• Percival Puggina
  • 02/01/2017
  • Compartilhe:

A SUPREMA INTOLERÂNCIA DO MULTICULTURALISMO

No início de novembro, o Conselho de Estado francês (o STF deles) decidiu que instalar presépios em locais públicos não contraria, a priori, a lei de separação entre Igreja e Estado (matéria do Le Monde pode ser lida aqui). A Corte entendeu que presépio é uma representação susceptível a diferentes significados: tem certo "caráter religioso", porque ilustra "uma cena que faz parte da iconografia cristã", mas é também, um elemento que integra a "decoração e ilustração que acompanha tradicionalmente, sem significação religiosa particular, as festas de fim de ano". O Conselho, então, esclareceu que cabe discernir, caso a caso, qual o caráter determinante da exposição do presépio. Se for de natureza ou conotação religiosa, não deve ser permitida.

A questão que assim foi "resolvida" no caso particular de locais públicos franceses ilustra algo que ocorre mundo afora. Em nome do multiculturalismo e sob as vestes da mais prestimosa tolerância, reproduzem-se, em todo o Ocidente, episódios nos quais representações e símbolos cristãos são banidos dos espaços e agendas públicas.

Seria hipocrisia negar que esse assédio tem o cristianismo como alvo certo e único. A militância de associações civis, os atos legislativos já produzidos e tantas decisões judiciais lavradas com esse intuito, ainda que valendo para todos os credos, alinham dois argumentos: 1º) em locais públicos, os símbolos religiosos desrespeitariam a separação entre Igreja e Estado e 2º) seriam constrangedores ou ofensivos à sensibilidade de outros crentes e descrentes em geral. Então, vejamos:

  • símbolos religiosos em locais públicos desrespeitam a separação entre Igreja e Estado?

É o sonho dourado do multiculturalismo anticristão. Promover, gradualmente, uma revolução cultural que varra para baixo do tapete da memória o cristianismo presente em dois milênios de história. E covardia para aceitá-lo não falta. Pergunto: a retirada da cruz que encima a coroa espanhola no símbolo do Real Madrid não foi exigida ao clube pela parceria com o Banco Nacional de Abu Dahbi? Quem garante que, em breve, a cruz presente nas bandeiras de uma dúzia de países europeus não sejam, em respeito ao multiculturalismo, substituídos por símbolos niilistas ou new age? Andamos em marcha batida, nessa direção.

  • os símbolos religiosos ofendem crentes e descrentes de outros credos?

Tal pergunta me leva a esta outra: até onde se deve fazer concessões aos intolerantes, em nome da tolerância? Porque é disso que hoje se trata no Ocidente, de modo constante, diariamente, nos mais diferentes países, sempre que algum ato, ou fato, suscita a obstinada questão. Não consigo imaginar como se avançaria para uma vida social mais harmônica com tolerância ilimitada de todos à ilimitada intolerância de alguns. Porque convenhamos, indivíduos que diante de símbolos religiosos expressem constrangimento ou indignação revelam problemas psicológicos e atitude antissocial. Qualquer outro modo de se ver a mesma questão importa um olhar bizarro sobre o fenômeno religioso e sua participação na cultura.

Anualmente, milhões de católicos que visitam países islâmicos talvez se surpreendam (e até mesmo se estarreçam) perante certas práticas culturais, mas ninguém se dirá ofendido ou constrangido por qualquer manifestação ou símbolo religioso muçulmano em espaços públicos. E ninguém se nega a atender preceitos a que não está habituado. O sujeito tem que sofrer de alguma disfunção para manifestar animosidades diante de um crucifixo, uma estrela de Davi, um Om e uma roda de Dharma, quer estejam no alto de uma coluna, no centro de uma praça, quer ao rés do chão, como singelo presépio em espaço público. E mais paradoxal ainda: como conciliar com multiculturalismo (!) a patológica intolerância ?


________________________________
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+. 


Joma Bastos -   07/01/2017 23:10:16

Caro professor Percival Puggina, Concordo que a questão foi erradamente "resolvida", pelo Conselho de Estado Francês, tendo em conta o contexto de instalação dos presépios em locais públicos, a definir pelas prefeituras francesas, aquando das festas natalícias. O Conselho de Estado francês é muito diferente do nosso STF. O "Conseil d'État" é um tribunal administrativo, com 300 membros apoiados por 390 agentes, que tem uma função administrativa consultiva, a qual emite um parecer sobre a legalidade dos textos legais, em sua forma e em sua conveniência administrativa,e , tem outra função jurisdicional, que é o nível de superior do tribunal administrativo, pois julga as ações dirigidas contra as autoridades públicas ou entre autoridades públicas (http://www.conseil-etat.fr/Conseil-d-Etat/Organisation). O STF, com 11 membros, tem uma função judiciária de um tribunal supremo judiciário de conflitos comuns,e , uma função administrativa e jurisdicional, relativamente às leis aprovadas pelo legislativo e executivo e às divergências administrativas e judiciais adentro do setor político. Qual será a capacidade do STF para julgar os mais de cem usufruidores de foro privilegiado, que possivelmente serão acusados pelo ministério público na "operação lava-jato"? Fica a interrogação! Respeitosamente, Joma Bastos

