• Percival Puggina
  • 29/01/2021
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BRASIL ESTAGNADO NO COMBATE À CORRUPÇÃO?

 

Percival Puggina

         Se deixarmos de lado o que pretende a mídia militante com essa leitura do relatório da Transparência Internacional (TI), a resposta à pergunta é afirmativa. O Brasil estagnou no combate à corrupção. Claro que a intenção da militância é bem outra, é venenosa, e não é preciso explicar seus motivos.

         Examinemos de perto a informação disponibilizada pela TI. Ela corresponde a uma medição feita em 2019 (o relatório é de 2020, mas seus fundamentos foram compulsados em 2019). O relatório não expressa a sensação de corrupção no interior do governo federal. Isso seria absurdo, por ausência de fatos, num país que sofreu nos anos anteriores a maior roubalheira da história universal e viu de perto figurões da República e do mundo empresarial sendo acordados pela Polícia Federal. Não, não digam isso a uma nação que assistiu em vídeo as confissões de culpa, as denúncias em colaboração premiada, as centenas de condenações criminais, as devoluções espontâneas de dinheiro roubado, os bilhões buscados em paraísos fiscais, as apreensões, as prisões.

Quem sai de Sodoma e Gomorra não vai se escandalizar com beijo de adolescente em festa de aniversário.

         Num país que passou pelo que o Brasil passou, a sensação de que o combate à corrupção estagnou ganha sentido com o desânimo da sociedade ao ver as portas das prisões de corruptos sendo escancaradas em gestos magnânimos do Supremo Tribunal Federal. Essa sensação tem muito a ver com a percepção do que acontece no Congresso Nacional e com a má qualidade ética das negociações que lá se estabelecem. Tem muito a ver com um projeto de combate ao crime enviado ao parlamento, retornar como Lei de Abuso de Autoridade para inibir a ação de policiais, de promotores e magistrados. Tem muito a ver com a frustração da sociedade perante o retorno à regra da prisão apenas na véspera do Juízo Final, quando, enfim, haverá justice for all. Tem muito a ver, por fim, com a percepção de um conluio envolvendo Senado e STF para engavetamento geral dos processos. O STF não julga senadores e os senadores não julgam ministros do STF. Os processos envelhecem de perder a memória, asilados nas prateleiras onde dormem de roncar.

         Pessoalmente, se consultado sobre minha própria percepção hoje, eu me posicionaria também pela sensação de estagnação por saber o que aconteceu durante o ano de 2020 (não avaliado para o índice de 2019) no âmbito de muitos estados e municípios. No velho figurino nacional, parte dos recursos bilionários destinados pela União ao combate à covid-19 foi parar em mãos desonestas.  Não apenas recebido como “auxílio” por quem devia estar auxiliando os mais carentes, mas envolvendo concorrências com dispensa de licitação autorizada por lei federal para casos de calamidade.

         Frustrante? Sim, frustrante, principalmente porque, em momento algum, se tratou de corrigir as causas institucionais que levam o Estado brasileiro a operar de um modo que estimula a corrupção e entra em letargia quando se trata de, efetivamente, punir os corruptos.

 

* Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


André Carvalho -   04/02/2021 15:11:51

Pois é... E no meio de tudo isso, Jair Rachadinha Bolsonaro não foi seauer capaz de vetar o projeto da Lei de Abuso de Autoridade. Conversa fiada - mais uma, aliás -, que, depois, o Congresso derrubaria o veto: deveria ter vetado, nem que fosse para marcar posição. Mas como exigir posição de alguém tão volúvel e vulgar como Rachadinha Bolsonaro?

João de Bona Castelan Filho -   31/01/2021 11:37:00

Os dois maiores "controladores" serão sempre a educação e a punição. Como educamos mal e punimos mal, ou não punimos........se melhorarmos continuará sendo a passo de tartarugas. Prisão em segunda instância já.

FERNANDO A O PRIETO -   31/01/2021 08:51:04

Muito oportuno e verdadeiro o artigo. TUDO é feito para favorecer poíticos, juízes, autoridades em geral corruptos, e evitar que ladrões tenham a merecida punição. A sensação é de impunidade, especialmente para os grandes... Isso NÃO é culpa do Presidente (goste-se ou não de seu desempenho), mas sim dos altos políticos, funcionários, juízes, promotores,... e NÃO seria possível se não tivesse o apoio da mídia miltante. Será que alguém ainda acredita em notícia de TV e jornal? Tal como um relógio parado, essa informação de vez em quando COINCIDE com a verdade.

Odilon Rocha -   31/01/2021 02:38:58

Caro Professor O seu último parágrafo diz tudo. Para mim, a condução e a administração do episódio de 2020 (fraudemia, termo que gosto, convictamente) ainda é bastante obscura e estranha.

Alceu Thomas -   30/01/2021 22:57:55

Pois é Puggina, leio sempre que posso suas postagens . Difícil discordar de algo e nesta, especialmente, com a realidade , nua e crua, ficamos sem saber o que fizer. Diante de fatos extremos, o STF simplesmente libera. Falta sim, uma explosão popular , mas quem para liderar , quem para gritar " vamos" ?

Menelau Santos -   30/01/2021 19:09:33

É isso mesmo Professor. O Sr. é um dos poucos que se dedicam a tal análise. O Brasil virou um país que absolve quem rouba 1 trilhão e prende e arrebenta o indivíduo que não usa uma máscara de pano.

Silvia Klein -   30/01/2021 17:45:36

Percival sempre coerente. Tudo tão verdadeiro. Nada, realmente, atinge tanto os Brasileiros, quanto a Lei de Combate ao Crime, virar Lei de Abuso de Autoridade, bem como, a Prisão em Segunda Instância evaporar. Triste País...

Valterlucio Bessa Campelo -   30/01/2021 17:25:57

O abate da quadrilha lulopetista não arranhou a corrupção das prefeituras e governos em suas obras de compras de bens e serviços. A incolumidade do governo Bolsonaro neste quesito é escondida pela mídia e o STF não ajuda com suas decisões pró-crime. Resultado compreensível.