A RECA?A DO ITAMARATY EM GAZA - Folha
A iniciativa brasileira de enviar o chanceler Celso Amorim ao Oriente M?o para tentar contribuir na busca de uma solu? pac?ca para o conflito palestino-israelense merece apoio pelo nobre objetivo manifesto.
Mas a posi? brasileira at?qui em nada indica essa busca de equil?io, muito pelo contr?o, o que reduz nossa capacidade de obter voz de fato relevante na busca da paz.
A come? pela postura brasileira no not? Conselho de Direitos Humanos da ONU, dominado por ditaduras africanas e ?bes, basti?de um anti-sionismo obsessivo enquanto ignora ou apazigua ditaduras brutais ao redor do planeta, um constrangimento para a pr?a ONU.
O Brasil votou nesta segunda-feira a favor de uma proposta condenando de forma veemente Israel pela lament?l morte de civis em sua guerra contra o grupo terrorista palestino Hamas. Os pa?s da Uni?Europeia, Jap?e Coreia do Sul se abstiveram, e o Canad?votou contra o projeto, sancionado por 33 votos a favor, 13 absten?s e um voto contr?o.
Mas, no mesmo conselho, o Brasil tomou uma posi? bastante diferente em rela? ao Sud? num claro sinal de dois pesos, duas medidas, j?isto tamb?na toler?ia brasileira com os abusos dos direitos humanos em Cuba e na China, entre outros.
Desde 2004 os rebeldes da regi?de Darfur, no oeste sudan? s?massacrados por tropas de Cartum e seus aliados, a mil?a ?be local (os janjaweed). A conta de mortos chega a 200 mil, repito, 200 mil, al?de cerca de 2 milh?de refugiados que relatam massacres e estupros em massa.
Pois o Brasil manteve uma posi? de toler?ia com o governo sudan?que contraria a defesa do desequil?io feita agora pelo Itamaraty em rela? a Israel.
Em dezembro de 2006, por exemplo, o Brasil se absteve de uma vota? no mesmo conselho de direitos humanos da ONU que pedia a?s mais duras contra a lideran?sudanesa, derrotada por 22 votos a 20. O que levou a Humans Right Watch a criticar Bras?a: A recusa do Brasil em apoiar uma forte resposta da ONU ?atrocidades em Darfur foi um ato de insensibilidade e indiferen? disse ent?o diretor da HRW para a Am?ca Latina, Jos?iguel Vivanco.
Na ?ca, o Itamaraty justificou seu vergonhoso ato como forma de buscar um consenso eficaz sobre Darfur, o que at?oje n?ocorreu, com a mis?a e a morte t?presentes na regi?quanto em 2006.
J?este ?mo e triste cap?lo da luta entre Israel e palestinos, as declara?s do chanceler Amorim e daquela sombra sobre a pol?ca externa brasileira, o assessor presidencial Marco Aur?o Garcia, est?muito longe da busca do tal consenso eficaz.
Amorim, por exemplo, ao negar que a Chancelaria brasileira estivesse apoiando s? palestinos no conflito, ressalvou: Hoje, n?emos uma posi? muito equilibrada. S?e, quando h?ma a? desequilibrada, voc??pode nos exigir uma posi? equilibrada. Est?an?a a nova doutrina do desequil?io!
O dinossauro Marco Aur?o, cuja lista de gafes e equ?cos daria uma Wikip?a pr?a, foi ainda mais longe, chamando as a?s de Israel de terrorismo de Estado.
E o PT de Lula e Marco Aur?o foi ainda mais longe do longe ao chamar a a? israelense contra os foguetes disparados pelo Hamas contra seu territ? de uma pr?ca t?ca do Ex?ito nazista (se eu fosse petista como a Clara Ant, rasgaria minha filia?).
Na semana passada, o ministro iraniano Mohammad Abbasi esteve em Bras?a, onde se reuniu com o indefect?l Marco Aur?o (nova entrada para sua Wikip?a pessoal). Saiu dizendo que posi?s em comum entre Brasil e Ir?evem impulsionar uma uni?entre os dois pa?s para o cumprimento de metas em rela? ao conflito em Gaza e Israel.
Importante lembrar que o Ir?rma e instiga o Hamas a lan? sua guerra suicida contra Israel e ?residido por Mahmoud Ahmedinejad, aquele que defende literalmente varrer Israel do mapa e busca ativamente, com pouca resist?ia global e nenhuma do Brasil, obter uma bomba at?a.
Importante tamb?lembrar que o Brasil j?onvidou Ahmedinejad, p?a em v?as capitais do Ocidente e aliado ?imo de l?res autorit?os como Hugo Ch?z e Robert Mugabe, a visitar o pa?neste ano.
Que o Brasil busque o di?go com a maior gama poss?l de lideran? para impulsionar o entendimento global parece objetivo louv?l de nossa diplomacia. Mas vamos abortar logo a doutrina do desequil?io de Amorim e seu humanismo seletivo para que nossa pol?ca externa n?se torne mera apaziguadora de ditadores belicosos em troca de contratos lucrativos ou mero eco de ideologias ultrapassadas, como o terceiro-mundismo e o esquerdismo prim?o e manique?a.
O hist?o do Itamaraty tem algumas manchas de arrepiar os que se preocupam agora com um equil?io m?mo da posi? brasileira diante de Israel e dos judeus, entre elas:
1 - O voto em 1975 (ditadura Geisel) a favor da mo? da Assembleia Geral da ONU afirmando que o sionismo ?acismo (depois derrubado, com o arrependido voto brasileiro, em 1991).
2 - As pol?cas discriminat?s antijudaicas da Chancelaria brasileira durante a era Vargas muito bem retratadas pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro no cl?ico O Anti-semitismo na Era Vargas.
Que Lula e Amorim nos livrem desse triste caminho unilateral e preconceituoso e encontrem de fato formas de aproximar israelenses e palestinos da paz. Ser?uito bom para a regi?e para a nossa pol?ca externa.
* Editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a pa?s como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, A rvore (1986) e Car? Inferno (1987). Escreve para a Folha Online ?quintas.
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