• Percival Puggina
  • 11/12/2023
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A pretensiosa e totalitária Lei Geral dos Povos

 

 

Percival Puggina

        Hoje de manhã, chegou-me um vídeo desses rapidinhos que têm uma infinidade de nomes. Plic-ploc ou algo assim. Nele, bailarina seminua rasga uma Bíblia em requebros supostamente eróticos. Admitamos ou não, trata-se de uma performance com intuito cultural, vale dizer, esteticamente não vale o furo de um tostão furado, mas a ação da moça opera no campo da cultura. A sucessão e a repetição levam à habitualidade, a moça passa a ser aplaudida e é a Bíblia que causa constrangimento...

Foi longa a discussão dos intelectuais de esquerda sobre como superar a cultura e a tradição religiosa cristã do Ocidente. O caminho encontrado consistiu em abandonar a luta de classes e mobilizar os descontentes articulando os supostamente excluídos e oprimidos.

Essa estratégia invadiu a própria estrutura da Igreja mediante a Teologia da Libertação (TL). No momento em que substituíram o pobre do Evangelho pelo excluído da TL ou pelo oprimido de Paulo Freire, proporcionaram aquilo que Fidel reconheceu como o mais inestimável serviço à revolução (palavras do ditador cubano transcritas por Frei Betto, muito orgulhoso delas, em “O paraíso perdido”).

As utopias políticas são muito sedutoras. Só eu sei o quanto escrevi e falei denunciando os perigos da TL no ambiente católico e na sociedade. Ganhei inimigos. E dormi em paz. “Diversidade na pluralidade!”, diziam-me. Sim, claro, contanto que eu não falasse e não escrevesse. Quanta celeuma causei por criticar uma tal “utopia cristã”!

No entanto, se tudo fosse uma questão de sistema, Cristo teria proposto um, em vez de perder seu tempo propondo-se a si mesmo, do modo como o fez.

A política, lembremos sempre, acontece num ambiente cultural onde estão fixados os elementos simbólicos através dos quais os indivíduos, majoritariamente, respondem de modo instintivo, emocional e racional aos estímulos que sobre eles incidem. Ciente disso, a Igreja não pode ceder um milímetro em seu papel no mundo da Cultura. Que lhe tomem à força; mas que não ceda nem conceda.

Há algo profundamente corrosivo e corruptor no arcabouço cultural do globalismo, da Nova Ordem Mundial e dessa coisa totalitária que chamo Lei Geral dos Povos. Refiro-me à negação categórica de todo absoluto. O motivo é simples: é preciso que esse poder central cultural e político unificado seja absolutizado, negue a Deus, extirpe o fundamento das religiões e as vinculantes que exercem sobre as sociedades.

O catolicismo, ao qual caberia o papel de principal antagonista desse propósito, tornou-se o mais vulnerável porque os católicos já aceitaram o relativismo como parte de suas vidas. O católico médio se tornou um relativista. Por isso, ouço: “Os dez mandamentos, a Lei de Deus, são do tempo de Jesus, Maria e José. Está claro que hoje não servem mais”. 

Sempre vale lembrar as palavras de São Paulo aos Gálatas comunicando que “quando chegou a plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho, nascido de mulher e nascido, também, sob a autoridade da Lei para resgatar os subjugados pela Lei a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 


Heymann Antonio Ribeiro Leite -   18/12/2023 12:24:29

A famigerada reforma cultural para destruir a Democracia só teve sucesso por utilizar os instrumentos democráticos para promover sua destruição.

Paulo Antônio Tïetê da Silva -   17/12/2023 12:25:03

O maior problema é que o atual Papa, além de ser comunista, para piorar, é ARGENTINO. Para rir um pouquinho e esquecer tanatas tristezas. Agora, falando sério, uma grande curiosidade: Por que será que o Papa Francisco nunca visitou seu País de origem? Será que quer evitar encontrar alguém?

marisa van de putte -   13/12/2023 12:57:58

Lembro bem dos anos 80. A Teologia da Libertacao era tida como um movimento perigoso para a Igreja Catolica. O Papa Joao Paulo II tentou reprimi-la. A escolha do Joseph Ratzinger para ser o novo Papa, tinha como intencao evitar que a TL se concretizasse, porem o inusitado aconteceu, ele renunciou perante o "poder do mal," e o Papa argentino assumiu o cargo. Ficamos perdidos na poeira, a merce de sabe-se la quem ...

Frederico Hagel -   13/12/2023 09:45:58

Excelente, didática e certeira.

Gerson Carvalho Novaes -   13/12/2023 08:49:34

Brasil, o país da infâmia absoluta…

Menelau Santos -   12/12/2023 23:12:20

Pois é, Professor. O Decálogo parece que ficou anacrônico. Old fashway. Ficou obsoleto como um celular de 2 anos. Hoje temos (sem jabá) Jordan Peterson e suas 12 regras para a vida, Augusto Cury e sua 10 regras de ouro, um pouco mais antigo, mas nem menos moderno temos os 7 hábitos eficazes de Stephen Covey. Tem muita coisa boa ai no mercado. O Criador deveria ter feito um update das tábuas de Moisés pra não ficar pra tras. Infelizmente, foi engolido pelo "progresso". Castidade??? Não dá, né?