• El País
  • 01/01/2009
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A REINVEN?O CHAVISTA DA AGONIA E MORTE DE BOL?AR

Maite Rico Em Madri 3 12 horas come? o ronco e ?ma expirou o excelent?imo senhor Libertador. Em 17 de dezembro de 1830, o doutor Pr?ro R?rend encerrou o di?o em que anotava a agonia de Sim?ol?r em uma fazenda em Santa Marta, no Caribe colombiano. O her?a independ?ia americana havia chegado ali 11 dias antes. Despojado do poder, escoltado por um punhado de fi?, queria se refugiar na Europa. Mas quando o desembarcaram em Santa Marta era uma criatura de pavor, com apenas um sopro de vida, nas palavras de Joaqu?de Mier, seu anfitri? Tossia e cuspia sangue. Delirava. Morreu de tuberculose, anotou o m?co. ?o que reza a hist?. Ou rezava, at?ue Hugo Ch?z expressou h?m ano suas suspeitas de que Bol?r tinha sido assassinado por inimigos que, segundo alguns suspeitosos, coincidem com os dele pr?o: uma trama na qual se enredam as oligarquias, os EUA, a Col?a e at? Espanha. Uma comiss?criada pelo presidente da Venezuela investiga a morte do Libertador, a qual na quinta-feira completa 178 anos. Entre os planos n?se descarta exumar o cad?r, depositado desde 1876 no Pante?Nacional de Caracas. N?h?ossibilidade, do ponto de vista cient?co, de sustentar a hip?e de crime, afirma o historiador venezuelano El? Pino, autoridade em estudos bolivarianos. O desafortunado hist?o cl?co do Libertador ficou registrado em diversos documentos, come?do pela aut?a praticada por Pr?ro R?rend. O m?co franc?descreve um endurecimento dos pulm? com um manancial aberto de cor das fezes de vinho, jaspeado por alguns tub?ulos. No esquerdo encontra uma concre? calc?a angulosa do tamanho de uma avel? Segundo estudos atuais, esse n?o calcificado, conservado no Museu Bolivariano de Caracas, indicaria que Bol?r contraiu na inf?ia a tuberculose que matou seus pais, que se reativou depois em v?os epis?s documentados. Dois anos antes da morte, sua decad?ia f?ca era evidente. Tinha ent?45 anos, acabara com o dom?o espanhol nas atuais Venezuela, Col?a, Panam?Equador, Bol?a e Peru, impusera uma ditadura e enfrentava rebeli?internas que o colocariam no rumo do ex?o. A causa da morte de Bol?r ?ma tuberculose pulmonar com comprometimento do sistema nervoso central, indicam os neurologistas colombianos Ignacio Vergara e Gabriel Toro, autores de um estudo da hist? m?ca de Bol?r. mesma conclus?chegou em 1963 uma comiss?de especialistas da Sociedade Venezuelana de Hist? da Medicina e da Academia de Hist?. Fal?as, afirma Jorge Mier. E alega mais de dois mil documentos que lhe entregou um parente seu, tataraneto de dom Joaqu? o anfitri?de Bol?r em sua ?ma morada. O Libertador, diz Mier, foi tra? por seus colaboradores e ele mesmo deixou as pistas de seu assassinato. Onde? Em uma carta (ap?fa) a uma amante de sua juventude na Fran? na qual usou chaves ma?icas ocultas para indicar seus assassinos. Mier p?decifr?as gra? a um c?o de sinais secretos que dom Joaqu?de Mier possu? Na conspira? est?envolvidos o presidente dos EUA Andrew Jackson, o rei da Espanha Fernando VII e a corte da Inglaterra. Os EUA tamb?s?o eixo da conjura? criminosa descrita por Luis Salazar, outro partid?o da teoria da conspira?. Bol?r, segundo ele, foi envenenado com ars?co por suas aspira?s de um governo continental socialista de proje?s gigantescas. O caudilho seria o protom?ir da luta contra o capitalismo. Em seu programa Al?residente, Ch?z falou v?as vezes na Carta que Mudar? Hist?, o livro de Jorge Mier, ao qual nomeou assessor da comiss?de investiga?, integrada por v?os ministros e o promotor geral. Acabamos de entregar sete amostras de cabelos de Sim?ol?r, guardadas por parentes e colecionadores, para descobrir seu DNA, explica Mier. Isso permitir?otej?o com o do cad?r que jaz no Pante?Nacional e que, segundo o escritor, n?? de Bol?r. E onde est? corpo? N?posso dizer porque ? tema de meu pr?o livro. Escandalizados, os historiadores se negam a polemizar com aventureiros extravagantes. Em todo caso, por que n?aproveitar os avan? cient?cos para exumar o cad?r e estud?o? Porque n?h?ma s?vida razo?l que justifique essa opera?, diz In?Quintero, secret?a da Academia Nacional de Hist?. Ch?z pretende usar a figura de Bol?r para semear a disc?a com os vizinhos, acrescenta, referindo-se ?complexas rela?s com o governo colombiano. Se voc?em a inten? de abrir um debate s?o, cria uma comiss?hist?o-cient?ca binacional, e n?monta uma pesquisa jur?ca em busca de um culpado. O que v?investigar? Se n?resolvem nem os crimes atuais! Ch?z, segundo seus detratores, pretende reescrever a hist? venezuelana para adequ?a a seu projeto pol?co. Nosso objetivo ?emocratizar a mem? coletiva nacional, responde Pedro Calzadilla, diretor do rec?criado Centro Nacional de Hist?. Queremos privilegiar a perspectiva dos exclu?s, negros, ?ios, mulheres, pobres, contra a historiografia tradicional, feita ?magem e semelhan?dos setores poderosos. Calzadilla nega que o governo pretenda impor uma leitura concreta. Mas a maioria dos membros da centen?a Academia de Hist? v? com preocupa? o processo de reinven? de Bol?r, que dilui suas origens europ?s e caricaturiza sua complexidade. El? Pino descreve o Libertador como um aristocrata em tr?ito para o Estado moderno, um paradigma do despotismo ilustrado, temeroso da pardocracia [o poder dos mulatos, ?ios e negros] e admirador do mundo anglo-sax? Pino combate o culto a Bol?r promovido pelos governantes venezuelanos, e que o atual presidente levou a alturas inusitadas. Ch?z quer transformar um homem do s?lo 19 em ide?o do socialismo do s?lo 21, lamenta In?Quintero. Por isso precisa reescrever sua origem e fechar o c?ulo com a reescritura de sua morte. Tradu?: Luiz Roberto Mendes Gon?ves