• Percival Puggina
  • 06/04/2015
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CHUTAM CACHORRO MORTO

Provavelmente você já observou o mesmo que eu. Ao longo dos anos, identificou a posição política dos formadores de opinião atuantes nos veículos a que acessa. Você reconhece, acima de qualquer dúvida, aqueles que emprestaram sua capacidade de influência para ajudar na construção da hegemonia petista. Você pode não saber o clube de futebol pelo qual cada um torce, mas percebe a que projeto político servem.

Da mesma forma você deve estar percebendo mudanças. De repente, jornalistas que sempre ajudaram o PT com os quatro pés passam a criticar o partido, a apontar nele, como se fossem deformações recentes, defeitos congênitos de conduta moral e posição política que o acompanham desde sua fundação em 1980.

Essas figuras me trazem à lembrança o falecido escritor José Saramago. Comunista, apoiou todas as violências, todas as execuções e todas as formas de repressão impostas pelo regime cubano sobre o povo da ilha entre 1959 e 2003. Nesse ano, após a execução dos três jovens negros que sequestraram uma embarcação e tentaram fugir para a Flórida, o velho rompeu com ele em um artigo publicado no jornal espanhol "El País" com o título "Hasta aquí he llegado". Ou seja, Saramago assistiu passivamente 27 mil mortes, mas 27003 eram demais para seu humanismo e para seus princípios.

Os jornalistas a que me refiro reproduzem essa hipocrisia. Os governos petistas nunca foram diferentes. Seus principais líderes nacionais sempre usaram o Estado em benefício próprio. Nunca tiveram líderes melhores. Nunca andaram em boas companhias. Nunca foram amantes da verdade. Nunca deram aos fatos importância maior do que às versões. Nunca admitiram os próprios erros. A "causa" sempre foi o critério determinante para a justificação de meios escusos. Por isso, processados, condenados e presos, seus líderes viraram, ato contínuo, guerreiros heróis do povo brasileiro.

Enfim, esses jornalistas estiveram com o PT até o dia 26 de outubro de 2014. Mas no dia 27 a casa caiu. Caiu? Eu os assisto agora, eu os leio agora, eu os ouço agora, batendo em cachorro morto. Mudaram de lado? Não! Fazem o mais fácil. Enquanto criticam o PT, escrutinam os milhões de manifestantes segundo suas classes sociais e "raças", identificam-nos como conservadores, como direitistas, como golpistas. Embora os cidadãos das ruas e dos panelaços digam as mesmas coisas sobre o governo, não merecem palavras de estímulo à oposição que fazem. Afinal, isso beneficiaria a intolerável direita, não é mesmo? Continuarão, portanto, disseminando o mal por outros meios. Estão, simplesmente, trocando de montaria. Prefiro os irredutíveis porque são bem identificáveis.
 


Vanderlino H Ramage -   12/04/2015 11:04:50

São com os cães de Pavlov, "basta verem o treinador e já começam a salivar".

Gustavo Pereira dos Santos -   08/04/2015 15:05:59

O hangout abaixo reforça a opinião do Dr. Percival sobre a CNBB, um blefe que não tem nada a ver com a Igreja Católica. http://tercalivre.com/2015/04/08/a-caixa-de-pandora/ Abraços, Gustavo.

gustavo -   08/04/2015 14:04:31

Certo, já entendi. A imprensa brasileira é esquerdista em geral, mas o que eu não tinha percebido eram quais mudaram de lado. Mas, com o pouco de sua resposta, já deu para notar. De qualquer forma, parabéns pelo artigo.

Sérgio Alcântara, Canguçu - RS -   07/04/2015 21:53:53

De qualquer forma, é sempre bom lembrar que o marxismo está arraigado nas mentes e nos corações destes jornalistas e de outros formadores de opinião, múltiplas vezes "acima" do próprio PT. Assim, se tiverem que execrar seu partido, em nome da "justa" causa, do "verdadeiro" espírito do socialismo, não exitarão em fazê-lo. Para todos os efeitos, assim como já engenharam os seguidores do PSOL e congêneres, os políticos petistas ficam de "traidores" da "verdadeira" revolução. Sorte nossa, que estamos conseguindo levantar uma estrutura de oposição à toda essa plataforma esquerdista, numa velocidade e numa consistência que está causando pavor na respectiva intelectualidade, por estar acontecendo de uma forma que não esperavam e que não conseguem neutralizar. Agora, independentemente do mercenarismo do PP, do PSD entre outros vendidos, e do radicalismo folclórico de um Jair Bolsonaro e assemelhados (perfeito aos camaradas), estamos viabilizando, com eficiência, a ressonância de uma voz durante anos sufocada, de milhões de brasileiros, de todas as cores, gêneros e classes sociais. Isto acontece, em grande parte, pela inestimável contribuição das redes sociais, que estão permitindo a organização dos movimentos verdadeiramente democráticos em suas manifestações, além de proporcionarem o encontro e o reencontro dos militantes de centro-direita (antes, por tudo que já falei, privados deste direito), orientados e animados pelo vigor das ideias de pensadores como Percival Puggina, Olavo de Carvalho, Reinaldo de Azevedo, Miguel Nagib, entre outros. Acho que agora, de uma vez por todas, depende de nós conduzir os marxistas, exatamente, ao lugar que lhes é apropriado e à condição que a sociedade necessita que estejam.

