• Percival Puggina
  • 02/10/2019
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A TRAGÉDIA DA EDUCAÇÃO E O CUSTO PAULO FREIRE

 

 Se tomarmos como ponto de partida a demolição da cultura do Ocidente iniciada em Nanterre no ano de 1968 – não por acaso o mesmo da 1ª edição do livro Pedagogia do Oprimido –, já estamos a caminho da terceira geração sob tal repertório ideológico.

Há os ativistas nos vários instrumentos da desafinada orquestra da revolução e há muitos que vão com os outros, quais “marias”. Em número bem maior, infelizmente, contam-se as vítimas ou os sequelados do relativismo moral, da ruptura entre responsabilidade e liberdade, da dissociação entre direitos e deveres, da intolerância a toda refutação, e da visão apocalíptica de um mundo que não os obedeça.

Tenho muita pena de todos, mas lamento especialmente pelas crianças cuja infância se perdeu. Lamento por todos cujo tempo de juventude e de desenvolvimento de potencialidades individuais foi gasto em pouca dedicação à leitura e ao estudo. Lamento pelos que se afundaram nas drogas. Mais modernamente, lamento pelos que foram induzidos a supervalorizar ou a subestimar seu papel no mundo. O menos maléfico dos produtos destas duas últimas atitudes se chama frustração e o pior é o suicídio. A militância adolescente que segue, por exemplo, a jovem Greta (How dare you!), desenvolve um ódio ao progresso, ao desenvolvimento e à geração de riqueza que limitará em muito sua posterior inserção na vida produtiva. Essa militância vive a expectativa de um apocalipse semelhante ao que acompanhou a Guerra Fria, os arsenais nucleares, e fez nascer o hippie movement.

Estou falando do passado mais recente, do presente, e do mais provável futuro.

Observe que, sem exceção alguma, os guias de todas essas tribos e trilhas são esquerdistas. Seu principal posto de trabalho é a sala de aula, seja no comando do toco de giz, seja no meio das turmas. Seu efeito, aí, foi desastroso. Enquanto o mundo avança onde há sensatez, a Educação brasileira afunda nos comparativos com outros 70 países avaliados pelo PISA (59º lugar em leitura, 63º em ciências e 65º em matemática). Esses dados são acompanhados por um corolário de repetência, analfabetismo funcional, absenteísmo e abandono dos cursos. Onde estamos mais bem posicionados – a habilidade rudimentar de leitura – nossa classificação, se a base fosse 100, corresponderia à posição número 83! No pequeno Grupo Escolar Professor Chaves, na minha Santana do Livramento, na metade do ano letivo de 1951, toda a turma do 1º ano estava alfabetizada. Esperar o quê, hoje, de uma Educação cujo patrono é Paulo Freire, deificado no Olimpo dos pedagogos? São seus discípulos temporãos que orientam a Educação brasileira há décadas.

Em nossas escolas, alunos votam para diretor (e não o respeitam, do mesmo modo que não respeitam os professores). Em nossas universidades, estudantes votam para reitor, um fascista em potencial se pretender exercer sua autoridade (coisa que nenhum tenta).

De minha parte, sempre vi a realização pessoal muito mais acessível aos que queimaram pestana em vez de baseado, levaram a sério seus estudos e batalharam com responsabilidade seus espaços na dinâmica da vida. Todos desenvolveram a capacidade de renunciar a um bem atual com vistas um bem futuro maior. Creia ou não, leitor, são esses tipos “exóticos” que respondem pelo PIB nacional, geram empregos e ajudam a pagar as contas do país. Ocupam a coluna da receita na mesma contabilidade onde os filhos de Paulo Freire ocupam a coluna da despesa.

 

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* Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.


 


José Nei de Lima -   07/10/2019 00:29:28

Verdade meu amigo quanto tempo o Brasil parou em todos sentidos, tudo isto para uma ideologia atrasada, neste momento o povo brasileiro não adquiriu nenhum conhecimento e a Nação totalmente alienada. Pergunta que não quer falar, sem saber entender seus Direitos Fundamentais, à base de uma grande Nação, parabéns ótimo texto meu amigo que Deus vos abençoe e ilumine e um grande abraço.

