Senhores!
Nós já sabemos quem os senhores são e vemos o que fazem. A sociedade brasileira, representada politicamente no Congresso Nacional, emerge de uma recessão que durou 12 trimestres e cujas causas são muito mais internas do que externas. Mesmo onde estas últimas tiveram algum significado, seu efeito se agravou pela gestão suicida do gasto público. O governo pródigo que dirigiu o país entre 2003 e 2016 se imaginou dotado do toque de Midas e presumiu que os preços das commodities se manteriam nos elevados patamares vigentes nos primeiros anos daquela gestão. Acreditou que os campos petrolíferos jorrariam para sempre cem dólares por barril extraído. Tal como o galo Chantecler, acreditou ser por sua causa que tudo acontecia. E acreditou, por fim, não haver juízes, nem promotores, nem policiais no Brasil.
Durante quase uma década e meia, na sequência de quatro mandatos presidenciais, vivemos sob combinação perfeita de irresponsabilidade fiscal e fanfarronice presidencial. O governo da União e os demais poderes de Estado fizeram crescer as respectivas despesas de modo leviano e numa frivolidade cujos exemplos mais vistosos, mas não únicos nem principais, foram proporcionados pela Copa do Mundo e pelos Jogos Olímpicos. Nisso se fizeram acompanhar, também, pela voracidade dos corruptos e pela ganância das corporações. Uns e outros assumiram como perene aquela aparente prosperidade calcada nas duas pernas de pau da riqueza externa e não na competitiva agregação de valor e geração de riqueza interna. Todos, num alegre convescote, foram com sede à mesa das inextinguíveis regalias. Não havia como dar certo. E não deu.
Admitamos que essa imprudência tenha sido contagiante, que o irrealismo da situação fosse sedutor. Vá que em tempos como aqueles fossem ao lixo os manuais, se danasse toda cautela, se fizessem calar os bons conselheiros. Mas, e agora? E agora, “que a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio e não veio a utopia, e tudo acabou, e tudo fugiu e tudo mofou”? O que têm a dizer, senhores, ante o sentimento dos brasileiros em hora tão grave?
Conheceis a opinião nacional a vosso respeito, como membros de um poder de Estado do qual pendem urgentes e indispensáveis decisões. Não vos constrange a divulgação dos votos vendidos e comprados? Credes que a nação acolhe tais práticas como normais? Sabemos bem, cá embaixo, nos porões onde essas contas nos são levadas a débito, que o único motivo pelo qual vos atreveis a buscar nosso voto é o baixíssimo conceito que fazeis de nosso discernimento.
Queremos todos uma reforma institucional. E vós? Buscais tão somente uma que vos favoreça a reeleição. Apreciamos campanhas eleitorais de baixo custo, feitas prioritariamente pelos candidatos e seus apoiadores voluntários, e não por máquinas eleitorais. E vós? Cogitais de uma reforma em que as maletas de dinheiro derivem de rubrica do orçamento da União. A nação precisa de reforma trabalhista, previdenciária, tributária. E vós? Pareceis inclinados a apoiar somente aquilo que não vos custe voto ou centavo. Projetos de elevado interesse público saem de vossas mãos desfigurados por destaques e emendas que tolhem sua eficácia. Nem o impeachment da presidente Dilma teríeis deliberado não houvesse o povo saído às ruas.
Senhores, não nos bastam os votos dos bons parlamentares, precisamos, também, dos vossos votos para as reformas de que o Brasil está tão carente!
Por vossa causa, nenhuma legislatura deveu tanto ao país! Quem sabe sirvam estes últimos meses de vossos mandatos para um acerto de contas com o real interesse público?
