De todos os lados entram nos meus grupos de whatsapp e na caixa de e-mails cópias de um vídeo contendo discurso do deputado federal Pedro Cunha Lima, filho do senador Cassio Cunha Lima e campeão de votos em seu Estado. Praticamente desconhecido fora da Paraíba, com uma fala de poucos minutos virou celebridade nacional.
Com voz calma, sem excessos retóricos, listou obviedades. Fez afirmações que frequentam cada mesa de família, boteco, programa de rádio ou carta de leitor aos jornais. Há tal sintonia entre suas afirmações e o sentimento dos cidadãos de todas as classes sociais, inclinações políticas, níveis intelectuais e faixas etárias, que todos, ao ouvi-lo, se percebem representados. E se põem a repassar o discurso aos seus círculos de relação.
Um representante que representa virou fenômeno! Um deputado de presença discreta na Câmara ganha justa notoriedade em cinco minutos, apenas com afirmações sensatas e verdades incontestáveis, mas raramente condensadas e proferidas por nossos políticos.
O jovem Cunha Lima simplesmente disse:
1. que é preciso reformar a máquina pública;
2. que não se pode fazer ao trabalhador rural exigências das quais se isenta a elite política do país;
3. que não é o povo que tem que obedecer aos políticos, mas os políticos que devem obediência ao povo;
4. que está enganado quem pensa que o povo continuará tolerando isso e que todos se acalmarão com o simples escoar dos dias;
5. que auxílio moradia deve ser para quem não tem casa e auxílio alimentação para quem não tem alimento, jamais para quem recebe bons vencimentos e subsídios;
6. que haver um servidor com a tarefa de ajeitar a cadeira onde cada ministro do STF senta é símbolo de um tempo que passou;
7. que é populista, dissimulada e enganadora a atitude dos deputados contrários à reforma trabalhista que silenciam diante da necessária reforma da máquina pública;
8. que o Congresso deveria parar por 15 dias, se necessário, e tratar dessa reforma, em regime de urgência e votação de urgência;
9. que só então terá o Congresso apoio popular e legitimidade para fazer as demais reformas tão importantes para a vida nacional.
Aí está, esquematicamente, 100% do conteúdo abordado pelo deputado (os poucos minutos do discurso podem ser assistidos aqui). Há algo muito errado num país em que semelhantes obviedades ganham brilho, arrancam aplausos nacionais e “viralizam” nas redes sociais.
É preciso afirmar e voltar a afirmar às lideranças políticas que a nação clama por exemplos que venham de cima. Num país com pretensões de justiça e democracia, nem mesmo em período de abundância (coisa que nunca houve fora do Brasil ficcional e dos discursos demagógicos) se justificam demasias como as que são reservadas a setores muito bem identificados nas instituições do Estado. Menos ainda é possível admiti-las em momentos como este, de grave crise fiscal. No entanto, quando se trata de privilégios, o Congresso Nacional só ouve as ruidosas galerias e os peregrinos engravatados que sussurram nos gabinetes, dizendo-se portadores dos mais legítimos anseios e direitos. Estranha democracia, essa, em que as minorias comandam o show e se sobrepõem à nação, destinatária compulsória de todas as contas.
Os que se omitem ante a reforma da máquina pública (e das instituições) estão a serviço dos inimigos da democracia e de todas as reformas porque o Estado que lhes convém é exatamente esse que está aí, destrambelhado e injusto. Tão óbvio quanto o importante discurso do deputado paraibano: a reforma da máquina pública equivale a um contrato social com a justiça e com o direito. Vale, também, por uma faxina. Casa bem higienizada não abriga formigas, ratos e baratas.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
estado mínimo - 30/05/2017 17:36:42
Keynes via o risco de o estado se agigantar e esmagar o cidadão. Mises, muito superior a Keynes, tinha a certeza disto. Entendia que só a vigilância permanente poderia evitar o agigantamento do Estado. Pois bem, no mundo todo, sem exceção, o Estado se hipertrofiou e é a maior ameaça às liberdades individuais. O irônico é que foi o capitalismo e a liberdade de ação que geraram a riqueza que, taxada, inflou a atuação estatal. Quem vai fazer o serviço de colocar o estado no rumo de novo? O próprio estado? Melhor sentar que em pé cansa esperar. Os entes do Estado vão agir contras as próprias regalias? Duvido. Não há reforma possível. O que resta é a diminuição pela privatização. É só a ponta do iceberg, mas é o possível. Destruir o estado de bem estar é uma luta dura porque impopular. Mas é a mais necessária de todas pela liberdade. O Estado quer controlar o cidadão e a melhor maneira de fazê-lo é torná-lo dependente. Para o dependente, que perde a autodeterminação e a autoconfiança, a liberdade tem gosto de desamparo. O Estado é a fonte da grande corrupção, quando desvia, quando favorece, quando se omite. O Estado vive pelo Estado e isto é a maior corrupção imaginável. Só menos Estado pode trazer menos corrupção. PS. como é bom entrar em um site que tem uma área de comentários que vale a pena ler. Coisa rara. Parabéns Puggina, isto tem a ver com a serenidade e clareza do seu pensamento.Genaro Faria - 29/05/2017 09:51:26
Nos últimos vinte anos de governos "progressistas" - de PNDHs ditados pela pauta globalista - a realidade brasileira foi saindo de cena enxotada pelos grandes temas prioritários da esquerda mundial: aquecimento global; liberação do aborto; casamento gay; identidade de gênero e assim por diante. E o rei desfilando na passarela do delírio cercado pelos vigaristas de plantão que lhe diziam que ele estava abafando (que nem tampo de privada). O que esse deputado nordestino fez remete ao menino da famosa fábula: "O rei está nu".Ismael de Oliveira Façanha - 29/05/2017 03:28:45
O discurso deste deputado me lembra o do rato na assembleia da rataria apavorada com o gato, da conhecida fábula de La Fontaine. Discurso de correta programática mas, quem irá concretizá-la?Rachel Marotta - 28/05/2017 23:55:48
Estamos vivendo um momento que exige mudança de método e concepção. Corrupção , abuso de autoridade por parte dos POLÍTICOS, não mais será tolerada. Atores, cantores defendendo pautas de interesses pessoais, como se fossem autoridades sobre os mais variados assuntos , serão repudiados. Nas próximas eleições , estaremos ,a maioria dos eleitores , empenhados em escolhas de representantes sérios, que compreendam que o voto é uma procuração que não autoriza nenhum tipo de corrupção e excessos.