JC Abreu dos Santos -   05/01/2017 16:00:03

... multi = zero diversidade; zero respeito pelos outros. Na sua discursata iniciática havida no areópago envidraçado de Manhattan, TonyG indicou inequivocamente qual o objecto do seu mandato: o Multilateralismo! Say no more!!!

Paulo Onofre -   04/01/2017 13:53:01

Prezado Sr. Puggina. Acerca de fé e de símbolos religiosos, seria interessante pesquisarmos se os comerciantes e os administradores de "shopping centers", ao enfeitarem seus estabelecimentos com motivos natalinos e presépios, estariam tentando impor a fé cristão a todos os clientes e visitantes que não comungam da mesma fé. Só espero que os fanáticos multiculturalistas não queiram proibir esse tipo de manifestação. Um dos meus programas favoritos de fim de ano é levar os netos a visitar shopping centers, só para apreciar essas decorações.

Agnaldo Rodrigues -   04/01/2017 13:39:14

O bom de tudo isso é que DEUS não vai ter o trabalho de escolher os seus, pois muitos já escolheram o lado que quer ficar, escolha feita não tem volta, o inferno os esperam.

Leonardo Melanino -   03/01/2017 23:20:34

Discriminações, intolerâncias ou preconceitos religiosos e ultrajes a cultos religiosos são crimes previstos no CPB de 1940 e na Lei Caó de Mil Novecentos e Oitenta e Nove.

sanseverina -   03/01/2017 20:44:51

Tenho uma visão ainda mais pessimista desse movimento de intolerância religiosa travestido de abertura multiculturalista (ver artigo de Giulio Meotti/ 27/12/16, em gatestoneinstitute.org). Acho que, usado o islamismo para desbaratar o cristianismo, chegarão a vez do islã e a vez de qualquer outra manifestação religiosa, do candomblé ao zen budismo, que agregue pessoas, sentimentos e rituais voltados à Espiritualidade. A força que impulsiona esse projeto de dominação é destruidora de qualquer tipo de coesão social, a começar da célula familiar: as cordinhas ficam mais fáceis de manipular em cada indivíduo isolado, desamparado da fé e da solidariedade e, portanto, enfraquecido. Fiquemos todos muito alertas!

Flavia -   03/01/2017 18:38:47

OM Islâmico? O OM, é um símbolo da fé Hindu, e um dos símbolos mais sagrados em Hinduísmo. Estudos mostram que este som tem cura e efeitos relaxantes. O símbolo vem do Devanagiri, um manuscrito baseado em sânscrito, de onde outras linguagens emergiram.

VALTER DE OLIVEIRA -   03/01/2017 18:36:19

Caro Puggina Seu excelente artigo mostra claramente a questão da ditadura do relativismo e do pseudo multiculturalismo. Fatos como o da França são cada vez mais frequentes em todo o Ocidente. Um dos comentários acima defende a posição dos juizes franceses e defende que presépios e outros símbolos cristãos só deviam ser aceitos em recintos católicos fechados. Acontece que não é só na sociedade civil que isso acontece: é nas instituições do Estado, nas privadas e nas escolas católicas. Em meu ultimo emprego expliquei em aula a relação entre nominalismo e a ideologia de gênero. Não é o momento de entrar em detalhes. A questão é que só a discussão de certos temas em uma sala de aula universitária já é questão de cercearem sua liberdade. E lá se foi meu emprego. Afinal, tem-se a obrigação de seguir a cartilha do MEC. Nas escolas católicas - para evitar constrangimento de pessoas de outras culturas ou para evitar certos constrangimentos - decidiu-se não se comemorar o dias dos pais. Há mães solteiras... Pior foi ver no boletim de transferência de meu filho caçula: nome do pai:... (em branco). Nome da mãe... (em branco). Razão? Lei do PSDB em São Paulo. Objetivo da lei? Não constranger crianças sem pais! Frutos da Nova Ordem Mundial Multiculturalista...

Luís Alberto -   03/01/2017 04:52:38

Religião não é o problema do homem, seu egocentrismo impede aceitar todas fés. ......

