• Percival Puggina
  • 16/10/2018
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BOLSONARO E OS DEBATES

 

Haddad está atrapalhadíssimo. Os marqueteiros do partido fizeram desabar sobre Bolsonaro três adjetivos que deveriam condená-lo à morte política por inanição de votos. Verdadeiro corte da fonte de suprimentos. Nos últimos meses, multidão de militantes, comunicadores, professores, intelectuais foi orientada a etiquetá-lo como machista, racista e homofóbico. A previsão era de que isso o fizesse definhar mais do que facada no ventre e sopa de canudinho no hospital. Pois apesar da carga cerrada, a mais recente pesquisa do Ibope mostrou que o candidato do PSL o supera em votos entre as mulheres (46% a 40%), entre os negros (47% a 41%) e provavelmente também entre os gays, mas isso não dá para saber. É informação difícil de buscar.

Haddad, então, não conhece seu adversário nem seus eleitores e já não sabe quem é. Por tanto tempo foi ventríloquo de Lula presidiário que quis continuar a usar a máscara com a face do chefe mesmo depois de ungido candidato a presidente. Aceitou ser chamado de “Poste” e – é claro – passou a ser tratado como tal. Haddad topava todas as postergações e humilhações porque ali adiante havia uma porta da felicidade que franqueava para os palácios presidenciais de Brasília. E tudo vale a pena, também quando a alma é pequena.

Ademais, as pesquisas, enganosas como são, vinham dando ao petismo a impressão de que o páreo estava corrido. Elas atribuíam a Bolsonaro um índice de rejeição incompatível com vitória eleitoral. Num segundo turno perderia para todos, incluído ele, Haddad. Bastava levar o adversário a um novo round e o PT voltaria às delícias do sítio de Atibaia da Praça dos Três Poderes.

O eleitor brasileiro, no entanto, “problematizou” a situação e “desconstruiu” essa narrativa, como diria um petista treinado nos ardis da novilíngua. O PT ficou reduzido a um único grande eleitor, o Lula. Nestes últimos dias, então, o atrapalhado Haddad descalçou o Lula; suprimiu a estrela, o PT e o PCdoB; fez desaparecer o vermelho. Adotou as cores da bandeira e ficou com jeito de “coxinha”. E quer porque quer debater com Bolsonaro. Valem, aqui, dois conselhos quase seculares: Não se atrapalha adversário que está errando e não se ajuda adversário que está atrapalhado.

Para que conceder ao adversário algo que ele tanto quer? Num debate, Haddad usará as piores estratégias. Estatísticas e calendários, desempenhos de gestão e atos de corrupção irão para o moedor das conveniências e das versões. Não vem o PT repetindo que sua gestão foi um paraíso de bem estar e prosperidade? Não alega que foi Temer quem arrastou o Brasil para o precipício? Oportunizar esse tipo de discurso? É muito difícil debater quando a honestidade intelectual fica fora do recinto.

Só para lembrar: em 1989, no primeiro turno, Collor faltou a todos os debates e no segundo foi a apenas dois; FHC, que venceu dois pleitos no primeiro turno, compareceu a apenas um evento em 1994 e em 1998 sequer houve debates; Lula não compareceu a nenhum debate no primeiro turno de 2006. Comparecer ou não é juízo de conveniência.

A campanha eleitoral vai terminar sem que o PT entenda que está perdendo esta eleição para o antipetismo em todos os segmentos da vida nacional. O petismo vive uma situação como a do samba de Vinícius e Toquinho em que o sujeito tantas fez que agora tanto faz.

 

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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
  


L eona Lopes -   22/10/2018 21:46:46

Excelente! Grande Mestre Página.

Armando Micelli -   21/10/2018 11:00:10

Prezado Puggina. Sempre leio os seus artigos. São ótimos. Porém este foi além do normal. A quantidade de ensinamentos que ele trás pede mais de uma leitura. Que beleza!