Antonio Fallavena -   06/10/2019 16:24:50

As crianças e adolescentes das últimas três gerações”, são resultado daqueles que as fizeram e delegaram responsabilidades a terceiros! Esquecer isto é um gravíssimo erro! Culpá-los por assim serem ou aos seus “professores = trabalhadores em educação”, é não querer enxergar a verdade. Pergunto: por onde andarão seus pais/mães/famílias? Tenho insistido nisso, muitas vezes sem quaisquer ecos. São gerações que foram abandonadas a própria sorte. Quanto a Paulo Freire, será interessante relê-lo. Certamente, por incapacidade ou pura manipulação, muitos professores leram-no e não o entenderam. A escola faliu, faz tempo! Quase ninguém se deu conta e fez algo para protegê-la. O resultado ai está. Leite derramado não pode ser recolhido, mas apenas limpo. Fallavena

Décio Antônio Damin -   06/10/2019 15:02:42

O ensino básico é, como o próprio nome indica condição indispensável para qualquer rumo que o indivíduo pretenda tomar! Ler, escrever, fazer cálculos simples (as quatro operações, a regra de três...) é o mínimo para iniciar o caminho! Professores vocacionados, bem remunerados (para atrair os melhores, e não o resto...), é fundamental. Acho que perder tempo em analisar essas teorias é o que nos tem conduzido ao caos em que nos encontramos. Pais e alunos com mais de dez anos escolherem o Diretor, para mim, é inapropriado e lhes dá o poder de contestar o escolhido. Não são só os alunos que são despreparados! Os pais também são hoje o fruto deste mesmo (e problemático) sistema politizado de ensino. Respeito à hierarquia, aos mais velho, à pátria, aos professores e ao próximo são importantíssimos! Perde-se na escola tempo irrecuperável discutindo os assuntos "da hora" postos por quem não sabe discernir o que realmente importa.

Aécio -   06/10/2019 10:28:38

Impressionante como a direita continua incompetente em apontar caminhos e continua a criticar o passado por absoluta falta de propostas.

FERNANDO A O PRIETO -   03/10/2019 08:08:28

Que tristeza contemplar esta geração de "cabeça oca"! Talvez a ausência mais grave seja a falta de respeito para com os superiores e com as instituições (o que NÃO implica, automaticamente, na admiração das pessoas que ocupam essas posições!). Hoje, nem mesmo em escritórios, fábricas, laboratórios e lugares semelhantes existe respeito; se nesses lugares não ocorrem barbaridades como agressões e brigas (tão comuns, infelizmente, em escolas) é muito mais por MEDO de demissão (que não é a mesma coisa que respeito...). Esperemos que um dia o RESPEITO mútuo e o RECONHECIMENTO pelo tesouro cultural que nos foi legado voltem, mas certamente não veremos isso... Deus nos ajude e conforte!

Ângelo Pitanga -   03/10/2019 01:33:20

Parabenizo o rexto na dimensão gramatical é inegável seu conhecimento e engenharia com as letras. Contudo mesmo tendo escrito um livro sobre Freire, ve-se elementos significativos que acabam por extrapolar a perspetiva epistemológica das obras de Freire. Antes que os comentários raivosos queiram comer minha carne ainda viva, não sou freiriano e nunca houve quaisquer imposições pela adoção do método freiriano. Em uma lição bem simples Freire combateu aquilo que chamou de educação bancária, contudo essa é ainda a forma predominante no sistema de ensino, não só brasileiro, e essa é uma das questões centrais nas discussões sobre a qualidade da educação. Existem problemas estruturantes e estruturais que são gritantes e se arrastam ano após ano e não são as questões ideológicas o cerne da má qualidade da educação brasileira. Abs fraterno. Educação é antídoto da ignorância.

Dalton Catunda Rocha -   02/10/2019 17:33:36

Em 1964, menos de 20% dos brasileiros de 7 a 14 anos estudavam em escolas. A educação, mesmo básica, só existia para uma minoria de brasileiros. As ideias de Paulo Freire sempre foram largamente adotadas no Brasil; mesmo no Regime Militar. As ideias de Paulo Freire foram obrigatórias por lei, em todas as escolas de países "ALTAMENTE DESENVOLVIDOS" em educação, como por exemplo: Angola, Moçambique, Tanzânia, Burkina Fasso, etc. Como você acha que Paulo Freire viveu muitíssimo bem, na Europa e Chile de 1964 a 1979? Com o soprar do vento? Não. Os governos de Angola, Moçambique, Tanzânia, Somália, Burkina Fasso, Guiné, etc. o pagavam muito bem, pela assessoria de Paulo Freire, em assuntos educacionais. No Brasil de Sarney em diante, se tornou obrigatória para todas as escolas públicas, a imposição dos métodos de Paulo Freire para doutrinar os estudantes. Alguns resultados: 1- O Brasil é o país com maior número de crimes no mundo. 2- A taxa de crescimento do PIB brasileiro, que esteve em quase 7% ao ano de 1964 a 1985, declinou para menos de 2% ao ano de 1985 até 2018. 3- O PT foi eleito quatro vezes seguidas, para a presidência do Brasil. 4- Viva Paulo Freire! Assim sendo, também digamos: Viva a corrupção,a criminalidade, a incompetência, o esquerdismo, a patifaria, a falsidade, a esquerda, a imbecilidade e a ignorância ! Para quem quiser ler de graça, um livro criticando Paulo Freire, que veja este site: ( http://lelivros.love/book/baixar-livro-desconstruindo-paulo-freire-thomas-giulliano-em-pdf-mobi-ou-ler-online/