Odilon Rocha -   07/04/2015 15:27:50

Excelente, professor Puggina! Eh bem isso! O senhor estah muito exigente com essa turma, doente de tanto orgulho! O cara troca de time, mas nao de ideologia! Abraco

PERCIVAL PUGGINA -   07/04/2015 15:07:22

Não tenho o hábito de atacar nominalmente pessoas. Não é necessário. Enfrento ideias e atitudes enquanto apresento ideias, princípios e valores. Neste artigo, não falo nos chapa-branca, mas na multidão dos outros todos que atuam de modo muito mais eficiente. São petistas sem dizer. São comunistas sem explicitar. Mas essas posições estão presentes em tudo que escrevem ou falam, seja defendendo, seja combatendo. É, sem tirar nem por, o que a CNBB vem fazendo há décadas, também (talvez este exemplo ajude à compreensão porque a CNBB é exímia nesse tipo de estratégia). A mídia brasileira está tomada por jornalistas assim, inclusive fazendo jornalismo esportivo, mas pavimentando manhosamente o caminho do PT ao poder. Hoje, chutam cachorro morto.

gustavo -   07/04/2015 13:58:29

Quem são estes? Ainda não percebi quais mudaram de lado, até por que há anos não leio jornalistas chapa-branca.

Genaro Faria -   07/04/2015 11:50:40

Um texto deliciosamente irônico e verdadeiro, prezado professor Puggina, que desmascara essas "madalenas arrependidas", hoje carpideiras de "lágrimas de crocodilo", enquanto preparam suas dissidências, como ratazanas que abandonam o barco à deriva. Não tendo como revogar o povo em contrário nem como pedir a bênção de uma matemática "politicamente correta" para trocar a roubalheira institucionalizada em investimentos sociais para a generosa distribuição da riqueza, o PT prepara uma vigarice, um novo conto do vigário para confundir os incautos cidadãos. Logo veremos na telinha o partido de outsiders e foras da lei esconder o seu líder supremo, Luiz Inácio da Silva," o Cara" - bem assim já o fizera o PSDB com FHC - , a fim de tentar manipular a opinião pública de que a sinistra legenda fora vítima de erros humanos que em nada afetariam sua essência benfazeja. O objetivo dessa propaganda enganosa é preservar os dedos que perderam seus anéis. É o mesmíssimo truque realizado pelos comunistas alarmados com a exposição pública de seus crimes monstruosos contra a humanidade. Exaltar a pureza do comunismo na medida em que condenavam Stalin pelos desvios ideológicos. A culpa, então, a seria unicamente do stalinismo. Como se não se repetissem esses mesmos "erros" em todos os países onde o comunismo foi implantado, da China à Coreia do Norte, do Camboja a Cuba. Ora, se o comunismo e os partidos que abraçam sua doutrina são tão bons, tão corretos, e as monstruosidades e despautérios que lhes advêm são tamanhos e fatalmente iterativos, que tal revogarmos o homem, essa criatura imperfeita e impenitente de seus próprios equívocos? Esta é a insanidade que se hospeda nas mentes distorcidas das chamadas esquerdas, que se auto intitulam progressistas. O que todas elas advogam é a substituição "científica" de uma criatura divina por sua própria ficção jurídica, o Estado socialista. Para concluir este comentário, creio que me cabe citar o filósofo Friedrich Niestzsche: "Aquele que luta com monstruosidades deve acautelar-se para não se tornar também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo é que olha para você".

Sérgio Alcântara,Canguçu - RS -   07/04/2015 11:42:41

Excelente explanação, Professor. Essa estratégia de camuflagem dos soldados de Gramsci já é perceptível desde a eclosão do caso mensalão. Mais do que nunca, é fundamental o aprofundamento do debate e o aperfeiçoamento das formas de se fazer oposição ao marxismo-gramscismo, especialista em mudar de forma e cor, conforme as circunstâncias exigem. Parece que agora estamos no caminho certo mas, de qualquer forma, é preciso manter o cuidado e a determinação.

Julio Rosais -   06/04/2015 21:40:35

Prof. Puggina, É sempre um prazer ler suas colunas e comentários. Eu pensei que estava ficando maluco, pois via alguns senhores da imprensa mudando paulatinamente de lado. Outros trocando radicalmente. Mas agora vejo que o Sr. compartilha dessa mesma visão. São uns caroneiros. Como o Sr. disse, " ... Prefiro os irredutíveis porque são bem identificáveis..." e não importa de lado eles estejam. Pelo menos sabemos com quem estamos argumentando, e não com "metamorfoses ambulantes".

ADEMIR BISOTTO.'. -   06/04/2015 19:27:36

Parabéns! Como sempre, brilhante!