Ana Célia Santos Maia -   19/10/2018 15:52:43

Os artigos do Mestre Puggina são perfeitos!

Paulo Onofre -   19/10/2018 14:30:15

Prezado Sr.Puggina. Será que o candidato petista estaria preparado para responder, num eventual debate, o porquê de ter sido defenestrado ainda no primeiro turno, ao concorrer à reeleição em São Paulo? Perdeu para um candidato novato, oriundo da classe dita rica, neoliberal e opressora (Dória).

Fabio Reis -   19/10/2018 02:38:52

Essa insistência por um debate faz parte da usual truculência da esquerda, que posa de vítima sempre que lhes convém. A ideia é gritar aos quatro ventos que eles possuem um plano de governo (que, obviamente serve para mostrar ao povo brasileiro as "boas intenções" do PT), enquanto retrucam que Bolsonaro não tem projetos que visam o bem estar da população. Some a isto alguns ataques afirmando que Bolsonaro usa de fake news para prejudicar Haddad e coisas do tipo e pronto: qualquer resposta à afronta petista servirá como indicativo de falta de argumentos de alguém que não tem planos para o país e revida qualquer investida com agressividade, que é o rótulo que o PT adotou para denegrir o capitão. Que Bolsonaro deixe Haddad perder o jogo com esta carta na mão...

Rafael -   18/10/2018 14:35:02

Debater com um mentiroso compulsivo seria mesmo uma insanidade.

Menelau Santos -   18/10/2018 11:07:31

Professor, texto maravilhoso principalmente quanto ao bom gosto da música lembrada. Dentro dos ingredientes da justiça divina há um importante que é o tempo. E esse chegou para o julgamento do PT.

jorge -   17/10/2018 20:30:34

Quem gosta de conversa com poste e bêbado e,é por isso que ele vai toda semana em Curitiba.

RICARDO MORIYA MORIYA -   17/10/2018 13:59:37

Caro Mestre Puggina, não comento em seu blog desde 2015 (mudança, problemas familiares, etc.), todavia num momento único da evolução/transformação do brasileiro médio - de mero espectador a participante ativo de seu próprio destino, não poderia deixar de lado minha surpresa e empolgação com o que vejo... em outras palavras: com algumas exceções (os velhos currais eleitorais do PT no NE), a maioria das pessoas comuns acordou de vez. O maior sintoma não é apenas o desprezo incomensurável pelo socialismo-comunismo entranhado no aparato estatal, é a realização que a grande imprensa (a mídia como um todo) vem sendo o maior antagonista do povo, de sua religiosidade e de seus costumes tipicamente brasileiros. Do vendedor de frutas no sinal de trânsito ao velhinho na fila preferencial do banco, todos falam abertamente mal dos meios de comunicação, dos jornalistas desonestos (diria que mais de 90% dos jornalistas nacionais são traidores nefastos!), das Fátimas Bernardes da vida.... Eu creio veementemente que o edifício monstruoso que sustentou por mais de 25 anos esta falsa polarização PT (e auxiliares PCdoB, PSOL, etc.) VS PSDB/PMDB/DEM está começando a desmoronar. O edifício em questão pode ser chamado de Tripé Maligno, que agrega a Burocracia Permanente (membros do judiciário e outros funcionários públicos especiais), os meios de comunicação (jornais, revistas e televisão), e por fim as fortalezas impenetráveis da ignorância que são as Universidades públicas deste castigado Brasil, com seus intelectuais primários, professores patéticos e alunos imprestáveis - nem todos, porém uma ruidosa e incurável parcela.

Antônio César Guimarães -   17/10/2018 13:48:57

Poste não pensa, não fala e não age; então melhor é deixar ele como está .

Edson Alves Muniz -   17/10/2018 10:08:33

Este Haddad é tão insignificante que nem seu primeiro nome eu lembro. Para debater com um "poste " será melhor NÃO ir. Já está ganho esta eleição, apesar das grandes dificuldades e as urnas eletrônicas, PIADA MUNDIAL.