• Percival Puggina
  • 15/06/2018
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ARGENTINA: O TATU CARRETA E O ABORTO

 

 Há alguns meses, um caminhão da CEEE passou pela minha rua podando galhos que interferiam com a rede de distribuição da empresa. Na árvore existente diante de minha casa havia um ninho de passarinho. Cuidadosamente, os operadores do serviço preservaram-no e o galho ficou ali, hígido com seu bercinho de gravetos, proporcionando pequeno e eloquente testemunho de defesa da vida. Tempos depois, abandonado pelos minúsculos moradores, desfeito o ninho, o caminhão voltou à rua e removeu o galho que ali ficara, alegoricamente, apontando para a abóboda celeste e para o Criador.

Na última quinta-feira (14/06), após quase 24 horas consecutivas de sessão, a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou, por uma diferença de quatro votos, o projeto de lei que descriminaliza o aborto feito até 14 semanas de gestação. No exterior do prédio, em meio a fogueiras para aquecer a fria noite de Buenos Aires, dois grupos distintos se confrontavam na defesa de suas convicções pró-vida e pró-aborto. Após a votação, jovens feministas trocavam abraços e lágrimas de emoção. Emoção? Que espécie de emoção é essa, a festejar o genocídio de seres humanos em sua mais indefesa condição? É de um cinismo inqualificável olhar a imagem de um feto com 14 semanas, fingir não saber de que se trata e tratar como coisa que se mata. Como não reconhecer ali um ser humano, uma vida diferente da vida da mãe?

Espera-se que os senadores argentinos rejeitem o projeto, pois deles se diz serem mais conservadores. Longa vida, então, aos conservadores! A idade talvez os ajude a compreender obviedades que, na juventude, obscurecem ante o império dos impulsos pessoais e do interesse próprio. Entre tais obviedades inclui-se a consciência de que a natureza, a vida e a dignidade da pessoa humana exigem proteção legal que independe da religião de cada um. Impressiona-me, por isso, a frieza quase inumana com que o Ocidente, moralmente danificado pela cultura da morte, vem tratando dessa questão, legalizando o aborto como um “direito da mulher”, a ser executado pelo Estado “de modo seguro e gratuito”. Claro, o orgasmo é do casal e a conta do crime, nossa.

A mesma República Argentina cuja Câmara dos Deputados legalizou o aborto até as 14 semanas da concepção (da concepção de quem, mesmo?) mantém excelentes reservas naturais, como a de Formosa para salvaguardar os tatus carretas em sua área de reprodução. Nossos vizinhos protegem, igualmente, sob o estatuto de monumentos naturais, algumas de suas espécies animais, como a taruca, a baleia-franca-austral, o huemul, o aguará guazu, e vegetais como o pinho do cerro.

Nenhum ser humano civilizado vai a um ninho de passarinho quebrar seus ovos e ninguém põe em dúvida a natureza do pequeno ser vivo que vai romper aquela casca desde dentro. No entanto, parlamentares, jornalistas militantes, feministas, globalistas financiados por George Soros e partidos de esquerda lutam para impor ao filhote do bicho homem, no ventre materno, perversidades que não admitiriam em relação a seus pets.

 

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 


Sebastião José da Silva -   19/06/2018 19:46:53

Simples como o óbvio direito à vida, e perfeito como sua dádiva, concedida pelo Criador. Continue escrevendo, mestre!

Armando Neto -   18/06/2018 01:11:25

Texto genial. Irretocável. Obrigado por continuar escrevendo!!

Lindoberto Ramos Lima -   17/06/2018 22:24:57

Diante de tudo aquilo o que mais me chocou foi ver as mulheres, fora do local onde foi a votação, festejando, algumas chorando?? incrível vibravam com a possibilidade de assassinar seres que não podem se defender....A que ponto chegam os seres ditos humanos....Parabéns Professor Puggina pelo texto.

José Nei de Lima -   16/06/2018 21:40:49

Olá meu querido amigo está muito frio no Rio grande do sul, velha máxima o ser humano é uma verdadeira caixa de surpresas à cada ano que passa surge uma novidade atrás da outra haja sensibilidade em todos sentidos, uma ótima semana meu amigo.

Carlos Edison Domingues -   16/06/2018 21:17:25

PUGGINA ! Estou, integralmente, solidário com o que escreveste. Cobram do Estado segurança à vida, frente ao barbarismo dos homicídios, enquanto defendem um crime desumano contra um ser indefeso. Carlos Edison Dmingues

carlos r.dos santos -   16/06/2018 18:26:52

mas quem realmente é assassino?Josef Stalin,Adolf Hitler,Mao Tse Tung,Fidel Castro,ou esta coisas que são a favor do aborto,pois não pode ser chamado de seres humanos.

