• Percival Puggina
  • 24/02/2022
  • Compartilhe:

A PANDEMIA E OS POLÍTICOS

 

Percival Puggina

 

O "FENÔMENO" MANDETTA

         Tudo começou com Luiz Henrique Mandetta. No início da pandemia, o então ministro da Saúde mudou-se do gabinete de trabalho para o auditório do ministério. Diante dos holofotes, das câmeras, dos flashes e dos microfones estava ele em seu melhor ambiente. Ali, diga-se de passagem, tinha um desempenho brilhante. A nação, temerosa, lhe rendia apreço e confiança. Sabe-se, hoje, que mais desorientou do que orientou, mas fez isso com maestria. Sua suposta ciência e muito jeito convenciam qualquer sujeito. Apesar de tão mal no que era importante, foi tão bem no supérfluo que saiu do ministério e entrou na lista dos presidenciáveis de 2022.

OS APRENDIZES

         A dita classe política assistia cada apresentação de Mandetta com olhos e ouvidos de aprendiz. Rapidamente, a moda pegou. Por todos os rincões do país, onde houvesse imprensa, o modelo de aproveitamento político da pandemia se foi reproduzindo e, com igual velocidade, a autoridade se desdobrou em autoritarismo. Seu mais esforçado aluno foi João Dória.

PANDEMIA, VACINA E "PAU NO BOLSONARO": JOÃO DÓRIA

O governador de São Paulo percebeu o lugar vago, tomou para seu Butantã a pauta da vacina e rompeu com Bolsonaro. As abelhas do jornalismo brasileiro voaram em enxame para a nova colmeia onde se concentrava o mel de seus noticiários: pandemia, vacina e “pau no Bolsonaro”. João Dória se vislumbrou como futuro presidente.  

BOLSONARO E A ANIMOSIDADE COLIGADA

“E o Bolsonaro?”, perguntará o leitor. Pois é, o presidente, sabe-se hoje, estava certo em quase tudo, mas a animosidade estudada e coligada contra ele concentrou-se em alguns erros menores para lhe causar todo dano político possível. O inteiro pacote de factoides da CPI da Covid, ao virar vento e ir para a camada de ozônio, faz prova disso. Se há algo de que acusá-lo é de não ter buscado tirar repugnante proveito eleitoral da crise sanitária. Manteve e mantém uma retórica teimosa que o prejudicou, mas fez o que tinha que ser feito, forneceu o que tinha que ser fornecido (o Brasil é o 4º país que mais vacinas aplicou) e socorreu as vítimas que os vírus paralelos do “fique em casa” e do “fecha tudo” geraram aos milhões pelo país.

RESUMO E CONCLUSÃO

Mandetta virou presidenciável em abril de 2020, caiu no esquecimento em 2021, tentou voltar ao palco, mas acabou sumindo da lista, por desinteresse dos eleitores.

O senador José Aníbal, tucano bom de bico, ex-presidente do PSDB, praticamente esfarelou ontem as pretensões eleitorais do saracoteante governador paulista. Numa sucessão de entrevistas, disse que se Dória tivesse um mínimo de bom senso retiraria sua candidatura porque o pré-candidato tucano só tem números grandes em listas que medem rejeição... Acrescentou que o eleitor percebeu o uso político do palco para atacar o presidente e tirar proveito eleitoral da pandemia e estava, por tudo isso. perdendo credibilidade. São palavras de um derrotado por Dória nas prévias tucanas, mas tudo que ele diz corresponde aos fatos.

Conclusão, também no âmbito da política, a pandemia só fez estragos. Até mesmo para quem, como Bolsonaro, defendeu a liberdade, o direito ao trabalho, ficou rouco e somou inimigos advertindo para a tempestade perfeita que adviria das medidas em execução por estados e municípios (hoje até a OMS admite o erro), já disponibilizou 350 milhões de vacinas e distribuiu centenas de bilhões de reais em auxílios às famílias necessitadas.  

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Teresa Camisão -   01/03/2022 15:32:01

Perfeita explicação!!!!

julio c. costa da silva -   28/02/2022 22:18:43

parabéns pela lucidez de pensamento

Jose Luiz De Sanctis -   28/02/2022 11:13:58

Meus cumprimentos pelo ótimo artigo.

Décio Antônio Damin -   28/02/2022 10:41:43

Puggina, apesar de eu não ser fã do Mandetta, acho que na época em que foi Ministro da Saúde ele repetia como conselho aquilo que era ditado pelas autoridades médicas nacionais e internacionais, uma vez que a vacina ainda não estava disponível (higiene das mãos, uso de ´mascaras e distanciamento social)! Ele ousava discordar do epidemiologista Bolsonaro que dizia que a Covid nada mais era do que uma "gripezinha" e que logo a tal "imunidade de rebanho acabaria com ela...!, e que atletas como ele não precisavam se preocupar e que, além do mais, o tratamento precoce com hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, zinco,...e etc. funcionava às mil maravilhas! Acho que o Mandetta se projetou usando o que a "ciência" oferecia naqueles dias mas ele não estava errado quanto às atitudes que recomendava. Não cabe discutirmos paixões políticas e pseudo verdades que só sevem para afastar e inimizar pessoas que deveriam discordar sem radicalizar. Mandetta, eu acho, sequer será candidato...pois não vejo nele qualquer perspectiva de vitória!!

Alcemar de Godoi -   28/02/2022 09:10:31

Parabéns pela excelente análise. Disse tudo em poucas palavras

marcos -   28/02/2022 08:46:51

#Zergui Pfleger, acredito, colocou com notória sabedoria uma real análise do que pensam todos os brasileiros, crédulos que somente o certo é o caminho mais curto - apesar de ser o mais árduo - "Brasileiros da Silva Nonatos", do Oiapoque ao Chuí. Continuo rendendo minhas homenagens ao mestre Puggina por mais uma sensacional aula.

Zergui Pfleger -   26/02/2022 08:13:44

As luzes dos holofotes atraem as mariposas, algumas delas mostrando-se deslumbradas com a claridade. Há espécies simplórias, com reduzido ciclo de vida, mensurado em algumas semanas. Outras acabam repetindo com maior frequência as etapas desse ciclo, prolongando assim o tempo de sua existência, de aproximadamente um ano. Poderíamos, me parece, aplicar esse tipo de inseto como uma analogia entre as citadas "figuras brilhantes". A primeira, transbordando de vaidade por tornar-se o centro da atenção midiática, não resistiu a tais encantos, olvidando de suas responsabilidades, vendo seu castelinho construído com areia ruir sob a ação da primeira onda. O segundo, acostumado às lides do marketing, conseguiu ampliar a permanência dos fachos de luz, esvoaçando alvoroçado e ruidoso para chamar a atenção sobre si. De nada adianta essas personalidades inócuas utilizarem tais subterfúgios, pois temos, novamente, a possibilidade e a benção divina de continuarmos a ser amparados por um indivíduo espontâneo, cívico, inteligente, honesto, autêntico, dentre vários outros atributos positivos, para conduzir os rumos de nosso País. E esse não precisa de holofotes, pois tem uma resplandecente luz própria, que remove as trevas por onde passa.

Menelau Santos -   24/02/2022 23:33:32

Tá aí o resumo da ópera dos malandros. Na mosca Professor. E, na mosca também, Bolsonaro 2022.

Rosângela -   24/02/2022 14:03:38

Brilhante análise. É por essas e outras atitudes e condutas do Governo Federal, aqui relacionadas, que sigo Acreditando no Brasil. ????????????????????????