• Percival Puggina
  • 02/03/2022
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CONSERVADORES, ATENÇÃO!

 

Percival Puggina

        

         Alguns conservadores brasileiros compraram pelo preço de capa as manifestações em que Putin se apresenta como crítico do desmonte cultural, espiritual e moral do Ocidente. Essa convergência, porém, não faz de Putin um Dostoievski. Ele é um ex-agente de segurança soviético e russo que se vê como versão atualizada do “líder genial dos povos” (povos eslavos, bem entendido), investido da missão de reconstruir a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, sem Soviete Supremo e com menos socialismo.  

Por ter sido antes aquilo que foi, ele conhece o apoio que os neomarxistas da Escola de Frankfurt receberam da URSS para fazerem das ciências sociais os modernos mísseis e tanques da guerra cultural. É exatamente por saber quão letais são essas “armas” que ele não as quer na Rússia. Mas isso não o converte num aliado do Ocidente, ou dos conservadores e/ou liberais do lado de cá.

O negócio de Putin é poder e quanto mais decaído for o Ocidente, quanto mais esquerdistas os Estados Unidos se tornarem, quanto mais tolerantes e molengas se fizerem Reino Unido e França, quanto mais os alemães se confiarem a pessoas como Mutti Merkel, melhor para ele. Tomem isto por autoevidente.

Quando Putin defendeu nossos direitos sobre a Amazônia brasileira, ele estava a defender, também, os direitos deles sobre a floresta russa, duas vezes maior do que a área total da Amazônia em nove países da América do Sul. Alguns dos maiores inimigos da Amazônia brasileira estão aqui mesmo, fabricando e fornecendo munição para os ataques determinados por aqueles que a cobiçam.

As relações brasileiras com a Rússia e com Putin devem preservar nossos interesses comerciais. Isso é uma coisa. Outra é o que Putin está a fazer, empurrando as próprias fronteiras sobre a Europa à custa de uma nação independente. A Ucrânia, sentindo-se ameaçada, tendo observado o que aconteceu na Crimeia, lendo nos jornais do mundo inteiro que um dia seria invadida pela Rússia, buscou abrigo na OTAN. Esse foi o motivo simbólico da invasão, mas a causa real é outra: o projeto pessoal de Putin.

Ser conservador, querer segurança jurídica, ter princípios e afirmar valores, exigir punição para quem rouba um telefone celular, é incompatível com aceitar que uma potência militar tome para si, na mão grande e violenta, uma nação inteira.

“Ninguém é santo nesse jogo”, dizem alguns. Sim, e daí? Daí o povo Ucraniano, que lutou por democracia e liberdade no inverno de 2014, paga o pato?

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 


Jorge Fenerich -   08/03/2022 10:02:50

Na verdade o problema é muito mais complexo e antigo do que o suposto, sim não há certos nem errados apenas cuidemos de nossos problemas que são muitos e tão complexos quanto!

Lilian -   03/03/2022 17:23:21

A eleição do presidente da Ucrânia ñ foi democrática. O povo ñ está satisfeito com ele. É um fantoche como o Biden.

Jose Ricardo -   03/03/2022 16:42:13

Putin tacou fogo no parquinho porque não havia alguém no ocidente para peitá-lo e dissuadi-lo de fazer isto. Os atuais líderes europeus e presidente norteamericano são fracos, Putin sentiu cheiro de oportunidade e partiu pra cima. O mote principal para Putin causar essa guerra foi a Ucrânia entrar para a OTAN, se isso viesse a se confirmar os ocidentais estariam bem perto de um ponto nevrálgico para economia russa, a cidade de Volgogrado. Lá se encontra um entroncamento para escoamento de gás e petróleo da Rússia para Europa. A entrada da Ucrânia na OTAN não significaria que os ocidentais iriam destruir essa infraestrutura vital à Rússia certo? Sim, mas não na cabeça do Putin, pra ele essa ameaça é real, por isso a entrada da Ucrânia na OTAN para ele é inegociável. A segunda questão tem a ver com a Crimeia, anexada em 2014 por Putin sem resistência alguma do Obama. Putin anexou a Crimeia não só por causa do porto de Sebastopol importante posição estratégica militar para os russos visto ser canal de acesso para o Mar Mediterrâneo, mas o ponto fundamental da anexação foi para ter controle sobre as reservas de petróleo e gás natural existentes no Mar Negro, impedindo que a Ucrânia se tornasse de fato forte concorrente da Rússia no fornecimento de gás e petróleo para Europa, diminuindo a influência russa no ocidente. Petróleo + gás junto com a venda de equipamento militares formam a base do PIB Russo, que ainda assim é menor que o do estado da Flórida.... Fora isso há dificuldade de obtenção de água doce na Crimeia, em 2014 assim que anexaram a península,os ucranianos fecharam o canal criado pelos soviéticos que alimentava aquela população, pois bem dia 24 os russos informaram que desobstruíram o canal e ele voltou a irrigar a Crimeia. Até Putin vai? Quais suas intenções? Ninguém sabe, ele por exemplo pode ocupar a faixa sudoeste unindo a Crimeia a Donetsk e Luhansk dominando mais da metade da costa leste; pode ir até Kiev e depois recuar até a Moldávia cortando acesso ucraniano ao Mar Negro ou simplesmente anexar o país todo, em qualquer cenário a Rússia continuará sendo a maior exportadora de gás para a Europa, principalmente à Alemanha, a maior economia do continente, que optou por desativar suas usinas nucleares e ficar nas mãos dos russos. Já os norteamericanos a situação é surreal. Trump havia começado a construção do oleoduto Keystone XL trazendo 800 mil barris de petróleo/dia de Alberta no Canadá. Para destruir tudo aquilo que Trump fez, Biden interrompeu a construção desse oleoduto e agora importa diariamente 650 mil barris de petróleo do Putin, inteligente não.... O certo é que não será a Apple parando de vender seus produtos aos russos ou a FIFA tirando o país da Copa do Mundo é que vão parar Putin.

Antonio Antunes -   03/03/2022 15:15:55

Havia um governo eleito e que foi deposto em 2014. A Ucrânia é uma república unitária e não há eleição para governantes nas regiões administrativas e aue são indicadas por Kiev. Uma das razões para o movimento separatista cujas etnias são descendentes de russos. É muita democracia, não é?

FERNANDO A O PRIETO -   03/03/2022 07:52:58

Muito apropriado! A farsa do Putin "defensor dos valores" precisa ser mostrada, pois há muitos iludidos... Não é porque os "lideres" ocidentais são tão ruins como ele (alguns até piores!) que ele vira um modelo!

Mara Montezuma Assaf -   03/03/2022 07:04:51

Puggina , os interesses geopolíticos da Rússia são grandes neste assunto, e a segurança de suas fronteiras obcecam . Nada justifica sua ação, mas explica. Mas a Otan cutucou a Ucrania...ou não?

Menelau Santos -   03/03/2022 00:14:05

Professor, o Sr. chamou a atenção para um fato muito importante e enganoso: o fato de um gato dar um latido não faz dele um cachorro. Uma ditadura permitir eleições não faz dela uma democracia. Com sua permissão Professor, "O tolo e seu inimigo" do Jeffrey Nyquist detalha bem essa molenguice em que os EUA se transformaram, como muito bem o Sr. citou.