• Percival Puggina
  • 24/03/2017
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A REVOLTA E A VOLTA DOS BANDOLEIROS

 


 A um ano e meio das eleições nacionais de 2018, o cenário é desalentador. Está em curso a rebelião dos escroques da República. Em fileira cerrada, ombro a ombro, bandoleiros da oposição e do governo avançam contra as leis penais e eleitorais, qual gatos a livrar e lamber o próprio pelo. As listas de Janot estão recheadas de nomes fortes para disputar vagas no entrevero político do ano que vem. E só um intenso trabalho de resistência às mudanças legislativas, de conscientização e informação poderá prevenir os grandes riscos de que, por escabrosos meios, se reproduzam os mandatos da Orcrim. Ao mesmo tempo, é paradoxal: se entrevistado, o mesmo eleitorado que tenderá a reeleger os quadrilheiros manifestará seu descontentamento com a representação política do país.

 A cada pleito, parecem brotar do ventre da terra, para se emaranharem nos altares do poder, personagens cada vez mais interesseiros, mais medíocres, menos honestos, menos comprometidos com o bem comum. Há quem conclua, dessa observação, que a política seja exatamente a lavoura onde se cultivam tais produtos e da qual nada melhor se haverá de colher.

  Convido o leitor para uma sincera análise dessa realidade. Quantos eleitores trocam seus votos por dinheiro, rancho, jogos de camiseta, brindes, favores concedidos, ou promessas feitas às respectivas instituições e associações? Quantos votam por preferências clubísticas e esportivas? Quantos se deixam sensibilizar por atitudes assistenciais como distribuição de cadeiras de rodas, óculos, remédios e caixões de defunto? Quantos são conduzidos pela publicidade ou pela presença na “telinha” e nos microfones? Quantos votam contra algo ou alguém, transformando a eleição num ato de ódio ou protesto? Quantos votam catando do chão um “santinho” qualquer ou em alguém que lhe seja indicado na boca da urna? Quantos votam porque o candidato é defensor vigoroso de sua corporação? Quantos votam porque o candidato é vizinho, amigo da família, manda cartões de Natal, conseguiu ou diz que vai conseguir emprego ou bolsa qualquer? Ora, eleitores displicentes, interesseiros e venais elegem, simetricamente, políticos omissos, mercenários e corruptos.

 Pelo viés oposto, pondere comigo: quantos eleitores têm como exigências a serem simultaneamente cobradas a formação moral e intelectual do candidato, a imagem que construiu com sua história pessoal, seus valores, sua dedicação ao bem comum, sua capacidade de influenciar e liderar outros, suas idéias e propostas para o município, o estado e o país?

Pois é, pois é. Faltam-nos estadistas porque nos sobram votantes com péssimos critérios. No produto dos escrutínios eleitorais, a quantidade de bons políticos eleitos será, sempre e sempre, diretamente proporcional ao número de bons eleitores.


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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Gil -   06/04/2017 11:15:12

Como a boiada é facilmente tocada por uns míseros boiadeiros somos nós, pobres brasileiros.

Antonio Augusto d Avila -   03/04/2017 15:00:41

Que decepção, meu caro escritor, sempre tão lúcido. Me desculpe, mas é um moralismo barato esse de acusar os eleitores. Seriam eles os grandes culpados. O nosso sistema de eleições proporcionais, uma absoluta excrescência, não teria nenhuma responsabilidade na produção desse terrível quadro e não pode ser mudado. Se mudar vai ficar muito pior. Esse é o conservadorismo doentio ou conservadorismo de pobre: a situação é muito ruim, mas com as mudanças vai ficar muito pior.

Roberto viana -   27/03/2017 10:52:38

a base de uma grande nação é um povo instruído pois assim o sendo coloca como gestores pessoas também instruídas e compromissadas com o bem comum. Com o fim do governo militar elaboraram uma constituição em benefício próprio e não visando o bem estar comum. Não investem em educação pois não querem criar a cobra para depois serem picados. a partir do movimento pelo reajuste de passagens criou-se um despertar cívico em um povo antes alienado com o qual está corja não contava e que os forçaram a tomar atitudes visando impunidade e permanência no poder. Talvez por esta conscientização é que a manifestação promovida pelos grupos bancados pelos políticos fracassou no último fim de semana.Temos hoje três poderes constitucionais trabalhando contra o povo e em benefício da orcrim. Eis a essência do nós contra eles . Por isto acho que a única solução para o país hoje, é uma intervenção militar nos três poderes

Rossini -   27/03/2017 03:30:10

Este teu texto vou imprimir colorido, plastificar, pendurar na parede da sala e mandar meus filhos e futuros netos lerem! É isso mesmo, ninguém ( a maioria, entenda-se ) vota baseado nos valores morais e capacidade intelectual do candidato. O negócio é do jeito que o Puggina disse! Falta ao brasileiro qualquer idealismo ( no bom sentido ) para defender seus valores na política. No final tudo se resolve aos fatores econômicos. E TODOS só se movem quando dói no bolso. Triste, incomoda, mas é real.

