Percival Puggina
Ganhou destaque nos principais jornais do país, o manifesto assinado por 250 “personalidades” conhecidas no mundo político, cultural, empresarial em favor das urnas eletrônicas exatamente como são e estão. Não importa a essas pessoas que nenhuma democracia de respeito utilize esses artefatos para colher os sufrágios em suas eleições com extensão nacional. Essas democracias avançadas não as recusam por serem caras ou sofisticadas, com excesso de tecnologia embutida ou exageradamente seguras. Ao contrário, recusam-nas por não permitirem a contagem individual dos votos.
A urna brasileira, portanto, é uma exceção, confirmada como tal, por todas as regras eleitorais sérias.
Para a mídia brasileira, porém, 250 “personalidades” com viés político e partidário conhecido referendam sua perfeição malgrado a desconfiança que sobre elas recai no mundo todo.
O fato de milhões de brasileiros terem ido às ruas, em família, pedir que impressoras dos votos sejam acopladas às urnas eletrônicas não mereceu o mínimo respeito e consideração das instituições da República. Nem das 250 “personalidades” erguidas, pela mídia militante, ao panteão do civismo nacional.
Os próprios empresários que se apresentam para afirmar sua fé na invencível perfeição do sistema de coleta e apuração de votos no Brasil gastam bilhões ao ano para segurança de seus próprios sistemas! Por isso, o que dizem vira piada nacional.
Quando observo esses movimentos, examino quem os produz, me pergunto se resta dúvida sobre suas motivações.
1 - O relatório favorável ao voto impresso, apresentado pelo deputado Felipe Barros, foi derrotado ontem por partidos políticos que, em dois anos e meio, não deram maioria para aprovar a PEC que permite a prisão após condenação em segunda instância; aprovaram leis que inibem a ação de quem combate o crime; tentaram abocanhar quase R$ 6 bilhões para financiar com recursos da sociedade suas campanhas eleitorais;
2 – Nossa Suprema Corte, anulando condenações, processos e provas, mudando de posição sobre prisão após condenação em segunda instância, fez ouvidos surdos ao clamor nacional e realizou a proeza de deixar Lula inocente como era quando, pela primeira vez, viu o pôr do sol desde o Alto do Magano em Garanhuns.
3 – Os grandes grupos de comunicação do país parecem haver perdido seus arquivos e sua memória. Silenciam sobre todos os partidos e congressistas que mudaram de opinião sobre voto impresso. Acusam o presidente de começar uma briga, como se ele não tivesse, desde os primeiros dias de gestão, sido alvo da Suprema Corte, onde ministros adversários sempre o trataram como tal.
É um imenso desafio à boa vontade não ver em tudo um ânimo que não condiz com o que se espera das instituições num regime democrático.
Haverá quem não perceba, na súbita resistência de tantos ao voto impresso, um alinhamento político automático, que fica muito aquém do bem de uma democracia tão desatenta ao eleitor, à voz das ruas e à vontade manifesta nas urnas?
Não é diferente o que se percebe ao examinar a lista das 250 “personalidades” que proclamaram sua confiança cega nas urnas opacas. Poucos ali não se contam entre os insatisfeitos com o resultado eleitoral de 2018. Seu objetivo presumível é o mesmo que desde 1º de janeiro de 2019 se percebe no Congresso e no topo do Poder Judiciário nacional.
Por fim, será adequada a uma democracia a sensação de que ao emitir estas opiniões entro em território onde tal liberdade e tais opiniões não são toleradas?
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Alexandre Granetto - 13/08/2021 04:17:18
Não vejo problemas em se discutir o sistema eleitoral vigente (algumas alterações já foram feitas, por exemplo: a identificação biométrica, que foi implementada ao longo de algumas eleições), porém vejo má intenção quando um presidente eleito por esse sistema alega fraude em sua própria eleição (então, ele é uma fraude?). Esse presidente tendo a possibilidade de abrir discussão sobre o tema desde o começo de seu mandato e de propor alterações já na eleição seguinte (prefeitos e vereadores de 2020) não o faz, mas a pouco mais de um ano da eleição que poderá reelegê-lo, quando as pesquisas indicam sua derrota e ele sabe que não existe tempo hábil para uma mudança de sistema de voto (além de questões de legislação, se precisa tempo para comprar impressoras, instalar um sistema que se possa ver a impressão sem poder tocar, é que o voto impresso possa cair em uma urna inviolável, tudo isso funcionando perfeitamente em um número infinidade urnas país afora), afirma que ou é do jeito que ele quer (aparentemente impossível) ou não terá eleições (completamente inconstitucional). Se a discussão for séria, proposta para futuras eleições, com um plano de implementação e testes, sem que se envolvam interesses eleitorais imediatos de nenhum político, vamos discutir o assunto, porém para ajudar política e eleitoralmente algum candidato (nesse caso: o atual presidente), por favor, VÃO ARRUMAR O QUÊ FAZER!!!!!!NELSON S F AZAMBUJA - 09/08/2021 17:05:49
