COTIDIANO DE UM MUNDO ALTERNATIVO
JOSU?COSTA
Da Reda?
Afinal, qual o perfil do novo mundo que o F? Social Mundial (FSM) 2009 acha poss?l construir? As respostas dos seus participantes n?s?un?onas. Os dois territ?s do evento mostram um abismo entre o que se diz e o que se faz. O clamor por uma sociedade mais justa que vem das tendas parece conviver de m? dadas com cenas de ilegalidade, consumo de drogas e explora? do trabalho infantil, entre outras mazelas distantes do prop?o do evento, mas que se tornaram corriqueiras no cotidiano dele.
N?acredito que outro mundo ?oss?l com essa dispers? criticou, em alta voz, para uma plat? de cerca de 30 universit?os, o jovem F?o Felix, coordenador do Diret? Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Bras?a (UnB). A cr?ca do estudante candango repousa, em parte, no que v?nem todos os participantes do evento est?nos territ?s para reunir, discutir, aprovar ou reprovar demandas voltadas para a constru? do t?sonhado mundo novo.
Os territ?s das universidades federais do Par?UFPA) e Rural da Amaz? (Ufra) servem de ch?para muitos participantes que vivem completamente indiferentes ao que acontece nas tendas e outros palcos de discuss?das propostas. S?tantos que n?se pode dizer se s?minoria ou maioria. Est?por toda parte, no vai-e-v?dos corredores asfaltados, sequer se importando com o prop?o do FSM. Na Ufra, as cenas que refor? o abismo s?mais frequentes.
COM?CIO
Nas universidades, acontece de tudo - ou quase tudo. Dentro das tendas, nem sempre com seus assentos todos ocupados, v?e gente valorizando o evento, fazendo valer o prop?o do encontro, expondo e debatendo a pauta programada. Fora delas, no entanto, o cen?o ?egradante: trabalho infantil, consumo de drogas, com?io informal desorganizado e comercializa? de produ?s piratas, como CDs e DVDs, aqueles mesmos que a Pol?a combate fora desses territ?s.
Na manh?e ontem, por exemplo, por volta das 10 horas, no territ? da Ufra, a reportagem acompanhou parte dos passos de um grupo de cinco estudantes que, mais tarde, descobriu-se, veio de Feira de Santana, na Bahia. Nesse hor?o, o grupo tomava o caf?a manh?uma barraca. Tapioquinha, p? caf?cigarro de maconha e o Lol?ue ? inala? de jatos de um spray sobre uma flaneja, faziam parte do card?o. Tudo a c?aberto, em meio ?ultid? sem qualquer discri?. Terminaram e caminharam. Tomaram rumo contr?o a todas as tendas de discuss?
DROGAS
Na perspectiva dos valores que abra?, nada de errado no comportamento do grupo nordestino se, pertinho da barraca do caf?a manh?n?estivesse acontecendo um encontro de estudantes, cuja postura estava afinad?ima com o prop?o do evento. Eram em torno de 30. Muita tenda para pouca gente. A quantidade, pelo que se via e ouvia, era superada pela qualidade. Foi l?ue a reportagem entrevistou F?o Felix.
O estudante da UnB esbravejava exatamente contra os dois FSMs que acontecem em Bel? o dos que valorizam a proposta e dos que, mesmo presente nos territ?s, est?para outros fins. Felix, como quem fala de cima de um trio-el?ico disparava cr?cas ?rganiza? do evento. N?tenhamos d?as de que este f?, financiado pelo governo, foi preparado exatamente para esse fim: dispersar. Ele (governo) preparou uma programa? e montou uma infraestrutura nitidamente para provocar dispers? desinteresse e, assim, evitar cr?cas, cr?cas contra o governo Lula e contra o governo Ana J?, disparou o rapaz, recebendo demorados aplausos.
Nem Eduardo Freitas, da organiza? da Associa? Secreta dos Maconheiros Assumidos, concordava com o que via. Nossa orienta? n?reprime o consumo da maconha, mas pede discri?, orientando o consumidor a n?se expor, fumando, por exemplo, na frente das crian?, ponderou o rapaz, discordando das cenas que lhe eram apontadas.
Uso de entorpecentes como a maconha foi frequente durante a semana
Se fumar maconha na frente de crian? ?esaconselh?l, muito mais ?ubmeter essas mesmas crian? ao trabalho. Trabalho infantil, ali? conforme soam as vozes das tendas, ?rime. Mas, enquanto o combate est?eservado para outras circunst?ias, nos territ?s do F? Social Mundial (FSM) 2009 ?omum ver crian? trabalhando. ?R$ 1, R$ 1. gua mineral geladinha. S? 1, gritava Jo?Paulo dos Santos, 12 anos, na Universidade Federal Rural da Amaz? (Ufra), na manh?e ontem.
Morador da Terra Firme, disse que estava ajudando o pai, que estava perto do filho, com outra venda. E perto deles, o com?io de CDs e DVDs piratas. Outra cena de ilegalidade. Indagado se havia orienta? para reprimir o consumo de drogas, o bombeiro militar Pessoa n?quis responder. Limitou-se a dizer que s?oficialato da corpora? poderia conceder entrevista. Ele, oficial, e mais quatro colegas estavam de prontid?perto de uma barraca onde a fumaceira da erva tragada lhes chegava no rosto.
COELHOS
Isso era previsto, avaliou Trajano de Jesus, chefe de Seguran?da Ufra. Trajano, que conta com um efetivo de 38 homens desarmados, diz que a ?a preocupa? de sua tropa ?efender o patrim?. Nesse sentido, tudo em ordem, ?xce? do sumi?de quatro coelhos, que foram parar numa panela de um acampamento. Nesses dias, quem manda s?eles. Deixamos de ser Ufra para sermos o territ? do F?, contemporiza.
Outras preocupa?s, afirma Trajano, existem. E dizem respeito ao comportamento de grupos de participantes. Na ?ma quinta-feira, por exemplo, ele saiu de casa para o trabalho ?6 horas e retornou ?eia-noite. 1 hora da madrugada o telefone tocou. Foi chamado para resolver um problema de um som que tocava em alto volume, numa tenda de acampamento. (J. C.)