Áureo Ramos de Souza -   26/03/2017 21:55:52

Sinceramente Percival eu fui um destes pois estava desempregado e era presidente da Associação dos Moradores da UR 4 em Ibura Recife e fui colocado na função de Diretor do dpto. de Emissão de Empenhos da Câmara dos Vereadores do Recife e lá o o político que me levou a este cargo (capacidade eu tinha e tenho )e como presidente da associação ele me arrumou empregos aos meus moradores e de uma só vez empreguei através deste político vinte (20) homens em uma empresa terceirizada de limpeza, depois mais cinco na Fusan, vaga em sua escola, e muitos outros empregos em empresas terceirizadas. Aí é o que eu digo que este negócio de a aprovação de Empresas Terceirizadas será um CAIXA DOIS indiretamente pois os políticos irão utilizar este meio. E tem outra, as próprias empresas exigem uma carta de político para poder empregar um encaminhamento. EU SOU A PROVA e me aposentei lá, que bom pra mim. PENSE NISSO

ELOHIM HENRIQUES SILVA -   26/03/2017 18:30:49

Os candidatos são os mesmos: esquerda. Qualquer opção concede a permanência das esquerdas no poder.

Vanderlino H Ramage -   26/03/2017 17:15:12

Apontar uma causa ou uma solução para o problema absolutamente verdadeiro, enfocada pelo combativo Puggina, demandaria um extenso e acalorado debate. A questão central, aliás este é o maior equívoco do comunismo, desconhecer a essência do ser humano, e o capitalismo por tabela também pisa em areia movediça. Ouso pensar que o modelo nascido com a Revolução francesa esgotou-se. Entretanto o que virá depois? A dita democracia nos moldes que se pratica no Brasil é uma farsa . A crise brasileira é sobretudo uma crise de valores. Não adianta culpar a Urna Eletrônica, entretanto a implantação do Parlamentarismo seria um caminho! Porque no Parlamentarismo o governo só sobrevive enquanto governa bem!

Antonio A d Avila -   26/03/2017 15:23:30

Discursos moralistas não levam a nada. Precisamos das REFORMAS e já. O nosso sistema de voto unipessoal nas eleições proporcionais é uma excrescência. Ele é responsável pelos nossos belos legislativos. O eleitor não é o culpado.

Percival Puggina -   26/03/2017 15:17:43

Tive uma longa experiência de vida partidária. Ao longo desses 25 anos não observei rejeição a candidaturas na formação das listas das legendas, exceto nos raros casos de excesso de pretendentes, o que foi se tornando incomum, e nos partidos intransigentemente doutrinários, por divergências com a orientação do partido. Mas foram episódios incomuns. Vi muito partido grande procurando candidatos (e principalmente candidatas) para preencher as listas. Insisto em que o maiores problemas são, de um lado os maus eleitores e de outro o modelo institucional como um todo (incluído aí, então, o sistema eleitoral, proporcional, não distrital). Reitero a admiração que tenho pelos meus leitores e comentaristas. Gente da melhor qualidade! Abraço a todos com muita estima.

Genaro Faria -   26/03/2017 10:36:46

Estimado professor Puggina, eu perguntaria: Quem prefere escolher entre desconhecidos a optar por candidatos dos quais possa ter, no mínimo, uma referência pessoal dada por amigos? Quem prefere ter como representantes pessoas distantes às quais não tenham acesso, em vez de deputados próximos que possam ser cobrados pessoalmente por sua atitudes? Então, por que ainda não se adotou o voto distrital? Porque ele reduz o poder dos caciques e a influência do poder econômico, na medida em que confere maior poder ao eleitor de conhecer e fiscalizar seu candidato. O voto distrital é melhor e mais barato.

Diabo de Seusoleos -   26/03/2017 04:52:28

Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a ele. Henry Ford. Num país onde o auge da politização é lembrar-se qual foi o número digitado na urna é conveniente colocar a culpa no eleitorado. Praticamente nenhum bom cidadão conseguiria candidatar-se por livre iniciativa, ele teria de filiar-se a um partido e passar por uma triagem espúria. Outro ponto da sinergia nefasta do sistema é o voto secreto do cidadão, pretenso bastião contra os abusos dos poderosos só serve para desarmar o eleitor frente ao eleito, pois, como bem se nota, o mesmo grupo político domina a anos os sítios do poder e, seus abusos tornam-se impuníveis sendo eleitos devido as leis que também pretensamente defendem o mandato dos políticos à investidas coronelistas e totalitárias! No final o voto secreto serve apenas aos grupos organizados, já que dentre a maré de candidatos aos cargos legislativos o diferencial de seleção fica em uma não tão significativa diferença de votos. Sendo assim apenas sindicatos, ongs, organizações comunitárias, etc..., tem o poder de eleger e de cobrar seus políticos e, na quase totalidade, esses grupos mobilizados, são formados e geridos por pessoas delegadas por políticos. Contudo colocar a culpa na massa eleitoral que trabalha 8 horas por dia, recebe uma baixa remuneração, fica mais 3 horas por dia em transporte casa/trabalho, assiste seu jornal/futebol/novela, se sente impotente a mudar sua situação ou sequer a percebe, é um tanto desonesto.

