• Percival Puggina
  • 17/03/2017
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COMO OS CANALHAS FRAUDAM A DEMOCRACIA

 

A tentativa de instituir o voto em lista fechada é a manobra mais descarada desde o início das operações da Lava Jato. Supera, em despudor, a missão do "Bessias" levando a Lula o ato que o homiziaria no ministério de Dilma. É mais desavergonhada do que a "anistia do caixa 2". A democracia dos canalhas alcança seu apogeu com algo tão indecente na motivação, tão contra a democracia na concepção e tão escancaradamente desonesto que estará coberto de razão o cidadão que registrar, na polícia, um boletim de ocorrência.

A ideia e a intenção estão em todos os noticiários desta sexta-feira 17 de março. Seus promotores, grandes figurões da política nacional, estão preocupados com os prejuízos eleitorais que lhes advêm do conhecimento de seus crimes e de suas inclusões nas listas de Janot. O que conceberam pode ser descrito como um gigantesco iceberg político sem nada submerso. Da ponta à base, o mastodonte está inteiramente visível nas páginas dos jornais. Nosso país nunca adotou o voto em lista fechada exatamente pelo motivo que, agora, a organização criminosa atuante na política brasileira passou a vê-lo com bons olhos: ele esconde os candidatos e o voto deixa de ser direto e pessoal.

Com efeito, nesse sistema:

1) cada partido elabora uma lista com os nomes em disputa;

2) no dia da eleição, o eleitor escolhe e vota na lista de sua preferência;

3) o percentual de votos dados a cada lista, em relação ao total de sufrágios da eleição, define quantas cadeiras cabem a cada partido;

4) são os partidos que estabelecem a ordem dos nomes nas respectivas listas;

5) é dentro dessa ordem que as cadeiras são preenchidas (se um partido tiver direito a dez cadeiras, por exemplo, os dez primeiros nomes de sua lista serão titulares).

Com medo da reação da sociedade ante os escândalos em que estão envolvidos, os piores elementos da vida pública brasileira, candidatos preferenciais a serem varridos das urnas em 2018, encontraram no voto em lista fechada um modo de se elegerem sem necessidade de encarar individualmente os eleitores. Pretendem, com essa manobra, caciques que são, retomar suas cadeiras e preservar o foro privilegiado escondidos na lista partidária, mais ou menos como se dá comprimido para cachorro, disfarçado dentro de um naco de carne. É assim, escondidos e sem votos pessoais, mascarados, que eles querem voltar aos negócios em 2018. Antes, desfiguravam a representação política comprando votos e abusando do poder econômico com dinheiro mal havido; agora, querem continuar abastardando a democracia com o voto em lista fechada.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


 


Genaro Faria -   20/03/2017 11:53:05

Pobres políticos! Que país é este onde não se pode mais confiar no povo? Nem os contorcionismos politicamente corretos dão conta mais da maquiagem verbal que tanto enganou o povo rude? Que plebe insubordinada é esta a dizer que o Príncipe e toda sua corte estão nus? Como é que fica o nosso carnaval na esplanada dos ministérios? Não seria melhor fazer como Fidel Castro e dispensar as eleições para garantir uma república popular? Falando sério, nossos ilustres parlamentares deveriam imitar os ladrões de antigamente: só trabalhar à noite, no escuro, para economizar energia elétrica. Um sacrifício patriótico: fazer sessão na madrugada e com controle social da mídia. Já que o país está na lona, que tal nós o cobrirmos com ela dessa vergonha?

Edson Vitt -   20/03/2017 01:58:56

Meu amigo Puggina, por coincidência venho comentando isso no Diário do Poder, de forma muito superficial, até por não entender muito do assundo, pensando que esse movimento para alterar a eleição proporcional com o voto em lista tinha a nítida intenção de evitar a cassação pelo voto destes corruptos carimbados, os ditos "caciques" da corrupção. Há uma campanha que se avoluma conclamando os eleitores a não votar em nenhum dos atuais políticos, mas nenhum mesmo, para retirar-lhes o foro privilegiado e a impunidade. E penso que é isso que causou a pane legislativa que tenta golpear o processo político. Vamos ficar atentos e apoiar a campanha da "Limpeza Política".

Jonah Hex -   19/03/2017 13:15:26

Todos estes partidos são frutos de uma semente muito ruim, o MDB, que dominou o cenário politico e se enraizou no funcionalismo público. PMDB PSDB PTB PT PCdoB PC PFL=DEM

IvoHM -   19/03/2017 11:06:10

A saída é o voto distrital.

Antonio Augusto d'Ávila -   19/03/2017 11:05:58

Poder é poder dizer NÃO. Escravo só pode dizer sim. Hoje só podemos dizer sim a UM candidato que pensamos poder eleger. Na verdade esse voto pode ir para outro que nada tem a ver com o meu voto. O nosso sistema é uma jabuticaba podre. Além disso, é impossível fiscalizar os milhares de candidatos avulsos dos quais os partidos são meros cartórios de registro. No sistema proposto podemos dizer sim a um rol de candidatos, porém, muito mais importante, podemos dizer NÃO a todos da lista.

Odilon Rocha -   18/03/2017 20:18:22

Caro Professor Se precisar iremos às ruas por isso. Canalhice é eufemismo para tal . Diante das últimas notícias, o naco de carne que esse pessoal serve deixa o cachorro com fome.

maria-maria -   18/03/2017 13:28:24

É impressionante a desfaçatez com que os imorais se reúnem para tratar de seus interesses escusos. O despudorado sinistro togado, que se outorgou o direito de estuprar a constituição, está mancomunado com os presidentes dos outros poderes na tarefa criminosa de solapar, de vez, a sempre maltratada democracia desta vilipendiada e mal-amada pátria. Sabedores da impossibilidade de reelegerem-se, por seus crimes terem sido divulgados, o voto nas facções criminosas, em que os atuais malfeitores serão listados preferencialmente lhes garantirá a permanência eterna nos mandatos que conspurcam.

Morgana -   18/03/2017 00:38:46

Não podemos aceitar de jeito nenhum esse voto em lista. Temos que encher as caixas de e-mail dos políticos dizendo quanto somos contra.Tenho certeza que isso também faz parte da combinação do Rodrigo Maia que se vendeu ao PT e PCdoB,pois essa era a ideia do PT.