Percival Puggina
O novo milênio recém começara, Lula fora eleito presidente e a embaixada brasileira já estava sob comando de Tilden Santiago, ex-deputado federal pelo PT. Eu retornara à Havana com o intuito de escrever um livro e, além das minhas observações sobre o ambiente social, político e econômico, pretendia conhecer e ouvir opiniões dos opositores ao regime. Para elogiá-lo havia gente demais aqui mesmo.
Graça Salgueiro, escritora e amiga, me tinha fornecido uma lista com nomes de jornalistas independentes e os telefones de dois dissidentes. Com esses dados fui a campo sem preocupação com a possibilidade de que contatá-las pudesse representar qualquer inconveniente à minha segurança.
Vinte e quatro horas depois de chegar, tive a convicção, confirmada em outras ocasiões, de que os telefones das pessoas com quem falei e me iria encontrar estavam grampeados e de que eu estava sob atenta vigilância de agentes do regime. Dias depois, enquanto almoçava com três dissidentes num restaurante já vazio, tive o privilégio de ter apontada para mim, como canhão, durante longos minutos, a lente de uma enorme filmadora operada por dois mastodontes.
Como escritor, beneficiei-me dessa imprudência. Pude haurir, no meu temor de turista num regime totalitário e policial, pequena amostra da situação em que vivem os cubanos desde quando la revolución lhes furtou os bens materiais e espirituais, instalando uma ditadura que já leva seis décadas. Experimentei a insegurança e a incerteza sobre o momento seguinte e sobre como seria meu retorno ao Brasil. Foram sentimentos decisivos para a leitura e interpretação que fiz da realidade daquela pobre gente. Milhões de pessoas que preservam os naturais anseios humanos por liberdade têm vivido daquele modo suas vidas inteiras! Para elas, passado todo esse tempo, criticar o regime e seu governo faz mal para a saúde. Sim, porque a ditadura os trata mal, ou os trata muito pior.
Ao retornar, escrevi o livro “Cuba, a Tragédia da Utopia”. Com o passar dos anos, enquanto, nosso país continuava a eleger governos de esquerda, solidários com a dinastia Castro, mas em nada solidários com o povo cubano, eu sentia crescer a necessidade de reeditar o livro. Por meios menos ostensivos renovei contatos e voltei à ilha. Com interrupções, mas com continuidade, trabalhei nele ao longo de oito anos, atualizando informações e ampliando o conteúdo da versão original.
Nessa segunda edição, publicada em 2019, mudei o título para simplesmente “A tragédia da Utopia”. Por quê? Porque a utopia é uma tragédia em qualquer país e nosso enveredara por esse pantanoso caminho. O desastre cubano adverte em alta voz o povo brasileiro e poucos se ocupam em desfazer as mistificações sobre aquela realidade que volta a forçar nossa porta.
Em meu site Puggina.org, há um setor de Livros do Puggina (1) por onde podem ser feitos contatos para aquisição da obra. O Brasil ainda precisa muito dessas informações publicadas.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Luiz Boteri de Santana - 08/07/2021 15:14:24
Caríssimo Pugina. Adquiri alguns exemplares da primeira edição da tragédia cubana e presenteei para sobrinhos universitários. Obrigado pelo seu trabalho.ALCEBIADES DA SILVA SANTOS FEITAL - 06/07/2021 20:54:43
Caro Puggina É com imensa satisfação que leio vossos artigos. A vossa observação é esclarecedora sob as condições de vida dos cidadãos cubanos. Tal logo seja possível adquirirei vossa obra e esclarecer fatos que desconheço das condições de como vivem os nossos irmãos cubanos.Luiz R. Vilela - 05/07/2021 15:58:37
VIVA LA REVOLUCION, CONSTRUIDA SOBRE EL PAREDON. Assim é fácil implantar um regime que confine toda a oposição no cemitério. Nunca ninguém ouviu falar em eleições para a implantação de um regime político administrativo, que seja baseado no comunismo. Os que apareceram foram construidos a bala e não admitem contestações. Cuba fez uma "revolução" com o propósito apenas de derrubar o "sargento" Fulgêncio Batista, que era o "gerente" do "bordel", que como tal os americanos viam a ilha. Fidel Castro tinha estudado nos EUA, nem sabia o que era comunismo, quis apenas substituir o ditador em funções, por ele próprio. Só que os americanos não gostaram da maneira como Castro tratou os "investimentos" que tinham na ilha, e cortaram as relações. Fidel Castro ficou pendurado no pincel, haviam tirado a escada, e a alternativa foi abraçar o comunismo soviético, que a maneira de algumas "moças" do passado, que tinham um senhor bondoso que as ajudava. Quando a União Soviética faliu, Cuba ficou ao desabrigo, então foi a vez passar a contar com a ajuda da "florescente" esquerda sul americana, capitaneadas por lula e Hugo Chaves. Argentina e Venezuela, estão quebradas, se barrarmos a volta do esquerdismo no Brasil, uma hora ou outra, Cuba muda ou afunda no Atlântico, porque viver de miséria, é impossível.Vanderlei Zanetti - 05/07/2021 12:48:59
