• Percival Puggina
  • 01/02/2023
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As últimas 30 moedas

 

Percival Puggina

         Nesta noite de 31 de janeiro, enquanto os brasileiros dormiam, um Brasil obscuro raspava as gavetas do poder em busca das últimas 30 moedas com que possa comprar consciências e garantir votos de senadores para o candidato preferido pelo stalinismo que avança no país.

Escrevo isso e todos os leitores sabem do que falo. O aparelho está montado. Tarefas bem definidas. Uns pintam; outros bordam. Juntos, pintam e bordam!

Cansei de escrever que o livro “Pedagogia do oprimido”, a famosa obra máxima de Paulo Freire, deveria chamar-se “Pedagogia da opressão” porque seu produto final era a ignorância que – esta sim – oprime. Pois o quadro político instalado no país dá sequência no plano institucional à pedagogia da opressão. É ela que está em jogo.

O Brasil não só viu como sentiu na pele a impotência a que são levados os cidadãos que contemplam a lista de seus direitos constitucionais arrastada ao chão pelo mutirão empenhado em lhe tomar a alma. A situação está bem retratada no livro “Nos campos de concentração soviéticos” de Vladimir V. Tchernavin (ed. Avis Rara). Nessa obra, o autor busca na própria experiência os detalhes e os extremos da situação humana a que são jogados aqueles que veem seu destino dependendo inteiramente de alguém que lhes dispensa profundo desdém.

Infelizmente, algo assim está acontecendo no Brasil. Para que o ser humano não exprima emoções, é preciso que não as sinta; para que não as sinta, é preciso que não as tenha; para que não as tenha é preciso roubar-lhe a alma; para que a alma lhe seja tomada é preciso infundir-lhe o supremo temor e suprimir-lhe o mais tênue fio de esperança. Cãezinhos ruidosos, que latem por qualquer coisa, se repreendidos pelo dono, produzem um som cavo, fraco. Latem para dentro.

É o que querem nossos novos stalinistas enquanto usam todos os estratagemas para preservar os ferrolhos além dos quais se confinam um estado de direito sem direitos fundamentais e uma democracia da qual restem, apenas, as formalidades e o rito eleitoral.  

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Alfredo Furtado -   06/02/2023 07:40:10

Perfeito! Exatamente como vejo!

Gisele Rodrigues -   02/02/2023 14:49:43

Sr. Puggina, doeu na alma esse texto. Infelizmente é o que sinto estar acontecendo com as pessoas, estão perdendo a alma, não é exagero dizer que vivemos uma guerra espiritual, para quem crê em Deus. E vivemos apenas as formalidades, porque democracia, não mais...

RUBENS SILVIO DE ALMEIDA -   02/02/2023 10:04:46

Tudo orquestrado para que nosso País não dê certo!

Menelau Santos -   02/02/2023 00:20:06

Escrevo após o fato consumado. Os textos do Professor Puggina são como água em Marte. Eu não vejo, mas sei que ainda existe vida. Sempre recorro a Bíblia, a eleição de Rodrigo Pacheco é como o sorteio das vestes do Senhor. Depois que levaram tudo do Estado Brasileiro, só resta dividir o que sobrou.

Fernanda Spelta -   01/02/2023 23:08:55

Que miséria "democrática" é essa q devemos viver! Terra de Jagunços. Que lástima

Sueli -   01/02/2023 15:23:17

Que tristeza imensa sinto lendo suas palavras professor, não consigo acreditar que chegamos a esse ponto de desesperança.

Vicente Lino -   01/02/2023 14:06:41

Extraordinário Puginna! Profundamente lamentável que nossos políticos tenham nos levado a isto. São eles, os principais responsáveis pela miséria institucional que vivenciamos. Continuam de costas para o povo que os sustenta, num mundinho privado e obsceno.

Maria Lucia peixoto de Souza -   01/02/2023 13:25:52

Comentei exatamente isso com tua irmã Denisa.

Ary de Carvalho Alcantara -   01/02/2023 11:43:50

Maravilha amigo Pugina