Percival Puggina
Ainda que eu tivesse boa vontade – e desta não me resta um pingo –seria impossível não gritar, como se neste texto escrevesse em negrito e caixa alta: no Brasil, as leis más são protegidas pela espada de Themis (as que se referem à prisão de criminosos, por exemplo) e as leis boas (a das estatais, por exemplo) sujeitas a tratamento desdenhoso. Agentes políticos têm uma face para cada ocasião, como se o rosto fosse parte do vestuário que vai da bermuda ao black tie, com todos fingindo não notar. Eu noto.
Uma das melhores leis votadas pelo Congresso na última década foi proposta e sancionada pelo presidente Temer. Refiro-me à Lei das Estatais. Ela foi rigorosa em proteger tais empresas da pirataria política. À época, a nação parecia ascender a um patamar ético superior com o resultado das investigações da Lava Jato. Dinheiro roubado era espontaneamente devolvido, ou judicialmente recuperado. Corruptos e corruptores, presos. Hoje, sabe-se, os ladrões estavam certos; errada era a Lava Jato. E essa é uma história que não sou louco para contar.
As quarentenas de 36 meses para políticos em atividade proverem cargos de direção e conselhos de administração, bem como as exigências técnicas e de experiência para tais funções, resultaram em estatais lucrativas e fim dos escândalos. Mas o petismo retornou ao poder e, de repente, mudou de traje e de rosto, tratando de reduzir de 36 meses a quarentena que servia aos outros, para 30 dias, agora suficientes aos seus parceiros ... Senhor! Dá-me forças pra viver!
Se você acompanhou o período em que as notícias nacionais focavam aquela multidão que compunha a comissão de transição, certamente sentiu ali o tamanho do problema por vir. Havia uma inadequação entre o recipiente (a máquina estatal) e o conteúdo (número de companheiros e parceiros) a ela destinados. Faltava máquina e sobrava parceria.
A dificuldade está provisoriamente resolvida por decisão monocrática do ministro Ricardo Lewandowsky, que deixa o Supremo agora, no dia 11 de abril. Em meados de março, o ministro acolheu uma Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pelo PCdoB e derrubou parte importante de uma boa lei aprovada pelo Congresso Nacional, com votos do governo e da oposição, vigente há quase sete anos! Representação popular, para quê? Enquanto o colegiado do STF não decidir, ficamos sem quarentena: nem 36 meses, nem 30 dias; basta sair de uma cadeira para sentar na outra. E muito espumante foi aberto em alegres comemorações.
O fato é que nos reencontramos com o passado de 2003, cujo futuro é a íntegra de uma história já contada. Bem-vindos ao passado! Ele está apenas recomeçando.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
José Eduardo Foganholo - 13/04/2023 11:40:27
Triste, mas tudo verdade! E ninguém faz nada porque não há ninguém com poder suficiente para tanto. Só faltam declarar intervenção nacional em todos os graus executivos (exceto federal, claro!), colocar interventores escolhidos de sub as asas e... Dane-se a liberdade, os direitos individuais, os direitos à propriedade, à liberdade de ir e vir... Aí, não serão mais necessárias eleições... Pra quê?!? 🤷🏽♂️🤷🏽♂️🤷🏽♂️Margareth Miranda - 11/04/2023 20:28:34
Uau! Que texto! A nossa realidade... nua e crua! O povo, cego, não consegue enxergar... além dos seus interesses... infelizmente...Menelau Santos - 11/04/2023 20:04:20
Presidente Bolsonaro foi um sopro de esperança que passou pelo Brasil. E deixou sementes, assim como o Professor Olavo de Carvalho. Nossos balsamos? Os textos como os do Prof. Puggina.Ademar Pazzini - 11/04/2023 19:55:19
Prezado Prof Puggina, Entendo seu desalento com o atual cenário nacional, para nós que "notamos", percebemos a dramaticidade do momento e sim, é angustiante. Há muito tempo deixei de acreditar na nossa abjeta classe política e sinceramente, não espero nada de positivo dessa gente. Claro, há honrosas exceções, como o Dep van Hatten e outros que certamente não chega a uma centena. Quanto ao quadrilhão atualmente no Poder, tudo pode acontecer, inclusive nada!Sergio - 11/04/2023 19:17:16
Esse marginal governa no seu tempo 2003. Um fiasco . Queremos um homem na presidência com H maiusculo. Esse imbecil está tomando muita canja. Quero um presidente. Que olhe o futuro. Esqueça o genocida o facista. E governe. Cama boa ele já tem. 42 mil. Um abuso entre tantos. Já cabe sua devida descida da rampa.CARMEN LUCIA DA ROCHA XAVIER - 11/04/2023 17:33:52
Texto realista e brilhante, mas me enche de tristeza e desesperança no Brasil.Alcemar de Godoi - 11/04/2023 15:29:05
Muito bom a colocação. Um pena que os acéfalos e cegos não entendem . O país vai pro fundo do poçoMARCO ANTONIO GEIB - 11/04/2023 10:27:59
BEM LEMBRADO MESTRE ...É QUE CONVIVEMOS DIARIAMENTE IMPREGNADOS DE NOTÍCIAS DESTE QUILATE QUE NOS TORNA INSENSÍVEIS IGUAIS UMA A BOIADA SENDO CONDUZI9DA AO MATADOURO...ABS.Juarez Uchôa Carrasco - 11/04/2023 09:58:18
Seus textos são precisos e profundos como se fossem escritos com um bisturi. Extirpam a ignorância sem anestesia!João Jesuino Demilio - 11/04/2023 08:59:13
O Brasil voa velozmente de retorno ao passado...Vivemos dias de idade média...logo estaremos no Império Romano...Ops...IMPÉRIO CHINÊS!!!Antônio Ferreira - 11/04/2023 08:20:54
Sr Percival, parece que a maioria conservadora no congresso pouco faz pra barrar o ladrão de nove dedos, conforme eu temia, muitos estão tímidos temendo mais ilegalidades do supremo. Tenho ainda muita preocupação de que essas loucuras possam também estar escondendo o fato de que uma situação ainda mais grave esteja em andamento, faço referência a amazônia e o embate que ocorre lá neste momento, relatos de muitos estrangeiros junto com polícia, militares e ONGs tomando terras e rebanhos, sei lá, só um sentimento ruim de que possa se desdobrar aquilo.Rubilar J.Bernardes - 10/04/2023 16:59:21
Três facínoras em um mesmo estantâneo. São as três maiores fortunas do petismo.