Prezado Puggina: Acho que está mais do que na hora de pararmos de dizer que bandidos são ignorantes, inocentes ou mesmo possuem alguma razão - qualquer que ela possa ser -para fazerem o que fazem. Nesses bandidos eu incluo impatriotas, ladrões, congressistas, juízes do DST, a grande mídia e todo os demais que querem o mal do Brasil em vez que querer vê-lo grande, honesto e rico. Ou seja, temos que dizer que eles sabem tudo o que fazem e o fazem apenas porque são sem-vergonhas e querem lucrar com o fracasso do Brasil. Porque essa é toda a verdade!!! Não há como justificar a atuação de certas pessoas, simplesmente porque não há justificativa! Eles apenas querem o fracasso do Brasil e dos brasileiros de bem, seja porque são corruptos e querem continuar usufruindo da corrupção que sempre imperou no Brasil até o governo Bolsonaro, seja por questões ideológicos, sempre na presunção de que numa ditadura eles farão parte da cúpula do poder, seja por qualquer outro motivo, sempre particular, visando o seu próprio bem e não o da coletividade. Essas 250 personalidades são o retrato mais vivo do que estou dizendo aqui. É total perda de tempo buscar o motivo "A", "B", etc ..... que levou cada um deles a assinar esse manifesto ou simplesmente chamá-los de ignorantes! Eles sabem muito bem o que fazem e o fazem cientes disso. Eles são simplesmente canalhas e impatriotas!!!! Denunciar sim, mas não vale à pena gastar muito tempo com esse tipo de gente .... Na minha opiniãoMenelau Santos - 09/08/2021 13:54:00
Texto na mosca. Os que assinaram tal manifesto não são "personalidades", nem "intelectuais", nem "jornalistas", nem "artistas", nem "filósofos", nem "empresários". São apenas militantes.carlos edison domingues - 08/08/2021 19:48:09
PUGGINA. Tem gente que assina mas, por sua versatilidade, não merece credibilidade. Carlos Edison DominguesFERNANDO A O PRIETO - 07/08/2021 06:15:50
Que importância pode ter a opinião das 250 - ou seja lá quantas forem - "personalidades"? Desde quando popularidade é critério de aferição de verdade científica? A maioria pode, e deve, escolher um governo, (é o seu direito, deve ser respeitado), mas não há garantia de que escolha certo; há exemplos gritantes na História do contrário. Mas sobre a confiabilidade de um processo tecnológico, o quê entendem eles? São esses que assinam que me darão lições? São eles que estarão comigo quando chegar a hora em que Deus vai me julgar? Claro que não - então, que estes presunçosos e vãos "assinadores de manifestos" recolham-se à sua insignificância - darei às suas opiniões o merecido valor (nulo).Leandro Torazzi Carvalho - 06/08/2021 22:31:18
Bravíssimo ???? , perfeito, os 3 contra pontos citados a resistência de haver voto AUDITÁVEl impresso com escrutínio público foram cirúrgicos nessa hipocrisia nefasta desse sistema , classe jornalística, artística e etc.Celio vargas - 06/08/2021 19:14:36
Meu caro, Para além do controle absoluto do ato de votar, devemos nos preocupar com a qualidade do voto, ou seja, o eleitor deve ser satisfatoriamente esclarecido sobre as artimanhas que estão em jogo. Penso que aí está o problema: a interlocução do governo com o povo. Um abraço.Luiz R. Vilela - 06/08/2021 18:35:12
Dizem que o melhor desinfetante, é a luz do sol, e que mulher de Cesar não basta ser honesta, tem também que parecer honesta. As eleições no Brasil, não bastam ser honestas, tem também que parecer honestas, e para tanto nada como a possibilidade de que possa haver recontagem, que sob a luz do sol se tenha a certeza de que foi limpa. A cruzada contra o voto impresso, da margem a suspeitas, já que tiraram o lula da cadeia, limparam a sua ficha suja, criaram as condições de que possa ser candidato a presidente, e que mais vão fazer para ajuda-lo? Uma eleição sem a possibilidade de ser revista? É isso? O que se quer é a certeza de que quem venceu, venceu na limpeza, sem restar qualquer dúvida. Invadem até os computadores do Pentágono, e num pais onde quase tudo é fraudado, roubado, seriam apenas as urnas eletrônicas, imaculadas como Maria? Debaixo deste angu tem caroço, podem ter certeza, no Brasil, tudo é suspeito, a armação esta avançando.Rosemary Sordi - 06/08/2021 15:55:21
É inacreditável que tais pessoas tão "intelectualizadas" compactuem com o obscurantismo dos pleitos eleitorais, numa demonstração que evidencia desrespeito a um ato democrático de direito. Também é inconcebível que tais "formosidades" da cultura brasileira ainda não tenham percebido que: 1. já não são formadores de opinião; 2. utilizem a mesma régua para mensurar a capacidade e a autonomia de pensamento dos cidadãos brasileiros; 3. o Brasil mudou.