• Demetrio Magnoli
  • 04/01/2009
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COME? O OUTONO DA ERA LULA - Veja

No fim de seu segundo mandato, seremos ‘brancos’ ou ‘negros’ antes de sermos brasileiros. Eis a? verdadeira mudan?promovida pela era Lula: uma bomba social de efeito retardado que sua passagem pela Presid?ia deixa aos filhos e netos da atual gera? Sergio Moraes/Reuters Lula chegou ao Pal?o do Planalto como a personifica? de esperan? exageradas, quase ilimitadas: Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu presidente da Rep?ca: para mudar. Na hora em que come?o outono de seu segundo mandato, contudo, ?empo de investigar a sua heran? desses oito anos, o que ficar?ncrustado no edif?o pol?co brasileiro? Eu sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta. Antes de tudo, provou-se que diplomas acad?cos n?s?adere? indispens?is para governar. Os acertos e os erros de Lula decorrem de suas op?s pol?cas, n?das supostas virtudes ou das ?as car?ias associadas a um n?l baixo de instru? formal. O presidente n?precisou de uma universidade para preencher a diretoria do Banco Central com um time de economistas que ostenta medalhas acad?cas incont?is – e concep?s opostas ?doutrinas econ?as petistas. Bastou-lhe o faro pol?co privilegiado do conservador que, no fundo, nunca deixou de ser. Inversamente, o elogio da ignor?ia, um tra?ub?o dos pronunciamentos presidenciais, n?reflete uma suposta convic? de que a escola ?esnecess?a, mas o egocentrismo exacerbado de um l?r salvacionista. Nunca antes neste pa? O salvacionismo abomina a hist?, apresentando-se como o in?o de tudo: a virtude que exclui o v?o e escreve uma nova hist? num m?ore intocado. A democracia enxerga a si mesma como um processo de mudan? incrementais. O l?r salvacionista n?enxerga nada de positivo antes de seu pr?o advento. Lula ?ma vers?pragm?ca, cuidadosa e mesquinha de salvacionismo. De dia, ele denuncia a elite que nos governa h?00 anos. noite, cerca-se de grandes empres?os, a quem atende e de quem espera retribui?. O sucesso do estilo pol?co salvacionista deriva das fraquezas de nossa democracia – e as perpetua. N?se enganem, mesmo sendo presidente de todos, eu continuarei fazendo o que faz uma m? cuidarei primeiro daqueles mais necessitados, daqueles mais fragilizados. Lula n?inventou o paralelo entre a na? e a fam?a, que faz parte da longa linhagem do pensamento conservador de raiz autorit?a. Mas, com a expans?do Bolsa Fam?a, ele encontrou uma f?la de moderniza? do assistencialismo tradicional. A distribui? direta de dinheiro, no lugar das proverbiais dentaduras, n?? fonte do aumento do consumo dos pobres, que reflete o crescimento da economia em geral e do sal?o m?mo em particular. Pouco importa: em virtude de sua efic?a eleitoral, o Bolsa Fam?a ser?dotado pelos pr?os governantes, sejam quem forem. Eis um legado duradouro da m?do povo. N?tem Congresso Nacional, n?tem Poder Judici?o. S?us ser?apaz de impedir que a gente fa?este pa?ocupar o lugar de destaque que ele nunca deveria ter deixado de ocupar. O lulismo aprofundou a subservi?ia do Parlamento ao Executivo, que se manifesta sob a forma de um interc?io: o Congresso se anula politicamente enquanto os congressistas da base do governo chantageiam o presidente para conseguir cargos e favores. A troca descamba sem dificuldades para a corrup? aberta. O mensal?foi isto: um projeto de estabiliza? da base governista pela compra direta dos parlamentares. Ele acabou exposto, mas apenas em virtude de uma fortuita ruptura interna ?rdem da corrup?. Lula n?caiu, apesar de tudo, e a oposi? nem sequer apresentou um processo de impeachment. A elite pol?ca aprendeu do epis? que um presidente popular n?ser?unido nem mesmo se distribuir dinheiro a parlamentares. Se tem uma coisa que est?ando certo no governo ? pol?ca econ?a. O PT n?pode se esconder, procurando motivos para as derrotas, com cr?cas a ela. O PT morreu como partido da mudan?antes da vit? eleitoral de Lula, com a Carta ao Povo Brasileiro, que o converteu em partido da ordem. Nos partidos social-democratas europeus, transi?s similares verificaram-se antes e de modo diferente. Eles renunciaram publicamente a seus velhos programas revolucion?os, adotando programas fundados nos c?nes da democracia e da economia de mercado. O PT, n? embora, na pr?ca, sustente a ortodoxia econ?a do governo Lula, suas resolu?s clamam pela ruptura socialista, denunciam a liberdade de imprensa e fazem o elogio da ditadura de partido ?o cubana. A cis?entre o gesto e a palavra n?apenas corrompe politicamente o partido como tamb?alimenta um tipo mais virulento de corrup?. Se eu falhar, ser? fracasso da classe trabalhadora. Uma m?ina clandestina petista, instalada dentro do Planalto, conduziu as opera?s do mensal? Militantes partid?os em altos cargos p?cos realizaram a quebra de sigilo do caseiro Francenildo, um crime de estado que passar?mpune. Se acreditamos que temos a chave do futuro e uma miss?hist?a redentora, n?hesitamos em usar de qualquer expediente para realizar as finalidades partid?as. O PT n?consegue estabelecer distin?s entre as institui?s p?cas e o partido. No fundo, interpreta a democracia como instrumento transit? para a sua perpetua? no poder. Depois de Lula, o maior partido brasileiro continuar? figurar como elemento de dist?o no sistema pol?co. Quem chega a Windhoek n?parece que est?m um pa?africano. Poucas cidades no mundo s?t?limpas. Os estere?os raciais cl?icos, afundados na lagoa do senso comum, s?um componente ?o da rasa vis?de mundo de Lula. Entretanto, o programa de racializa? da sociedade brasileira conduzido por seu governo decorre de um frio c?ulo pol?co. O presidente quer conservar na sua ampla coaliz?as ONGs racialistas, financiadas pela poderosa Funda? Ford. Em nome dessa meta, patrocina uma enxurrada de leis raciais com repercuss?na educa?, no mercado de trabalho e no funcionalismo p?co. No fim de seu segundo mandato, todos os direitos dos cidad? estar?mediados e condicionados por r?os oficiais de ra? Seremos brancos ou negros antes de sermos brasileiros. Eis a? verdadeira mudan?promovida pela era Lula: uma bomba social de efeito retardado que sua passagem pela Presid?ia deixa aos filhos e netos da atual gera?.