Dalton Catunda Rocha. -   16/06/2018 17:42:04

Uma vez aprovada a plena liberdade de fazer abortos, quem vai pagar pelos milhões de abortos a serem feitos aqui, todos os anos? Não será a Fundação Ford, o PT ou alguma entidade feminista. Quem pagará pelos milhões de abortos todos os anos, será o povo brasileiro. E para quem acha que está mesmo sobrando bilhões de reais do orçamento da saúde, para pagar estes abortos todos, que veja estes sites, para ver como "são abundantes" os recursos para saúde pública: 1- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para o tratamento de drogados: https://www.youtube.com/watch?v=qJIcv97rnWk&t=52s 2- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para tratamento de câncer no SUS: https://www.youtube.com/watch?v=7DLk5Th3agY 3- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para tratar crianças doentes: https://www.youtube.com/watch?v=LyFU5YAirKw 4- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para atendimento emergencial: https://www.youtube.com/watch?v=ZNb4yZd_Sdo 5- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para tratamento de AIDS: https://www.youtube.com/watch?v=gaLsCMwvwH8 6- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para conservação de hospitais públicos: https://www.youtube.com/watch?v=OtqUFHY1P_4 Nem preciso falar da absoluta falta de recursos, para eliminar ou sequer combater a dengue, chikungunha, zika, etc. Resumindo. A falta de recursos para a saúde vai piorar, não melhorar. Para quem não liga para a vida de embriões, que pelo menos ligue para o próprio bolso e, para a própria saúde. Dúzias de nações legalizaram o aborto, nas últimas décadas. Em nenhum caso, houve redução de gastos com saúde; ao contrário. Do ponto de vista econômico, legalização do aborto é um desastre. A então União Soviética, que legalizou o aborto já nos seus anos iniciais, bem prova isto. O mesmo nos casos de Cuba, Coreia do Norte, etc. Na Europa, nos últimos 70 anos, enquanto se foram erguendo clínicas de aborto, foram surgindo mesquitas, nos mesmos países, na mesma proporção. E o STF diz que são direitos constitucionais da Constituição de 1988, por uma interpretação para lá de distorcida, mas esta mesma constituição de 1988, garante de maneira clara acesso plena à saúde, pleno emprego, excelentes escolas públicas, ausência de corrupção, etc. Aos abortistas de plantão, eu cito um pensamento, em defesa do aborto: “Proteger os ovos de tartaruga e exterminar os fetos humanos faz sentido, sim. Afinal, um ovo de tartaruga é apenas uma futura tartaruga, e o feto humano pode ser um futuro juiz do STF." > https://www.facebook.com/carvalho.olavo/posts/740199972798746

Rogerio Schneider -   16/06/2018 14:27:10

Puggina, excelente reflexão e contraponto. Postei o teu texto em meu facebook. Obrigado.

Fernando A. O. Prieto -   16/06/2018 10:26:47

E como fica a tão-falada, no mundo inteiro, e por pessoas que se dizem cultas e bem-informadas ,"preservação da natureza"? ou o feto não faz parte dela? Curiosa e incoerente a posição destes grupos... Em sua grande maioria divinizam a Natureza, como se fossem pagãos, chegando até a evitar comer carne animal, como se isso fosse crime (quando o animal for abatido de maneira indolor e tomando-se os cuidados para preservar a espécie, certamente não é --- a própria natureza, que essas pessoas tanto consideram, faz dos seres vivos alimento uns dos outros!). Mas para o feto, admitem um tratamento diferente..."A mulher é dona de seu corpo" --- certamente é, e pode muito bem recusar-se a ter relação sexual e evitar a concepção, ao invés tê-la e matar o futuro bebê ( o caso de um mulher que ficou grávida vítima de estupro é, reconheçamos, bem mais complexo...). Por que razão estes hipócritas, que se dizem ecologicamente corretos, acham que é correto matar o feto e, ao mesmo tempo, que não se deve comer carne animal? A morte de um ser vivo só é justificável em legitima defesa, ou por razões ligadas à saúde e higiene (p. e. matar uma barata, ou tomar antibiótico que matará milhões de microrganismos perigosos).

Hawk -   16/06/2018 01:34:40

Todo mundo sabe se isso for aprovado no Brasil por exemplo, nenhum jovem mais usará camisinha. Isso é um fato. Já na Argentina, dizem que é um povo mais "culto" que a gente. Vamos ver.

Menelau Santos -   15/06/2018 16:14:20

Prezado Professor, "Perversidades permitidas ao filhote do bicho homem, mas não admitidas aos seus pets" já valeu o ingresso. Texto maravilhoso!