Além de toda a opressão que o povo cubano vive, há mais de 50 anos, só para termos uma ideia, o Raul Castro fez concessão de quase 170000 lotes de terra para agricultores privados, mas faltam ferramentas e máquinas para trabalhar a terra, pois importação de bens de capital é restrita ao governo, faltam, inclusive, caminhões para transporte dos produtos agrícolas. Ou seja, Cuba tem tudo para ser e continuar pobre, porque o trabalho dos cubanos, mesmo com ajuda do governo, não consegue ser produtivo. E tem mais, produtividade é coisa de empresário capitalista. É o caso do avanço brasileiro no agronegócio. E é o capital que deixa o trabalho mais produtivo.José Rui Sandim Benites - 05/07/2021 08:52:37
O que querem, alguém que passou a vida litigando: empregados contra patrões, negros contra brancos, índios contra mineradores, LGBT contra contra a família tradicional, etc. Nenhum governo presta, a nao ser que sigam a cartilha. E, pregam um Estado com uma carga tributária alta, cada vez criando novo tributo para fazer frente à educação, segurança, saúde, energia, infraestrutura enfim em qualquer atividade humana. Todavia, o que se viu é um Estado com uma elite de funcionários ricos com altos salários e privilegiados. Os amigos do rei com empréstimos milionários. O endividamento da população em geral com uma cultura de fazer empréstimos, até consignados de aposentados. Ao inves de uma cultura de poupança. Os governos amigos recebendo empréstimos que ao longo do tempo não irão honrar. A educação sem mérito, sem hierarquia e disciplina não funciona, a segurança sem leis rígidas não funciona, as obras de infraestrutura sem combate à corrupção não funciona. A alta carga tributária não há como a população pagar e ocorre as falências dos empresários. Os juros exorbitantes cobrados pelos bancos. Não há como o tomador de empréstimo pagar. E querem voltar para o poder. Deixaram o orçamento com 50% para pagar juros de empréstimos. E, como um pródigo quer que o Estado não tenha um teto de gastos, para continuar individando o Estado. Com esta política irão novamente gerar inflação que é um mal maior para a população trabalhadora. E a população iludida e ignorante vai aceitar. Com o discurso que irá fazer o que a vida toda não fez que é apaziguar os ânimos. O objetivo é ter o poder a qualquer custo. Bom o tempo é o senhor da razão.Pedro Ernesto Christino - 04/07/2021 23:22:41
Obrigado por adicionar reais conhecimentos sobre esse mundo sombrio do comunismo... Ainda não li livros seus, mas admiro sua postura em relação a esse assunto tão mal divulgado, sempre com disfarces e camuflagem para dustruir vidas e muitas... Parabéns e obrigado....Raul Ferreira Gomes - 04/07/2021 21:58:15
Excelente ! Li o Seu livro e este, deveria ser lido por todos os brasileiros oara para entender como está Cuba após quase 60 anos da revolução Castrista.Elvio Rabenschlag - 04/07/2021 16:31:24
Parabéns Percival Puggina. Já comprei e li seu livro. É muito esclarecedor e eu já sabia muito sobre Cuba e o regime castrista. Mesmo assim aumentei meus conhecimentos. Eu vivi 1964 pois tinha 23 anos e, além de estudar na faculdade de engenharia, eu trabalhava numa Rádio. Conheci bem os fatos da época e sempre me posicionei a favor da nossa democracia, contra a "democracia" comunista que queriam implantar no país. O fato se repete agora por outros meios. Continuo lutando contra o sistema comunista, mesmo com os meus quase 81 anos.GABRIEL MORAES - 04/07/2021 15:50:36
Caro Puggina, ontem postei uma crítica no Facebook ao Edgar Morin, a qual reproduzo abaixo, que, a meu ver, tem tudo a ver com o que escreveste na Tragédia da Utopia. O incensado Edgar Morin completa cem anos e seus adoradores lhe rendem homenagens. Abaixo leiam o que ele escreveu em seu último livro: "Leçons de un siècle de vie". “O relatório de Krustchev denunciando o poder de Stálin me deu alguma esperança para o comunismo liberal (???)por algum tempo, mas a supressão da revolução húngara de 1956 me trouxe o rompimento final. Ela foi total e me ensinou duas das minhas verdades. A primeira: a experiência de minha temporada em Stalínia foi decisiva para entender como funcionam as mentes fanáticas e para me tornar alérgico a elas. A segunda: me fez perceber que eu era fundamentalmente direitista e esquerdista. Direitista, isto é, decidido a nunca mais sacrificar a ideia de liberdade. Esquerdista, isto é, convencido desde então não mais da necessidade de uma revolução, mas da possibilidade de uma metamorfose. Finalmente, minha desmistificação me permitiu regenerar minha concepção de esquerda, que deve em minha opinião sempre beber simultaneamente em quatro fontes: a fonte libertária para o desenvolvimento dos indivíduos, a fonte socialista para uma sociedade melhor (?????), a fonte comunista para uma sociedade fraterna (??????), a fonte ecológica para uma melhor integração dos humanos na natureza e dos humanos na natureza.” Em grego isto se chamaria sofisma tautólogico, isto é, escrever bastante para não dizer nada. Em tempos medievais este cara seria internado como louco. E tem gente que acredita nestas besteiras. A humanidade está em constante evolução e ele propala que ela precisa de uma metamorfose. Que metamorfose? A volta de um Stálin? Este tipo de razão é a que prolifera nas universidades do mundo, em estreita obediência ao decálogo de Gramsci. Julguem por suas próprias razões.