Não passa um dia sem que editoriais, artigos e comentários em rádio e TV, se disponham a lecionar o público sobre o caráter negocial da democracia e sobre a impropriedade das mobilizações populares. Neste domingo (16/06), o Estadão volta ao assunto: “O alarido não é bom conselheiro. Decisões de Estado tomadas ao sabor da gritaria das redes sociais, como se tem tornado perigosamente comum, carecem dos elementos básicos de uma política madura”. E por aí vai o texto lastimando a circulação de informações por esses canais, o passeio das versões e das versões de versões, tudo em tempo real, impossibilitando a necessária reflexão.
Se o leitor destas linhas é, também, leitor de alguns dos mais destacados meios de comunicação do país, deve ter visto muito disso por aí. São afirmações que refletem saudosismo dos velhos tempos em que uns poucos iluminados opinavam e influenciavam a opinião pública. Esse tempo, felizmente, passou.
O ganho proporcionado pelo surgimento das redes sociais é imenso! A hegemonia esquerdista fora, até então, produto acabado, finalizado e desastrado desse monopólio. As redes sociais, apesar de sua natureza babélica e caótica, mudaram o país, desfizeram mitos, denunciaram mentiras e seus autores, protegeram a Lava Jato, impulsionaram o impeachment e trouxeram ao debate ideias relegadas às catacumbas. Libertaram os ideários conservador e liberal das desqualificações que os mantinham no anonimato das prateleiras inacessíveis.
Numa sociedade conduzida durante décadas, como manada, por políticos, economistas, professores, sindicalistas, autores, artistas e atores, de esquerda, descolados, moderninhos e revolucionários, de onde vinha “a voz do povo”? Vinha das massas de manobra. Portava bandeiras vermelhas e era mobilizada a favores de Estado, ônibus de sindicato e sanduíches de mortadela. Durante esses longos anos, dezenas de milhões de brasileiros viveram uma cidadania aleijada, hipossuficiente, sem direito a vaga no parking das opiniões, apartados que eram pela pretensa “superioridade moral” da esquerda. Deu no que se viu e nunca foi diferente.
Seria essa a “política madura”? Se o alarido não é bom conselheiro, presume-se que quem pensa diferente deva se sujeitar a um silêncio obsequioso. Espera-se que a nação creia que tudo andará bem se todos fecharem os olhos, deixarem as instituições “cumprirem seu papel” e a formação das opiniões retornar às antigas vozes?
Não! Impressiona que tantos profissionais da comunicação não percebam o imenso desalento dos brasileiros em relação às instituições do país! É por causa delas que tantos vão às ruas. Cobrar dos cidadãos que entrem em recesso para que a paz volte a reinar é propor um contrato entre ovelhas e lobos. É voltar à cidadania quadrienal, exercida apenas no dia da eleição. E é restaurar o ancien régime da corrupção. Foram as redes sociais e as mobilizações pacíficas dos cidadãos que influenciaram de modo decisivo todas as transformações positivas pelas quais o país passou desde 2014.
Querem ajudar realmente o Brasil? Querem tornar desnecessárias as mobilizações sociais? Ótimo! Ajudem a mudar as instituições. Exerçam nesse sentido o poder que ainda têm. As instituições que temos estimulam condutas irresponsáveis, exigem sociedade em estado de alerta porque fabricam crises com assiduidade e desenvoltura que, mesmo aos 74 anos, não cessam de me estarrecer.
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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Vanderlino Horizonte Ramage - 24/06/2019 14:57:46
Como militar da Aeronáutica, tive oportunidade de residir em todo o país, e conhecer a nossa gente. O movimento 1964, me surpreendeu no Nordeste. Guardo daqueles tumultuados dias, uma pérola da sensibilidade popular. Dizia-se que um anticomunista ferrenho, tentava alertar um morador da periferia do Recife , para o perigo do comunismo. Enfatizando, " no comunismo, você não tem direito a nada, trabalha de sol a sol, sua filhas são obrigadas a se prostituirem, você não tem onde morar, seu salário não dá nem para a comida etc, etc. Ao que o morador respondeu: "uai, então já estou no comunismo há muito tempo"! Essa digressão me leva aos midiáticos, temerosos das redes sociais, e outras manifestações da população. A minha perplexidade fica por conta de que os 14 milhões de desempregados, os 60 mil assassinatos por ano e os 60 mil mortos no trânsito, perfazendo um total 120 mil mortes violentas por ano, não os amedronte?!Isac - 17/06/2019 16:38:29
AS ESQUERDAS COMPRAVAM AS REDES MIDIATICAS PARA SUBVERTEREM! ASSIM, O POVO AO OS ASCENDEREM PARA O PODER, DAÍ, PRESENTEAVAM A TODOS COM O ESTÁBULO, RETIDOS, TRANSFORMANDO-OS EM ESCRAVOS! Na vida de qualquer cidadão não se pode negar o poder da mídia, de como ela manipula a emoção do público, os mecanismos postos para operarem em funcionamento para seguir determinados pontos de vista e tornarem-se verdadeiras bandeiras, embora perversas e fraudulentas para a sociedade. Existem os 'esquemas' dos PCs que jornais, revistas, TVs, rádios e sites usam para obter e manter laços cativantes, mas ocultamente visando o dominio com os futuros eleitores, telespectadores, ouvintes e internautas de forma recorrente de um partido comunista! Assim, para que todos se vinculassem a algum PC e os que neles votassem, para os livrarem dos exploradores do povo, como os banqueiros, milionarios, imperialistas etc. , embora esses fossem esses os piores etc. Apliquemo-lhes: "Seus pés correm para o mal, ágeis em derramar sangue inocente. Seus pensamentos são maus; ruína e destruição marcam os seus caminhos". Is 59,7.Odilon Rocha - 17/06/2019 16:00:38
Caro Professor A imprensa impressiona pela insistência em se utilizar da retórica gramsciana. Não cola mais! A liturgia do ' eu entro com a faca - literalmente e devagarinho - e você com a barriga'. "Estranho" não apoiarem o lado certo. O quanto fariam pelo país! Sim, nunca estivemos tão alertas.