ordens judiciais. Como em Cuba, há jornalistas presos, um deles em greve de fome, como em Cuba. Mas aqui, presos e censurados são apoiadores do presidente...
A tudo, o Congresso Nacional consente, incapaz de cumprir seu papel, por temor e ciência das vergonhas de tantos de seus membros. Aliás, a maioria se vale das condições inerentes ao totalitarismo em curso para aprovar qualquer coisa em benefício próprio e em favor da impunidade dos corruptos e dos ímprobos. Não é assim nos totalitarismos?
Selando a trama sinistra, cai sobre tais malefícios o silêncio da mídia militante, que só tem um assunto, um alvo e um objetivo: descarregar os males de uma democracia irreconhecível e o absoluto descrédito em que mergulharam as instituições sobre a pessoa do presidente da República.
Com quanto pesar escrevo este pequeno diagnóstico, pedindo a Deus que suste as mãos das quais saem os golpes contra a liberdade de seus filhos!
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
LEONARDO OLIVEIRA DE ARAUJO - 27/09/2021 21:47:04
Cabe a cada um de nós mudar esse quadro.Menelau Santos - 27/09/2021 17:28:23
Professor, como sempre, na mosca. Tudo que acusam no Presidente de fazer contra a democracia são eles mesmos que o fazem. Lembro-me daquela passagem da bíblia em que acusam Jesus de ter parte com Belzebu, quando são os próprios acusadores os demônios.Gislaine de Lourdes Terrazan - 27/09/2021 15:07:13
Triste realidade do Brasil, que Deus, São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora possam nos livrar desses males.Maria Carvalho - 27/09/2021 12:40:29
Excelente texto! Triste realidade brasileira! Até onde iremos assim? Há que ter um fim!jokka kamargo - 27/09/2021 12:04:10
O Brasil está totalmente nas mãos da ditadura justamente daqueles HIPOCRITAS malditos que chamam o presidente de ditador.Adão Silva Oliveira - 27/09/2021 11:03:54
Partindo da premissa de que quem toca a política são os "feiticeiros", talvez nosso erro em 2018 tenha sido eleger um "aprendiz de feiticeiro". Cá entre nós, não precisa nem publicar este comentário, dito cidadão e sua grei familiar se comportam como criancinhas, apesar de todo o sucesso familiar até agora granjeado. Convenhamos, não é pouca coisa o número de políticos formados na família. Como pode um cidadão com o salário de parlamentar (assembleia do Rio e Senado) comprar uma casa por 6 milhões e não querer levar nem um cutucão... São conservadores apenas no que interessa.Linda Lopo - 27/09/2021 11:02:33
Bom dia amigo: me pergunto diuturnamente que importância teve para os algozes do presidente Bolsonaro,a turma do quanto pior melhor", aquela massa humana nas ruas na maioria das cidade brasileiras. Creio que alguns dos supremos algozes ,duvidam da força do povo. Desespero e Esperança se mesclam. O resultado dessas duas é uma incognita.Edna Perez - 27/09/2021 10:30:14
Realmente estamos em uma situação muito angustiante. Os que deveriam ser os guardiões da CF são os mais vilipendiadores. Ante isso podemos concluir que, em décadas anteriores esses mesmos foram cúmplices de todo o mal feito, portanto, em um eventual julgamento histórico deveriam estar no banco dos réus e não julgadores, como se nomeiam. Está muito longe a solução desse desarranjo. Agradeço a Deus a interrupção do processo imposta por nosso atual presidente. Que o bem sobreviva e se imponha. Grata por sua reflexão. Abraço