Genaro Faria -   03/01/2017 02:21:13

Assim como satanás é conhecido por vários nomes, o comunismo adota várias denominações. Globalismo e multiculturalismo são duas das mais recentes. E tão enganosas quanto esta outra - progressistas. Como a serpente que representa satanás, os comunistas também têm duas línguas. Uma para esconder a verdade e outra para enganar com mentiras. A verdade que eles escondem é a sua intolerância a tudo e a todos que não são comunistas. Porque são totalitários. E a mentira que divulgam é que eles são hipersensíveis e incondicionalmente solidários ao padecimento alheio. É por isso que sempre, sempre, sempre exploram nas pessoas o que é absolutamente ausente neles: os sentimentos da compaixão e da culpa. Assim também fazem os piores vigaristas e os psicopatas.

Paulo Roberto Lima Dias -   03/01/2017 01:22:30

Acho que a questão é delicada. Acho normal que em centros multiculturais certas concepções e práticas devam mudar. Enfeitar uma rua com motivos religiosos e querer abarcar toda a comunidade em uma tradição e em uma manifestação de fé. Se fosse uma festa localizada em determinado espaço público, mas a festa toma todos os espaços, durante dias. Seria um sinal de sabedoria multicultural armar os presépios em instituições católicas em espaço fechado, contudo amplo para receber os visitantes. Os legisladores franceses estão certos.

Julio Rosais -   02/01/2017 18:18:43

É interessante destacar que fazem isso em nome da DEMOCRACIA! Pela definição, Democracia é o governo que acata a vontade da maioria da população, embora respeitando os direitos e a livre expressão das minorias. O que estamos presenciando agora, como foi bem dito no texto, é que estão invertendo as posições: as minorias é que estão impondo suas vontades sobre uma maioria. E uma maioria que está silente perante a tudo isso. O que estamos vendo é a cruel ditadura do "Politicamente Correto". Mas isso é uma inversão de valores fenomenal.

Luiz Iran Meira -   02/01/2017 18:05:19

Bravo, professor! Está mesmo na hora de colocar os pingos nos ii. Daqui a pouco vão querer tirar a cruz de St James da bandeira britânica...

Sérgio Contaifer -   02/01/2017 15:52:03

Concordo com todas as letras do que foi dito. Pensamento muito bem desenvolvido. Parabéns.

Israel -   02/01/2017 15:40:44

É , logo acabarão com o carnaval , com a alegria, com a liberdade e com a vontade de ser humano. Que mundo triste e ainda mais perverso nos aguarda. Até quando sentirão vontade de jogar o resta um.....

Odilon Rocha -   02/01/2017 14:35:34

Caro Professor Não me lembro se já havia me reportado ao senhor a respeito do "esquerdismo" como doença grave, incurável. As aspas são por conta de um misto de doença, em uns, e esperteza deliberada, em outros. Afinal, colaborar com o Projeto Mundial rende polpudas gorjetas. Um capítulo à parte, o anticristianismo só tem um mote: livrar as consciências do mal que perpetram. Só pode ser isto, porque que faniquito e esquizofrenia é que não são. A figura do Cristo e da cruz intimidam.

Dalton Catunda Rocha -   02/01/2017 13:46:01

Se queres ajudar os cristãos perseguidos por islâmicos, então faça estas coisas: 1- Nunca vote em ninguém do PT, PC do B, etc. Todos são picaretagens que colaboram totalmente, com perseguidores de cristãos. 2- Abasteça seu carro só com álcool. Afinal, o petróleo é dos árabes e a Petrobrás é da CUT. 3- Apoie totalmente Israel e os judeus. Afinal de contas, Israel é o único lugar do Oriente Médio, onde os cristãos não são perseguidos. 4- Nunca ponha seus pés ou menos ainda, seu dinheiro, em países que persigam cristãos( Cuba, Irã, etc.) pois, a primeira coisa que os bons devem fazer é, manterem distância dos maus. Em resumo: 1- Se Alá existe, tudo é permitido. 2- A esquerda trocou Marx por Maomé. 3- Todo povo que deixou de crer em Deus, passou a adorar a Alá. Exemplos: Iraque, Síria, Egito, Argélia, Marrocos, etc. 4- Como já dizia Fyodor Dostoyevsky ( 1821 - 1881): “O homem é tão vazio, que tal vazio só pode ser preenchido por Deus.” Sobre este assunto, veja estes videos: https://www.youtube.com/watch?v=0K3n7cJvv7Y , https://www.youtube.com/watch?v=xnYvmYCqw_I&t=862s e https://www.youtube.com/watch?v=IHu-o5pAnNo&t=4s