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
ALOISIO LETTI GRAZZIOTIN - 05/10/2017 12:40:17
Na seara politica o País se transformou num caos. No entanto, o que nos anima é que as Instituições estão em pleno funcionamento o que nos dá a esperança de que caminhamos em direção a um cenário de solução desses imbróglios. Historicamente o País passou por momentos de instabilidade semelhantes ao atual e foi vencedor. Particularmente estou otimista quanto a possibilidade de superação a partir do momento da condenação e prisão dos criminosos que hoje comandam os destinos do Brasil. Ainda não é hora de pensarmos na pena capital para aqueles que se acharam donos da estrutura politica e financeira publicas e as usaram em benefício próprio relegando ao povo sofrimentos inadmissíveis.João Cleucio Nogueira Lima - 02/10/2017 17:08:36
Amigo Percival, Boa tarde ! Na minha magra opinião, penso que legislador tem que ter um tino especial ( SER NOTÁVEL ). Não é qualquer tiririca, Geddel, Frank Aguiar e outros piores que existe aos montes nas duas casas congressuais que podem criar Leis que se firmem eternamente . O que se esperar de legisladores como Romero Jucá e Renan Calheiros, dois calhordas. E não podemos esquecer que o Molusco Lula ajudou a encantar a constituição cidadã de 1988, cujo dono já se encontra, creio, que juntos aos lúcifers do inferno.Antonio Augusto d´Avila - 02/10/2017 13:15:05
Prof. Puggina: os dois primeiros parágrafos estão perfeitos, no entanto, o atual Congresso produziu neste último ano mais do que fora produzido nos 13 anos anteriores. E não foi pouco: EC do Teto dos Gastos (que o povo não dá a mínima importância), a Reforma Trabalhista (que tirou o Brasil das trevas medievais) e a Reforma do Ensino (que, também, 99% dos brasileiros não sabe o que é nem de suas consequências). Não sejamos injustos com os atuais congressistas, não vamos entrar nessa cruzada moralista, aliás, cruzadas que na quase totalidade dos casos tiveram resultados funestos.Genaro Faria - 02/10/2017 12:05:25
Do rebaixamento moral, espiritual e intelectual que impulsionou a roda da revolução cultural marxista em direção a este atoleiro em que o país se encontra, não se deve esperar pelo milagre de uma redenção. Todo o Estado está aparelhado pela organização criminosa de codinome Partido dos Trabalhadores - PT. E para nosso maior escândalo, uma das duas instituições que contam com uma estrutura hierarquicamente organizada em todo o território nacional - a igreja católica e a forças armadas - a primeira é incondicionalmente petista. As esperanças dos brasileiros, de se livrarem do comunismo - voltam-se, pois, para a única instituição cristá, conservadora, verdadeiramente democrática e patriótica qie mais umavez está sendo convocada pelo povo a intervir na política.Carlos Edison Fernandes Domingues - 01/10/2017 22:06:00
PUGGINA. Hoje estive em um churrasco, em São Vicente do Sul, município onde fui vereador em 1964. Pude constatar, lamentávelmente, o estado de espírito que impulsiona o comportamento social e político de uma parcela significativa da sociedade. Há um sentimento de revolta, que se alarga desde os jovens até velhos de 80 anos. Manifestam um desejo de uma ditadura militar , marcando até prazo: quarenta anos. Puggina ! Que estrago foi feito, na democracia, ao longo destes últimos 20 anos ! Como refazer ? Carlos Edison DominguesIsmael de Oliveira Façanha - 01/10/2017 15:18:09
Prefiro uma ESPADA DESEMBAINHADA aos maus congressistas, como em MARÇO DE 1964. Ou tudo ficará igual, com o eleitorado suspirando pela volta do LULA.Décio Antônio Damin - 30/09/2017 21:23:54
Puggina, Acho que tens toda a razão para pedires o que pedes mas, penso que até ingenuamente acreditas que os teus apelos tem, no momento, alguma chance de serem ouvidos e, talvez, atendidos! Não há como tirar leite de pedras! Temos de encontrar pessoas em que possamos, ainda que com chances de sermos enganados, confiar. Este, para mim, é o nó da questão! Na última eleição presidencial acreditei sinceramente que Aécio representava este passo que pedes para os político darem... A decepção não tardou a se materializar mostrando quem ele realmente era... De qualquer maneira peço-te que continues com as flechas enquanto ainda tiveres bambu!josé rudi schnorr - 30/09/2017 20:47:41
Tenho acompanhado insistentemente os acontecimentos políticos, policiais, e os jurídicos, há muitos anos e mormente nos últimos 15 anos. Na parte que pertine ao Legislativo, perdi qualquer esperança de melhora, no que tange ao Executivo, em que pese as boas intenções de uma reforma, pesam séria suspeitas de crimes horrendos contra o chefe. Já no judiciário aparecem os primeiros sinais de descrença. Diante de tudo isto, infelizmente só vejo uma saída que é o uso da forma e do respeito que as FFAA podem fazer sem ditadura, mas com o fechamento do Congresso para alertar os demais poderes.Joma Bastos - 30/09/2017 18:47:57