Nivaldo Presalino -   02/10/2019 17:07:18

Como sempre, excelente texto! O Brasil precisa se inspirar em nações que fizeram o seu dever de casa na educação e hoje colhem os frutos. Exemplos temos aos montes e a Coréia do Sul é só uma delas. Não adianta ficar falando que o Brasil é o país do futuro, quando esse futuro nunca chega, ao menos para a grande maioria da população. O Brasil é um dos pouco países no mundo que ainda tem quase tudo por fazer... a começar pela educação.

Luiz R. Vilela -   02/10/2019 15:30:47

Certa feita, estava em uma reunião festiva, onde alguns amigos vieram e trouxeram os filhos jovens. A gurizada já a princípio, não gostou muito do convívio com "os coroas", mas após ingerirem algumas, se soltaram. O bate papo estava até animado, quando um deles disse que sua geração, os jovens atuais, eram revoltados. Não entendi bem a colocação e pedi que trocasse em miúdos, para ver se percebia alguma verdade na colocação. Foi ai que veio o espanto. Disse-me ele, que a revolta era contra o sistema, a desigualdade social, o preconceito contra as minorias, a falta de oportunidades aos jovens, e uma série de sandices, postas nas cabecinhas deles, através de uma lavagem cerebral bem feita.Perguntei onde tinha recebido estes conhecimentos que agora exortava. Não se fez de rogado e disse que tudo isso faz parte do pensamento hegemônico existente no ensino superior público brasileiro. Tentei argumentar que o mundo nem sempre foi como é agora. Gerações passadas trabalharam e muito, para entregar a eles o que existe hoje e que devem tratar de aprimorar o que há, e quanto a inclusão de todos nos sistemas, só dependem deles, afinal logo herdarão o mundo. Eu, que só conheço uma faculdade, apenas por ter passado pela frente delas, não consigo entender um pais como o Brasil, tem um grande desleixo como ensino fundamental e ensino técnico, aposte apenas no ensino superior, onde a maioria das faculdades, são meras fábricas de diplomas, onde 80% não exerce a profissão pelas quais foram formados. Diploma tem se tornado apenas ornamento de paredes das casas dos formados. O lula que mais se vangloriou de ter feito os filhos dos pobres frequentar as universidades, nunca disse nada sobre o emprego destes estudantes após formados. A verdade é que o mercado de trabalho, não consegue absorver nem 10% de tudo que as universidades lançam todo ano nas ruas, portanto é um gasto desnecessário e sem retorno este com o ensino superior, sem qualquer benefício para o contribuinte. A educação é que desenvolve os povos, mas sem pensamento único, lavagem cerebral e principalmente não gastar os recursos escassos com supérfluos, apenas para dar status a uma gama de descontentes, que hoje não respeitam os brasileiros que pagam os seus estudos e respaldaram a eleição do Bolsonaro. Cursos superior, deveriam ser todos privados. O estado apenas deve fornecer o ensino básico.

Menelau Santos -   02/10/2019 14:38:33

Exato Professor Puggina, o grande atraso a ser lamentado não é só quantificável pelo dinheiro da corrupção, mas nas décadas perdidas de nossos jovens. Paulo Freire, o nosso "Patrono da Educação", é o retrato da famosa frase "a comida não é boa, mas o cozinheiro é ótimo!".

Irineu Berestinas -   02/10/2019 14:11:06

Diagnóstico de mestre. Sem sombra de dúvidas, Percival Puggina é o maior jornalista político do País. Associa talento, cultura, profundidade e clarividência em seus textos. Quisera que o Brasil tivesse mais meia dúzia de jornalistas desse porte!