Marcos Tadeu Cosmo -   25/03/2017 23:25:28

Abraço seu texto, com uma ressalva : Os caciques donos dos partidos não permitem a renovação de candidatos fazendo dos partidos um clube exclusivo dos que rezam na mesma cartilha "esperta". Assim o votante com ou sem critério tem à sua disposição um elenco de omissos, mercenários e corruptos. Creio que esse degrau é pré requisito para que tenhamos votantes mais conscientes.

baptista celiberto -   25/03/2017 21:43:48

Puggina, Parabéns pela exposição de teu pensamento. "Pos é, pois é. Faltam-nos ESTADISTAS porque nos sobram votantes com péssimos critérios."

Paulo Onofre -   25/03/2017 20:52:44

Sr. Puggina. Minha dúvida é se os eleitores que, em massa, em 2016, mandaram para longe os candidatos de esquerda - especialmente do pt, repetirão esse mesmo procedimento em 2018. Será que aquela coça dada nos esquerdistas, em 2016, foi um ato isolado, uma revolta passageira? Ou será que o eleitorado brasileiro está mais atento e mais crítico, em relação a políticos demagogos e corruptos? E,mesmo que esteja mais consciente, o eleitorado disporá de candidatos honestos, íntegros e dedicados a trabalhar pelo Brasil? Espero que sim....

Lisia Suso -   25/03/2017 16:53:49

Pelo que converso com amigos, faz bastante tempo que não queremos nenhum dos candidatos apresentados. Simplesmente votamos no que desprezamos menos.

Odilon Rocha -   25/03/2017 16:47:33

Caro Professor Faço coro com o comentarista Luiz Otávio. Só não toquei mais no assunto porque há muito já havia me referido ao mesmo e não quis insistir. Enquanto a apuração eleitoral continuar sendo por meio eletrônico ficaremos refém de provável fraude. Nunca saberemos a verdade. Meu filho trabalha nessa área e tudo é possível. Até mesmo o voto impresso, tendo um voto paralelo via sistema com o resultado diferente daquele . Mas,...parece que o povo que vai às ruas esqueceu. Fazer o quê?

Nelson Azambua -   25/03/2017 15:57:28

Com frequência cada vez maior, me volta sempre à lembrança a famosa "Oração aos Moços" do nosso querido Rui Barbosa ... Um grande abraço aos que se lembram do que devem buscar ao escolher um candidato.

Afonso Pires Faria -   25/03/2017 15:56:23

Pois eu, mesmo me considerando muito esclarecido já fiz isto. Votei o Aécio Neves, não nele, mas contra a Dilma. Ou seja, votei no PSDB. Aquém quer atitude mais odienta do que esta?

Geremias -   25/03/2017 14:48:27

Puggina, o que o senhor pensa sobre a Reforma da Previdência?

Renato -   25/03/2017 12:40:09

Por favor, inclua no deu comentário, muito bem escrito aliás, que quem organiza a lista de candidatos são os dirigentes de partidos, perfeitamente descritos no texto, e quem escolhe procura seus iguais. Meus cumprimentos.

Rossini -   25/03/2017 01:45:19

Exato! Assino em baixo, palavra por palavra.

Carlos Edison Fernandes Domingues -   25/03/2017 01:03:01

PUGGINA ! Meus parabens pelo que escreveste. Esta é uma luta que me faz empunhar a arma do título de eleitor por mais de sessenta anos. Sempre na pregação do parlamentarismo. Talvez seja um dos motivos pelos quais defendo o voto na legenda . Na atualidade passo a duvidar da minha fé, em decorrência da imoralidade, somada ao desespero pela sobrevivência, daqueles que defendem o voto na legenda. Saudações Carlos Edison Domingues

Ismael de Oliveira Façanha -   25/03/2017 01:02:41

Os eleitores brasileiros são como os filhos das gatas, onde cada um tem um pai diferente, pois são descombinantes, criaturas de culturas diversas, são incapazes da irmanação cívica do pobre com o rico, do nordestino com o sulista; a fusão das correntes todas num ideal comum, é trabalho para um moisés brasileiro, para um novo getúlio, quem sabe.

luiz otávio carvalho volpe -   25/03/2017 00:43:08

Mas com a manutenção das urnas eletronicas, a ORCRIM se reelgerá de qualquer jeito!