O Brasil é um país geograficamente muito grande, onde as pessoas já não creem umas nas outras e existe uma notória e ampla falta de confiança na integridade do Congresso, do governo e da classe política em geral. As pessoas querem ser liberais, produtivas e não viverem sob a alçada de um capitalismo estado. Os programas de responsabilidade social devem ser fortes no sentido de integrarem rapidamente os cidadãos na sociedade produtiva. A nossa economia é muito fechada, demasiado protecionista. Há que existir uma grande integração à indústria e ao comércio internacional. Temos que ser auto-sustentáveis, auto-suficientes, grandes produtores de todas as necessidades e consequentemente grandes exportadores. Temos que investir e desenvolver fortemente as novas tecnologias de informação e comunicação. O Estado e as empresas privadas têm vindo a falhar sucessivamente na área da Educação, Cultura, Saúde, Saneamento Básico e Infraestrutura Logística. Há que reverter todos os pontos negativos que nos mantêm em um estágio de não-desenvolvimento. O Estado e as empresas privadas têm que utilizar os recursos naturais e humanos da maneira mais eficiente possível, tendo como focos prioritários a educação, a interação social e a qualidade do meio ambiente. Se tivermos as eleições de 2018 sem uma verdadeira renovação da Constituição, este país, continuará a viver a sangria e o desperdício de riquezas naturais e prosseguirá em seu não-desenvolvimento. O Estado continuará com a sua ação política de fornecedor de vantagens para os seus políticos e para a elite econômica que o sustenta com sua corrupção ativa e passiva. O Estado será aquele ringue onde não se discutirão programas e propostas para o alavancamento econômico e social do País. Temos que devolver ao Brasil o caminho da democracia e da liberalização. Há que submeter constitucionalmente a política e o tecido econômico a práticas e a fiscalizações anti-corruptivas. Se nada for feito de relevo na Constituição, esta Nação, embora muito rica em matéria-prima, em commodities e com um grande potencial para se desenvolver rapidamente, continuará mergulhada em um desenvolvimento muito mal conduzido, onde dificilmente poderemos utilizar a expressão "país em desenvolvimento".Jorge Dal Jovem - 30/09/2017 12:00:15
Tenho o maior apreço pelo Sr., professor Puggina. Mas o senhor acha mesmo que essa missiva direcionada aos parlamentares pode causar alguma comoção aos mesmos? Eu, sinceramente, acho que não. O que move e comove o politico brasileiro é quando saímos as ruas para protestar. Mas o brasileiro se cansa rápido. Tívessemos permanecido nas ruas, insistentemente, como fizeram povos de alguns países, provavelmente já teriamos um rumo para o país.Conservadores, Liberais e Cristãos, usam as redes sociais para promover uma "revolução", enquanto a esquerdalha usa as ruas para avançar em seus propósitos. Não está mais do que na hora de fazermos o mesmo, considerando que somos a maioria? Enquanto estivermos dispersos, fazendo a revolução via "redes sociais", a esquerda marxista agradece.Genaro Faria - 30/09/2017 10:00:18
A carraspana do general Mourão lavou a alma dos brasileiros. Mandar às favas a vigarice politicamente correta já sinalizou a todo cidadão honesto que ali estava um homem de bem. E puxar as orelhas de excelentíssimas autoridades desagravou nossa inteligência afrontada pela lorota de que "as instituições funcionam normalmente" e "a democracia está madura" em nosso país. Com brevíssimas palavras, o general varreu para a lixeira toneladas de excrescências jurídicas gongóricas com que se adornam os intelectos vaidosos de nossas cortes, bem como pronunciamentos políticos que entram por um ouvido e saem pelo outros até mesmo dos colegas parlamentares presentes à sessão. Chega de tanta cafajestice e tanta roubalheira. "Ainda há generais em Brasília."Odilon Rocha - 30/09/2017 01:42:22
Sinceramente...quem há longuíssimos anos é golpista e vive nos trapaceando, nos submetendo aos seus desatinos e conchavos, enquanto a Nação sangra, independentemente se está havendo micro melhoras, merece ser golpeado. Essas melhoras são sustentáveis ou para nos acalmar? Sinceramente... . Fecharam as portas para novos candidatos em 2018. Isso é o quê? Pilantragem em alto grau e nós que nos danemos! Não estão indo longe demais? E a Corte Suprema, com seu ativismo autoritário e inconstitucional. Sinceramente... . Em um país decente e sério, competente, a coisa se passaria diferente. No meu modesto entendimento estamos deixando as coisas irem longe demais. Poderemos nos arrepender.ricardo - 29/09/2017 21:08:03
Percival, essa gente que controla o Congresso são profissionais. Seus assessores são apadrinhados exclusivamente pela expertise em assuntos que favoreçam suas reeleições, mesmo que "tenham que fazer o diabo". Assim como nos presídios, o Congresso é uma escola de formação da mais cruel rapinagem do dinheiro público, onde os novatos tem a oportunidade de aprender toda a cartilha da vagabundagem que os mais velhos se dedicam.