• Percival Puggina
  • 15/12/2016
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BRASIL, CASO DE POLÍCIA

 

Há poucas semanas, li sobre achados do INSS através do pente-fino que vem passando nos auxílios-doença que paga. Há falecidos que todo mês removem suas lápides para comparecer ao caixa. Há licenças de 15 dias que se prolongam por anos. Há gravidez de risco que persiste quando o nascituro já está alfabetizado. Mas esses são casos extravagantes. Contemplando todo o cenário, já recaem suspeitas sobre 80% dos benefícios de auxílio-doença previdenciário e auxílio-doença acidentário que vêm sendo pagos!

É mais ou menos dessa época, também, a notícia de que o MPF, cruzando dados de diversas fontes oficiais mediante ferramentas de inteligência, encontrou "perfis suspeitos" de irregularidades em mais de 870 mil beneficiários do Bolsa Família que teriam recebido indevidamente um valor total estimado de R$ 3,3 bilhões.

  Nem o ambiente acadêmico, onde os recursos da mente sobressaem os reclamos do corpo, escapa às tentações da corrupção se o risco for baixo, a pena incerta e o processo criminal ardilosamente longo. Recentemente, a Operação PHD da Polícia Federal prendeu professores universitários e servidores ligados a um programa de pós-graduação em Saúde Coletiva na UFRGS.

 Além de quantos se dedicam ao crime organizado nas suas expressões mais "profissionalizadas" - tráfico de drogas, roubo de automóveis e de cargas, contrabando, descaminho, abigeato, entre outras - existem na vida social milhões de pessoas dedicadas a ganhar o pão, o bolo e, melhor ainda, a charlotte française, com o suor do rosto alheio. A vitrine das corrupções possíveis atende as mais variadas expectativas. Do Bolsa Família supérfluo, ao pixuleco milionário. São operações relativamente fáceis porque o governo é meticuloso na receita e negligente no gasto.

  As melhores notícias destes anos de cofres saqueados e raspados nos vêm de Curitiba, onde uma força-tarefa que opera junto à 13ª Vara da Justiça Federal, sem padrinhos e sem compadres, mostra denodo incomum no combate à corrupção dos hierarcas da República.

Falta-nos, agora, uma força-tarefa para, com igual vigor, agir contra as fraudes praticadas por multidões. Ali estão os eleitores que, por serem dados a desonestidades de pouca monta, não se importam de eleger e reeleger corruptos notórios e notáveis. Pessoas condenadas por tais práticas deveriam ter direitos políticos suspensos, tanto quanto é determinado em lei para políticos sentenciados. Quanto menor o número de eleitores corruptos, menor será, por certo, o número de criminosos eleitos.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Leonardo Melanino -   18/12/2016 20:35:10

Quem comete crime, independentemente de sua condição humana, como cor ou raça, etnia ou procedência, politicidade ou religiosidade, socialidade e assim sucessivamente, draconianamente terá de pagar por ele mediante legislações civil-penais extremamente enérgicas.

LUIZ GONZAGA FARIAS -   18/12/2016 20:34:07

A melhor forma de punir o corrupto brasileiro é no bolso e também nos seus bens para minimizar o prejuízo causado ao País. Não adianta prender, porque logo logo ele estará solto pelos inúmeros recursos que a nossa generosa legislação oferece ao infrator. Além do mais não existem tantas prisões assim para essa gente toda.

José Nei de Lima -   18/12/2016 02:16:08

Verdade meu amigo o país está uma vergonha.

Carlos Edison Fernandes Domingues -   17/12/2016 21:35:20

PUGGINA ! Para que isto aconteça torna-se imprescindível a reforma da Lei Eleitoral a fim de que, poucos partidos, tornem-se responsáveis pelos candidatos que apresentam ao eleitor. Quando havia o bipartidarismo, no governo revolucionário, a oposição sentia-se engessada. Homens cultos criticavam o modelo. Atualmente, com mais de trinta legendas, buscam candidatos até em porta de cadeia, os quais passam a se considerar superiores aos partidos que lhes deram legenda. Carlos Edison Domingues

susana -   15/12/2016 19:09:21

Professor, fico indignada em saber que o dinheiro dos impostos é assim distribuído de forma criminosa. Manifesto meu repúdio a que o dinheiro que pago mensalmente, via contra-cheque e outros meios de arrecadação, sejam utilizados em "programas sociais" desses malditos seguidores da funesta ideologia esquerdista. Com total apoio do "povo", esse eterno coitadinho.

susana -   15/12/2016 19:04:23

Perfeito.

Genaro Faria -   15/12/2016 17:12:53

Prezado professor, além da certeza da punição para os criminosos de todas as classes sociais e coloração política, é preciso mesmo mudar certos hábitos arraigados do dia-a-dia. Nem me refiro ao "flanelinha" que pagamos para não termos o carro, estacionado em local permitido, arranhado ou roubado pelo próprio. Pesquisas de abrangência mundial apontam como países de menor índice de corrupção aqueles onde não se pode dar gorjeta, sob pena de ofender o garçom, por exemplo. Este é o caso do Japão. Como diziam nossos antepassados, que nem parece que são de ontem mesmo, tal a diferença dos costumes: Menino que mente, no futuro, será ladrão.